ESPOSENDE E O SEU CONCELHO


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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

por Carlos Barros

Calcorreando os corredores da “história”… 

     Terminado o Curso na Escola Normal do Porto (Antigo Magistério Primário)  o nosso amigo Lima, recém formado, esperava pela colocação e, quem tivesse obtido uma boa nota-Classificação/habilitação-, o trabalho estaria mais acessível, provavelmente numa Escola nos “confins do mundo”, onde a “civilização estaria adormecida” ou teimava em hibernar…

  O Lima, já professor encartado/diplomado, foi tomar o seu pingo ao café Nélia servido pelo simpático e sempre sorridente, João “Tamanqueiro” ou pelo Benajamim “Come croas”. O verão estava na despedida e, inopinadamente,  à entrada deste estabelecimento, apareceu a sua mãe Jandirinha com uma carta na mão, bem apertadinha. Era o pronúncio de uma novidade- trabalho- , missiva há muito tempo esperada…

Ainda se podia frequentar os cafés  com os amigos e não se augurava , na altura,  o terrível surto epidémico  actual  e o COVID 19 morava nos sonhos dos homens.

  O Lima, muito expectante, abriu o envelope e pensou logo que devia ser a sua colocação numa Escola, um primeiro passo para o “mundo do trabalho”, como docente e não se enganou…

Dentro do sobrescrito, estava um Alvará, já com o destino marcado: Escola de Asnela, freguesia de Riodouro, Cabeceiras de Basto….O dia vinte e cinco de outubro de 1979 marca o princípio de uma aventura em terras de Cabeceiras de Basto, numa das “aldeias” da freguesia de Riodouro, umas das maiores do País, em termos de área …

  Por força do destino, o professor Abreu, grande amigo do Lima, também foi colocado nessa mesma Escola e ainda bem, porque reencontrou-se uma dupla de amigos de infância, clientes assíduos de aventuras da ribeira e do rio Cávado.

 O senhor Pilar, um “velho e solidário” amigo do Lima, com o seu largo chapéu, homem de espírito extremamente bondoso, deu boleia no seu Austin, a esta “dupla”, e lá foram com destino a Asnela , percorrendo a estrada das “seiscentas curvas” da Póvoa de Lanhoso... Asnela, tinha um acesso difícil, um caminho ou melhor, uma espécie de “estrada paleolítica” esburacada, lamacenta e bastante estreita. Fez-me relembrar, as picadas e os estradões da Guiné mas, sem capim e sem minas…

  Após a visita à Escola de Asnela os dois professores neófitos, ficaram instalados na vila de Cabeceiras de Basto, na Pensão Vilela onde pernoitaram, um pouco desanimados com as péssimas condições de alojamento e trabalho que presenciaram.

  No dia seguinte, o Lima  foi ver a Escola Primária e ficou absorto e estupefacto ao olhar para aquele “edifício” que parecia arrasado por uma bom “napalm” com o telhado  caído,  traves podres, entrava água por todos os lados, a porta tinha  um  ferrolho bloqueado e a fechadura estava enferrujada até à medula…  Os dossiers dos alunos encontravam-se espalhados pelo chão e pelas carteiras repletas de caruncho e os bancos chiavam como “ratos” enraivecidos…Para ter acesso à “escola,  existiam dois degraus , “ornamentados” com musgo, com garantia de queda…

sábado, 28 de dezembro de 2019

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR


CANTINHO DOS LOBOS DO MAR
por Carlos Barros 
Bibliotecas itinerantes:
Estavamos num verão pujante, ano de 1966, o ”rei-sol” espraiava, com o estendal dos seus raios e o seu sublime  calor, o Largo dos Peixinhos, com a estátua do pintor Henrique Medina, com os seus estáticos lhos,  a observar, as crianças, vindas da ribeira,  saltavam os canteiros dos amores-perfeitos que deslumbravam este  espaço  ensaibrado, palco de  imensas e infinitas brincadeiras: pião, corda, mata-mata, “ladrões”, bilharda, “escondidinhas”, “às Nações”, ao botão, ao arco  acionado por uma gancheta…
 Todas esperavam pela carrinha da Biblioteca Caloust Gulbenkian para requisitar uns livros, de preferência de “covoiada”-Farwest- ou de Aventuras e, na espera, alguns ousados, pegavam num fósforo apagado e desvaziavam os pneus das camionetes do Linhares, estacionadas  no Largo dos Peixinhos, junto à Misericórdia.

domingo, 17 de novembro de 2019

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

por Carlos Barros

O Magusto Social:
No ano de 1976, no espírito empreendedor e dinâmico de alguns esposendenses,  foi fundado o N.D.C.P.-Núcleo Desportivo e Cultural “Os Pioneiros” que se manteve em actividade durante quase  cinco  anos,  treinando, num terreno, em frente  do Bairro Social, ao sol , à chuva, ao nevoeiro e à nortada, sempre numa  intrínseca dedicação ao desporto.
Os esposendenses Hercílio Campos e Manuel Maria Ferreira, mais tarde, entraram para o Núcleo Carlos Barros e José Pilar, foram os fundadores deste Grupo Desportivo que estava imbuído de um grande  eclectismo: futebol, basquetebol, andebol, voleibol badminton, ténis de mesa, atletismo e lançamento de peso, salto em altura e comprimento.
Na sede, antiga Casa do Povo de Esposende,  praticava-se  ténis de mesa, damas, xadrez onde existia uma mini-biblioteca com livros  sobre a prática desportiva.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

 por Carlos Barros


As peixeiras de Esposende!
A roda do tempo, sempre em andamento ritmado, nem sempre constante, estacionou momentaneamente, nas décadas de sessenta e setenta, revivendo as peixeiras de Esposende, essas mulheres  heroínas  que trabalhavam estoicamente, vendendo o peixe nas suas gamelas, pelas portas, com os “pregões” a serem disparados das suas  gargantas ressequidas, em todas as direções.
As coloridas  rodilhas gastas pelo tempo, são testemunhas disso mesmo…
Algumas delas, autênticas maratonistas,  percorriam quilómetros infindos, até Gandra, Palmeira, Perelhal, Curvos, Forjães, Barcelos até à “longínqua  cidade de Braga.
Peixeiras como a Angelina Eiras, Antónia da Rodilha, A. Doninha, Silvana, Maria Pelada, Tina da Solha, Isabel Caveira, Maria da Batata, Inocência, Antónia e Dina da Galga, Inocência, Amélia Pichela, Maria Olívia, Tia Dores, Graça da Pequenina e tantas outras , “amigas do asfalto e das calçadas” do nosso concelho de Esposende, lutavam pela vida amealhando uns “tostões” para alimentar as suas  numerosas famílias.

sábado, 2 de março de 2019

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

 por Carlos Barros 

Uma sande especial…

Esposende espreguiçava-se e deleitava-se no seu leito, um grande ”lençol de água”, adocicado com o aroma do Cávado, cobria-lhe o seu corpo e com a aproximação da tardinha, sombria e invernosa, os esposendenses desfrutavam-se com uma sã e sempre agitada convivência.  
Na Havaneza, café  popular,  juntavam-se os amigos, preparando-se para as “partidas” onde o humor estava sempre presente. O café  Primorosa, era um espaço  mais frequentado pela “Velha–Guarda”  comercial e intelectual dessa época, onde se discutiam os negócios, o futebol,  enquanto que alguns –Abílio Coutinho, Álvaro do Talho, João “Calhandra”…- ”aqueciam” as pedras dos dominós” para  umas renhidas partidas onde o silêncio era proibido!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR


CANTINHO DOS LOBOS DO MAR
por Carlos Barros

Um Carnaval,  com  “Vuelta” em Esposende…
  O ano de 1967, transpirava de folia porque estávamos no Carnaval, a Ribeira estava pujante,  toda aperaltada, com muitas pessoas à espera pela  passagem dos ciclistas, ao longo da marginal , com o piso ainda poeirento e um pouco empedrado. Não havia desfiles tradicionais de Carnaval, mas, iria haver, um outro acontecimento, uma acalorada e competitiva corrida de bicicletas, à volta da então “Vila de S. Sebastião”…
  Alguns dias antes, no Largo Rodrigues Sampaio, num piso empoeirado e ensaibrado, tinha decorrido uma disputada corrida de galgos atrás de uma lebre, accionada por um sistema mecânico, com os galgos do Jaime do talho, a Corsa, de cor cinzenta, e o Coral, de pelo amarelo torrado, a darem algum festival aos galgos concorrentes, vindos do Distrito de Braga. O Jorge, o Chico “Dólar”, e o Lano apoiavam os seus galgos saltando de contentamento com a sua exibição, com o Toninho Losa, trincando um rebuçado “peitoral”, a teorizar sobre a psicologia dos caninos, explanando alguns conhecimentos de física mecânica,-roldanas…- ensinada pelo Dr. Alceu Vinhas, professor do Colégio/Externato Infante Sagres…

quinta-feira, 21 de junho de 2018

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR. Por Carlos Barros

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR.

Por Carlos Barros

Os cigarros misteriosos…

O Romão era um velho conhecido, pelos professores na Escola Primária de Esposende pelas suas mirabolantes matreirices mas, estava sempre pronto a fazer recados e nisso era artista em cumpri-los, nem sempre à risca!...
Na sala do professor Carlos M., na segunda classe, o Romão  rezava por um recado e  para ele, a Escola era martírio faltava-lhe a ribeira para  as suas incursões beligerantes, e de repente “acordou” porque o professor chamou- o para ir comprar um maço de tabaco CAMEL, à Nélia. A sua pulsação alterou-se e, muito educadamente, o Romão levantou-se da carteira, piscou o olho ao Zé Pompeu e pegou, com aspecto lânguido,  nas cinco croas que o professor lhe deu para comprar os referidos cigarros.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR


Por Carlos Barros

O corvo Vicente….

O  “relógio do  tempo” calcorreava  o “tapete” da década de sessenta e por Esposende, reinava a serenidade, pouco efusiva, das suas gentes que labutava na terra, no rio e no mar pugnando pelo sustento das suas  numerosas famílias.
O mês de maio, apareceu nas entranhas do território esposendense com todo o se esplendor de vida, acordado pelos insistentes “piares” das gaivotas e da beleza das poupas que passeavam pelos campos, com as lavandiscas, patrulhando as ruas, à procura de insectos e da mosquetada sempre presente…
A rua Direita, naturalmente sempre torta, era o plasma do movimento  que se verificava na vila com um inerte  comércio e uma insípida agricultura que nadava na sobrevivência dos agricultores.
Na casa da Miquinhas da Faustina, sita na rua Direita, prolongando-se o seu quintal pela travessa do Sr. dos Aflitos, a criançada visitava, à sucapa, os belos pavões que  deleitavam a sua vaidade, nos altos muros da casa, com as pachorrentas galinhas e  os corpulentos galos, mirando-os da galinheiro,  invejando as suas plumas  multicolores, que abriam e fechavam  num galanteio desafiador.

domingo, 3 de junho de 2018

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR - Por Carlos Barros


A mula desaparecida….
 
O verão, nos  finais da década de sessenta,  entrou com todo o seu esplendor na então vila de Esposende, numa  segunda feira , dia de feira semanal, que estava instalada no Largo Rodrigues Sampaio, estendendo-se pela ribeira onde um camião repleto de cobertores, lençóis e outros artigos, acabava de chegar, junto aos varais,  com o vendedor a exercitar a garganta para rematar os produtos  vendidos ao desbarato, com ofertas aliciantes embora de qualidade suspeita!: “levem dois cobertores, que ofereço um guarda-chuvas”, leiloava o vendedor com toda a sua energia “gargantal”…
   O gado espalhava-se pela ribeira, sendo negociado e vendido, com os maços de nota a saírem dos bolsos dos “pastores” dessa época…
   As feiras quinzenais enchiam-se de “gentes” que compravam  um grande manancial de produtos: fazendas, colchetes, rendas, lençóis, samarras, sapatos, socos, chancas, fervedores, panelas de aluminio e de ferro, regadores, louças…

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Por CARLOS BARROS

Um Natal especial….

  Em pleno período natalício, o senhor David Loureiro gozou um dia de folga e, como amante do mar, foi dar uma voltinha pelo areal até Cepães, sempre à procura de novidades e oportunidades….
  O senhor David, antigo guarda fiscal, sempre gostou do rio e do mar e um dos seus últimos barcos de pesca e recreio foi o ALVOR que acabou por ser destruído pelas tumultuosas marés que se fizeram sentir no passado inverno, no rio Cávado tendo a água do rio chegado a galgar a marginal, lançando muito  entulho para terra.
 Este esposendense nas suas horas vagas, percorria o rio Cávado lés-a-lés apanhando, à rede ou com recurso ao “carapau”, solhas e irões, estes no meio do limo ou por debaixo dos pedregulhos.
  O David, em sua casa, estava a conversar com a mulher sobre o almoço para esse dia e, com a mão na cabeça, coçando-se de uma mosca que lhe estava a atormentar, perguntou-lhe:
 -Mulher, o que vamos comer ao nosso almoço?

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

"Cantinho dos lobos do Mar"

“ O Trio”  na cela…
  Alguns jovens, com os seus quinze aninhos de idade, numa friorenta tarde de dezembro de mil novecentos e sessenta e oito, época natalícia, filhos legítimos da ribeira,- Toninho “Zurique”, Santos, Candinho e  João  Muchacho- estavam a jogar futebol, no caminho que separava  as casas do Bairro de S. Vicente de Paulo, em plena rua de S. João. 
 No calor do jogo, o Ribeirinho acidentalmente, mandou uma bolada ao neto do Li e, depois de muito alvoroço, o Li -Alfredo Barros Lima, pescador mestre da motora Daniel José-apresentou queixa no posto da GNR de Esposende, tendo  o processo seguido para o Tribunal já que o Li, teimosamente, não perdoou ao Ribeirinho, que se tinha “desfeito em mil desculpas”.
Os três amigos, afirmaram, no Tribunal de Esposende, que não tinham visto nada, contudo o “Caravelha”, como testemunha, tinha dito em tribunal  que eles tinham visto tudo e que estavam a mentir…
 Já dentro do tribunal, o Candinho começou a espreitar por uma “frincha” da porta da sala de audiências e, por mero azar, foi visto pelo   “Garcia velho” que ficou possesso e furioso, e de dedo em riste, virou-se para o Candinho disse-lhe, num tom de voz ameaçador:
 Ó seu vadio, vais para o xadrez e não vai demorar muito tempo…
O Candinho, descalço, tremia “como varas verdes” pois, possuía  “cadastro”  uma vez que ,  já tinha sido preso, por ser apanhado,  a pescar à lampreia, num dia da estacada e, como castigo, foi condenado a “serviço comunitário” sendo obrigado a limpar o rio Cávado onde se amontoava o entucho das cheias. Claro que, o Candinho, não aceitou o castigo e foi parar à cadeia tendo afirmado que estava melhor preso que a trabalhar para o “tenente”…
 O Adão, escrivão do tribunal, ia registando, na sua velha máquina de escrever “Olímpia”, todos os pormenores da ocorrência, organizando o processo para o veredicto final.
 Depois da audição final, a mandato do juíz, os três ribeirenses foram conduzidos, pelo sr. António carcereiro, para a prisão, por terem mentido.
 Estiveram presos durante dois dias e duas noites e na friorenta cela, o Muchacho começou a chorar, dizendo que não queria morrer!
  O Santos, passava o tempo a cantar o fado para se distrair e a Laura do Roto, que tinha uma loja perto da cadeia, foi fazer queixa ao carcereiro, senhor António, pai do Manel Maria da Ritinha Padeira porque não conseguia dormir com tanta barulheira. O trio foi avisado pelo senhor António mas, a irreverência era “fogo que não se apagava” com facilidade…
 O Santos, continuou a cantar o fado mais baixinho e parecia um pintassilgo a cantar e a “dobrar”, ajudado pelo Muchacho! Este amigo desesperado, certo dia, pegou numa vassoura e queria “matar” o carcereiro porém, o Santos  tirou-a das mãos para não agravar a  situação penal... O João Muchacho ia resmungando para as paredes da cela e passava o dia a dormir, curtindo as mágoas…
  O Candinho que se encontrava deitado no colchão “pulguento” da cela propôs aos amigos, para que no dia trinta e um fossem pôr o “Ano Velho Fora” pois, tinha uma carrela, uma japona do pai e um “sueste” do tio Geno.
 O Santos olhou de soslaio para o amigo e respondeu-lhe prontamente:
 O que quero é sair desta “cela velha” e o meu pai, quando chegar a casa, vai-me mas é “chegar a roupa ao pelo” e lá se vai o “Ano Velho Fora”…

quinta-feira, 3 de março de 2016

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

por Carlos Barros

A estacada….

Foi tradição em Esposende, durante longos anos, a utilização da estacada – inúmeras estacas de pinho, espetadas na areia do rio – leito - em forma de  bico, chamado fojo - abrangendo parcialmente   as duas margens do rio Cávado. A rede era presa nas referidas estacas e iam para o fundo, com apoio dos garruchos-cordas presas às estacas-.
Os paus – estacas - eram compradas ou surripiadas pelos pescadores nas bouças e eram espetadas com o auxílio de um maço de madeira. A estacada funcionava em “sociedade” entre os pescadores de Esposende e de Fão, em dias alternados e a rede só podia ser instalada ao nascer do sol e ao pôr-do-sol, tinha de ser retirada, visando a preservação da espécie – ciclóstumes - .

domingo, 29 de novembro de 2015

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR. Por Carlos Barros


A conquista espacial….
(republicação)
Em pleno Outono, do ano de mil novecentos e sessenta e quatro, com o carnaval já passado, na Casa de Fotografias Fotobazar, rua Conde de Castro, vendia-se material escolar diverso, e também “as bichinhas” e “bombas de Carnaval” e, passada a época carnavalesca, sobrava sempre “arsenal pirotécnico” , que não se tinha vendido, nestes tempos de folia popular.
Ao sul de Esposende, predominava a “massa encefálica inteligente” com o José Alberto e o C. Miguel, “O Químico”, a destacarem-se com os seus projectos de submarinos e foguetões, em ensaios constantes, tendo como palco a ribeira ou mesmo a junqueira,  com o seu campo de futebol  para os nortistas, sulistas, jardinistas e centrais, disputando os seus jogos sempre aguerridos que terminavam  em mergulhos no rio Cávado, na companhia das ratazanas, que abundavam e dos cardumes de barbos que proliferavam na junqueira.
O C. Miguel sabia das habilidades do Né Beleza, rebelde nortista, embora pacifista, com os seus barquinhos de folheta, a navegarem a vapor, tendo como força motora uma vela de estearina que aquecia um mini recipiente de água que, por sua vez, accionava uma hélice e a embarcação  foi sucesso na ribeira, tendo como palco , como sempre, as águas do Cávado, junto à rampa sul.

sábado, 28 de novembro de 2015

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

por Carlos Barros

A estacada…

 Foi tradição em Esposende, durante longos anos, a utilização da estacada – inúmeras estacas de pinho, espetadas na areia do rio – leito - em forma de  bico, chamado fojo - abrangendo parcialmente  as duas margens do rio Cávado. A rede era presa nas referidas estacas e iam para o fundo, com apoio dos garruchos-cordas presas às estacas-.
Os paus – estacas - eram compradas ou surripiadas pelos pescadores nas bouças e eram espetadas com o auxílio de um maço de madeira. A estacada funcionava em “sociedade” entre os pescadores de Esposende e de Fão, em dias alternados e a rede só podia ser instalada ao nascer do sol e ao pôr-do-sol, tinha de ser retirada, visando a preservação da espécie – ciclóstumes - .

sábado, 4 de julho de 2015

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

por Carlos Barros
O Toninho pedinchão”.

O Toninho “Anão” (António José Barros Neto) percorria, numa fase inicial, Esposende lés-a-lés, passando a “pente fino”, todos os cafés das redondezas como a Havaneza, Nélia e Primorosa e alguns tascos onde apareciam os “lavradores ricos” das aldeias. O Toninho sempre na sua missão de peditório, ia pedindo a esmolinha da ordem, com uma “carinha de meter dó” para melhor convencer os incautos.
O Toninho metia-se nas camionetas da “Viúva”- Auto da Viação do Minho, Ldª- ou do Linhares- Caetano Cascão Linhares- e pedia dinheiro aos passageiros ou dirigia-se para os locais mais “lucrativos”, onde era pouco conhecido, como em Viana do Castelo e Barcelos, aqui às quintas-feiras, dias de feira. Chegou-se a aventurar-se em incursões a Braga mas, esta cidade era muito confusa para o nosso amigo Toninho, como uma vez me confessou.
Um dia, ele estava na mercearia/armazém e tasca do Abílio Coutinho, bebendo uma malguinha muito à pressa, não vá o Carlinhos aparecer, que sempre lhe negava o vinho, e meteu-se à socapa, dentro da Camioneta da “Viúva” que acabara de chegar para entregar as encomendas no Coutinho, que era o local de recepção das mesmas. O Lourenço com as suas “lunetas” já carcomidas pelo tempo, era o principal distribuidor dessas encomendas: Farmácias Monteiro e Gomes…
Durante a viagem para Viana do Castelo, o Toninho, que era muito pequenino, meteu-se debaixo de um banco e permaneceu escondido durante toda o percurso, sob a cumplicidade de alguns passageiros que o protegeram, já que o conheciam bem, doutras “aventuras peditórias”.
A camioneta mal chegou a Viana do Castelo, o Toninho saiu “disparado” do banco e foi em direcção à marginal da cidade para percorrer os cafés no seu “afã” de pedincha,  visitando as  “capelas do Loureiro”- tascas- que lhe iam aparecendo pela frente. 
No campo da feira, entrou numa taberna e, com os bolsos recheados, mandou vir umas iscas de bacalhau frito, dois trigos e a habitual tigela de vinho tinto carrascão, que lhe soube pela vida. Naturalmente, não foi apenas uma tigela de vinho, outras se  lhe seguiram…
O Toninho dirigiu-se pacatamente e a deambular, para o escritório das camionetas da “Viúva” e, com tanto azar, perdeu-a e não havia mais nenhum autocarro para Esposende, perante o desespero do Toninho que esbracejava e protestava contra tudo e contra todos….

segunda-feira, 8 de junho de 2015

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

por Carlos Barros

“A secura do Geno…”

O Manuel António Sousa Cruz, mais conhecido pelo Taxi, batizado pelo ilustre Zé Feliz, nas suas vivências na ribeira, no “estádio da Faustina” foi um jogador especial,  tendo jogado no ESC, Marinhas, Vila Chã , Fão e no Norte-Sul . A  sua velocidade ultrapassava a da bola, chegando mesmo, a desaparecer do campo, num jogo com o Ronfe porque ficou “mergulhado” numa valeta, sendo pescado pelos calções pelos colegas, depois do jogo ter sido interrompido pelo árbitro, que ficou espantado pelo desaparecimento inesperado do craque Taxi.
Atualmente o nosso amigo Nelinho pertence ao “Danças e Cantares das Marinhas”, tendo-se deslocado, em digressão artística, cinco vezes à França e a vários pontos do País, chegando a atuar com o seu grupo de Folclore,  no Algarve.
Para além de jogador de futebol, o Taxi foi pescador, com cédula Marítima, passada pelo tenente Tavares e pelo Arlindo da Delegação Marítima de Esposende, tendo feito uma prova e mergulho e natação, sendo aprovado sem entrar no rio, apenas molhando a cabeça, tendo convencido as autoridades marítimas da época. O Taxi era um estratega peculiar e na ribeira, nos jogos de futebol Norte-Sul, onde se jogava a cinco croas, o nosso “mestre” armava confusão e ficava com o dinheiro ou escondia-o no capão da bola de futebol do Zé Pancas.

sábado, 2 de maio de 2015

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

 “Os irões da junqueira”


  O Paulo Fá, ainda criança, com os seus nove anos, comandou uma equipa de “marmanjos” para apanharem irões, perto do matadouro e da junqueira. Estavam grossos, confessou ele aos seus amigos.
   Era preciso dinheiro para comprar sêmea, “trigos”, e umas croas  para se jogar futebol na ribeira a dinheiro e um saco de irões, vendidos às peixeiras era oportunidade a não desperdiçar.
  Pegaram em “varapaus” e lá foi a criançada, comandada pelo Paulo do Fá para o rio e começaram, a apanhar irões  e,  passado pouco tempo,  a saca estava cheia, com as enguias a rabiarem dentro da sacola.
   O “maralhal”, todo entusiasmado, lá foi vender as “enguias” a casa da tia Inocência.

quarta-feira, 25 de março de 2015

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

 CANTINHO DOS LOBOS DO MAR
por Carlos Barros

  Os dois esfomeados...
  A motora “Mar obedece a Jesus”,  com a sua tripulação- Rogério, Tone Passarinho, Agostinho, Tone Paquete, “Arrebita” e Quico - o mestre da motora- encontrava-se em Sagres, no ano de mil novecentos e oitenta e seis, na sua faina piscatória.
  Uns jovens ingleses, dois rapazes e uma rapariga,  encontravam-se  a passear numa avenida, quando reconheceram os pescadores de Esposende, sempre barulhentos,  que tinham ido  beber umas “taças” na taberna,  e abeiraram-se deles:
- Amigos, gostávamos de ir ao mar, podemos ir?
-O Tinocas prontificou-se a pedir ao Quico,  que estava  ao seu lado,  se poderia   levar os banhistas , que estavam numa colónia de férias , ao mar.
-O Quico, sempre disponível, acedeu ao seu pedido, combinando com os jovens estrangeiros, a hora da partida, para o dia seguinte.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR - por Carlos Barros

Os porcos rabichos
  Estávamos numa sexta-feira, numa manhã cinzenta, nos inícios dos anos sessenta, com o nevoeiro a embaciar a bela paisagem do nosso Cávado, onde os barcos e as motoras desapareciam misteriosamente, dos nossos horizontes visuais, tal era o denso nevoeiro que se fazia sentir.
 As gaivotas pairavam no ar, pronunciando bom repasto esperando pelas tripas-entranhas- lavadas pelas mulheres do matadouro, junto aos “terrões” do rio..

  O portão do matadouro foi aberto pelo, funcionário camarário, Zé da Vila, muito cedinho e apenas o Valdemar estava encostado ao muro, com uma corpulenta vaca que olhava impavidamente para aquele sinistro local, mal ela sabia o destino que iria ter… O senhor Miranda- “Pastor”-, na companhia do Zé Fidó, estava a chegar com uma toura e um boi muito cornudo com uma longa barbela.
  Pelas oito horas da manhã, começou a entrar o gado para o abate e uma carrinha Bedford de caixa aberta, transportava alguns porcos mal cheirosos e muito ruidosos, grunhindo, quase que adivinhando o seu fim…. O Calisto de Curvos estava a chegar com a sua bicicleta, fazendo grande “chiadeira”, com um cesto atrás, para transporte das encomendas e alguma carne.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

por Carlos Barros

O Toninho foi fintado….
Era uma segunda-feira, dia de feira quinzenal em Esposende, com o habitual alvoroço, no Largo Rodrigues Sampaio, com as tendeiras e feirantes a montarem as suas tendas e, pelas seis horas da manhã, já a Jandirinha, ajudado pelo filho Pedrinho, menino de doze anos, espetava os ferros para prender as pontas das varas, com cordas, que constituía a estrutura do toldo.           
As peças de tecido e miudezas - alfinetes, ganchos de cabelo, elástico, rendilhas, tubos de linhas, agulhas, colchetes…, eram colocadas numa banca, assente em cavaletes feitos pelo Carlinhos com a ferramenta do pai ou pelo Hermenigildo.
As barracas espalhavam-se, como cogumelos, pelo Largo da feira com as roupas, cobertores colchas, “samarras”, sapatos e botas, de toda a qualidade e feitio. As botas de sola de “borracha de avião”, para as crianças, eram as mais procuradas pelos clientes porque o inverno aproximava-se e esse calçado resistia às intempéries, mesmo com os jogos da bola na ribeira…