ESPOSENDE E O SEU CONCELHO


sábado, 2 de maio de 2015

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

 “Os irões da junqueira”


  O Paulo Fá, ainda criança, com os seus nove anos, comandou uma equipa de “marmanjos” para apanharem irões, perto do matadouro e da junqueira. Estavam grossos, confessou ele aos seus amigos.
   Era preciso dinheiro para comprar sêmea, “trigos”, e umas croas  para se jogar futebol na ribeira a dinheiro e um saco de irões, vendidos às peixeiras era oportunidade a não desperdiçar.
  Pegaram em “varapaus” e lá foi a criançada, comandada pelo Paulo do Fá para o rio e começaram, a apanhar irões  e,  passado pouco tempo,  a saca estava cheia, com as enguias a rabiarem dentro da sacola.
   O “maralhal”, todo entusiasmado, lá foi vender as “enguias” a casa da tia Inocência.

   Todos contentes, estas crianças que tinham fugido à escola, nessa bela tarde de Verão, bateram à porta da peixeira, todos sorridentes pela boa “safra” piscatória.
  Entrem meninos, disse a tia Inocência, ponham aqui os irões no chão-soalho carunchoso- para serem contados que eu dou-vos cinco croas, uma pequena “fortuna “ para essa época, ano de mil novecentos e sessenta e um.
   Os irões foram lançados sobre o soalho, para serem contabilizados mas,   começaram o “bufar” e a peixeira gritou, saltando aflita:
-Desgraçados, vocês apanharam mas foram cobras, respondeu a mulher assustada.
  Entretanto, a casa encheu-se de cobras por todo o lado e até subiram para a cama do quarto do Zé, filho da peixeira.
 Estava o caos semeado naquela modesta casa e a rapaziada começou a fugir pela porta fora e só pararam na ribeira, deixando o saco dos irões para trás.
  A tia Inocência, com ajuda dos filhos, conseguiu, com paus e uma vassoura, expulsar e matar a maioria das cobras outras porém, conseguiram fugir para o quintal do “Zé Tolo”,( filho do Albano Laca) e do Abílio Coutinho, para o meio do seu  tomatal.
   O Paulo Fá olhou para o Manel e Tonó e desabafou: 
- Tão cedo não quero ir aos irões porque aqueles bufavam como cobras!...

História contada pelo Paulo do Fá, no dia 21 de janeiro de 2013-01-21
 junto à lota-Sul- de Esposende, na presença do José Manuel e esposa Adelaide, Manel  Nibra e  Ainho.

Carlos Barros
21/1/2013