Republicação
Belemino Ribeiro – atento e profundo conhecedor da vida ribeirinha – descrevia, da seguinte forma, uma das últimas lembrança surgidas no derradeiro dia de 1978.
Belemino Ribeiro – atento e profundo conhecedor da vida ribeirinha – descrevia, da seguinte forma, uma das últimas lembrança surgidas no derradeiro dia de 1978.
Vai caindo no esquecimento esta patuscada de rapazes, que nos vem dos tempos recuados... Tal como os jogos do pião ou da bilharda, do eixo ou da mosca; das corridas de arcos ou das motas de pau, das catrainhas à vela ou da bandeirinha, dos galeguitos, ou de tantas outras brincadeiras a paródia do Ano Velho vai-se extinguindo também, senão mesmo eliminando do calendário dos nossos folguedos(...)
Há anos atrás no 31 de Dezembro logo de manhã, na Ribeira ou no largo do Albino, a malta maior se encontrava e logo formava grupo. O mais descarado de todos colava as barbas postiças na cara, punha sueste na cabeça, vestia uma japona ou calça oleada, enfiava-se nas botas de água do pai ou do avô...
Segurava, ainda, um “garapau” e a cesta do mar.
Sentado na carrela das peças, quatro parceiros dos mais fortes erguiam-no ao ombro e, logo seguidos da criançada miúda, tocando instrumentos improvizados percorriam largos e ruas desta nossa terra, a catalorar alegremente o estribilho de sempre:
“E bota o ano velho fora...
E venha o novo cá p’ra dentro...”
A rapaziada do norte, com a cara enfarruscada, vinha também, rumo ao sul, com o seu ano velho aos ombros, na mira de idêntica finalidade: angariar algumas moedas para a ajuda de uma ceia melhorada!!!
E todos norte e sul enchiam de ruído alegre as ruas de Esposende, até ao anoitecer, mesmo que chovesse ou estivesse içado o balão preto no torreão do Salva-vidas...
in HENRIQUES, Armando Meira Marques – O Ano Velho em Esposende. Esposende: Junta de Freguesia de Esposende, 2002.