CANTINHO DOS LOBOS DO MAR.
Os cigarros misteriosos…
O Romão era um
velho conhecido, pelos professores na Escola Primária de Esposende pelas suas
mirabolantes matreirices mas, estava sempre pronto a fazer recados e nisso era
artista em cumpri-los, nem sempre à risca!...
Na sala do
professor Carlos M., na segunda classe, o Romão
rezava por um recado e para ele,
a Escola era martírio faltava-lhe a ribeira para as suas incursões beligerantes, e de repente
“acordou” porque o professor chamou- o para ir comprar um maço de tabaco CAMEL,
à Nélia. A sua pulsação alterou-se e, muito educadamente, o Romão levantou-se
da carteira, piscou o olho ao Zé Pompeu e pegou, com aspecto lânguido, nas cinco croas que o professor lhe deu para
comprar os referidos cigarros.
O Romão saiu
da sala em velocidade de cruzeiro e mal saiu da Escola meteu as mudanças e foi
dar a voltinha pela ribeira, para cheirar o odor do lodo e do limo, e só depois
é que foi em direção à Nélia, ao balcão
da tabacaria para comprar o maço Camel.
O sr. Manuel
da Nélia ao ver o Romão àquelas horas, na Nélia perguntou-lhe:
Ó rapaz que estás aqui a fazer a estas horas
de Escola, fugiste de lá mais uma vez?
Não, sr.
Manuel vim comprar tabaco para o professor Carlos M. e ele mandou-me vir aqui
respondeu ousadamente o Romão, revelando uma timidez tremendamente falsa!...
Ò Rites dá-lhe o tabaco depressa e recebe primeiro o dinheiro porque
nunca é de confiar…
O Romão pagou os cigarros, recebeu o tabaco e
saiu a grande “vitesse” pela porta fora, abrandando a velocidade perto da Lucas,
virou para o lavadouro público, ao lado da Igreja e sorrateiramente, descolou a
prata do fundo do maço e tirou um cigarro, tornando a colar a prata e o
respectivo selo, com um pouco de “cuspe”.
Já com o tempo a decorrer e com medo da
palmatória do professor, o Romão entrou na sala e entregou o maço de tabaco ao
professor que se“esqueceu” de agradecer, como
era habitual…
No recreio, o Romão chamou o Zé Pompeu,
perante os olhares do Tone Passarinho, do Quim Tripas, do Eduardo Chora e do Zé
Patuna, e segredou-lhe que no final das aulas iam fumar para a ribeira, por
detrás do salva-vidas porque tinha um cigarro
Camel para ser dividido por eles.
Era o tempo em
que havia “coriscas” a rodos mas, um cigarrinho fresco era outra “loiça”….
Os dois mariolas, dividiram o cigarro entre si, e com
fósforos de cera “Três Quinas” surripiados da casa do Romão, deliciaram-se a
fumar, com o tio Abilio e a Tia Esmeralda do Salva-vidas, a observarem ao
longe, junto aos varais das escadinhas, onde tinham umas redes –rascas- a
secar.
Seus corrécios , vou dizer aos vossos pais que
estavam a fumar, ameaçou o tio Abílio aos fumadores de ocasião. Choramingando,
junto ao tio Abilio, e os dois comparsas juraram nunca mais fumarem, tendo o
tio Abilio perdoado a queixa.
No dia seguinte, o professor pediu novamente
ao Romão para comprar dois maços de
Camel à Nélia e, o filme foi o mesmo só que o Romão em vez de um, tirou três
cigarros para dividir pelo Quim Tripas e pelo Tone Passarinho porque estes tinham descoberto o roubo e ameaçaram-no
acusar ao professor e, para evitar a acusação, tiveram que fornecer dois cigarros aos velhos amigos.
Quando o Romão chegou à Sala de Aula, o
professor Carlos M. estava furioso pela demora do recado e ao ver o Romão a suar de tanto correr,
perdoou-lhe o correctivo e as ameaças
voaram em todas as direções…
O professor ao
pegar num dos maços, achou-o muito “magro” e começou a apertar a embalagem que
cedeu para azar do Romão.
Romão, faltam
aqui cigarros, estás a ver este buraco?
Mais branco
que a cal, o Romão começou a gaguejar e a trocar as palavras e confessou que
não tinha sido ele!
Ai não fostes,
então vais para o estrado que vais pagá-las:
O Infortunado
aluno, levou doze palmatoadas com a “santa luzia” que lhe pôs as mão em brasa e
revoltado, confessou que o Tone Passarinho e o Quim Tripas também tinham
fumado…
Com os nervos à flor da pele, o professor com
o seu cabelo penteado para trás, inundado de brilhantina, mandou os restantes
para o estrado e a pancadaria repetiu-se e corajosamente, ninguém chorou e os
colegas da sala, num silêncio “cemiterial”, nem respiravam com o medo que
pairava naquela sala.
A partir desse momento, o Romão foi irradiado
dos recados e foi o Carlinhos da Jandira, mais novinho, que o substituiu,
entregando sempre os maços intactos, não cedendo às pressões dos mais velhos da
Escola que lhe pediam um cigarrinho Camel.
O Romão, a partir desse momento, limitou-se a ir às “periscas” junto ao largo dos Peixinhos, onde estacionavam as camionetes do Linhares, satisfazendo os seu vício. Nos dias de feira, o Largo dos Peixinhos convertia-se numa “eira de periscas” porque era o local dos passageiros que aguardavam, a “camioneta” para Palmeira, Perelhal, Barcelos ou mesmo Braga e os mais “fidalgos” deixavam quase sempre, metade do cigarro, para contentamento do Romão e seus comparsas…
C.M.L.B
22 de outubro
de 2016