ESPOSENDE E O SEU CONCELHO


segunda-feira, 8 de junho de 2015

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

por Carlos Barros

“A secura do Geno…”

O Manuel António Sousa Cruz, mais conhecido pelo Taxi, batizado pelo ilustre Zé Feliz, nas suas vivências na ribeira, no “estádio da Faustina” foi um jogador especial,  tendo jogado no ESC, Marinhas, Vila Chã , Fão e no Norte-Sul . A  sua velocidade ultrapassava a da bola, chegando mesmo, a desaparecer do campo, num jogo com o Ronfe porque ficou “mergulhado” numa valeta, sendo pescado pelos calções pelos colegas, depois do jogo ter sido interrompido pelo árbitro, que ficou espantado pelo desaparecimento inesperado do craque Taxi.
Atualmente o nosso amigo Nelinho pertence ao “Danças e Cantares das Marinhas”, tendo-se deslocado, em digressão artística, cinco vezes à França e a vários pontos do País, chegando a atuar com o seu grupo de Folclore,  no Algarve.
Para além de jogador de futebol, o Taxi foi pescador, com cédula Marítima, passada pelo tenente Tavares e pelo Arlindo da Delegação Marítima de Esposende, tendo feito uma prova e mergulho e natação, sendo aprovado sem entrar no rio, apenas molhando a cabeça, tendo convencido as autoridades marítimas da época. O Taxi era um estratega peculiar e na ribeira, nos jogos de futebol Norte-Sul, onde se jogava a cinco croas, o nosso “mestre” armava confusão e ficava com o dinheiro ou escondia-o no capão da bola de futebol do Zé Pancas.

            O Taxi, como no futebol, era “ave” de arribação e, como pescador,  passou por várias motoras: Cruzeiro do Norte-João Paquete-, Torrão-Berta Bicheza-, Mar obedece a Jesus –Quico da Inocência- e 1º de Abril – Zé Bebado-,”Senhora do Triunfo-  Marco Filipe-motora Nova do Zé Bêbado-, Pérola de Esposende- “Rabo do Chico”-, Senhora da Saúde-Manuel Reis-, Pai Tirano-Tio Armando- e Galo Negro-Tone Galo-.
            O Taxi esteve, como pescador, em Sagres, Sines. S. M. Porto, Arrifana, Vila Nova de Mil Fontes, Viana do Castelo e, naturalmente, em Esposende, conhecendo meio mundo e fez rir muita gente, com o seu “singular sotaque”.

            O Geno fez parte da tripulação do Taxi e, numa bela tarde, com o sol a apertar, pelas quinze e trinta da tarde, a secura invadiu os tripulantes da motora e não havia cerveja ou garrafões a bordo da embarcação porque rapidamente desapareciam com tantos discípulos do Baco, deus do vinho, existentes na motora.
            Atita, ainda te lembras quando andavas na motora do Zé Bêbado e, ao alar os “tróis”, com um grande congro preso, pegaste no bicheiro e fisgaste a madeira da borda da motora, perguntou o Taxi ?
            Lembro-me, lembro-me bem, tu precisavas era de uns valentes cachaços nesse lombo ameaçou o Atita que não gostou nada da conversa.
Entretando na motora, ouviu-se uma voz, de aflição:
Estou  com a garganta seca, gritava, com rouquidão, o Geno para os seus amigos, pedindo vinhaça…
O Taxi, tinha uma garrafa de cerveja cristal, no porão e foi buscá-la para  matar a secura ao velho e amigo  Geno que continuava a  pedir  copaça.
            Geno, meu irmão, tenho aqui uma garrafa de cerveja que o meu irmão Pexixola me deu, disse o Taxi todo solidário.
            O Geno mal pegou na garrafa de cerveja, meteu-a à boca e começou a gritar:
- Eu morro, eu morro,  estou a arder por dentro, socorro, socorro!...
            O Taxi pensava que era falta de oxigénio e pegou no extintor e despejou-o na cara do infortunado Geno, para agravar ainda mais, a situação do “desgraçado”…
O Geno, então é que começou a aumentar, em refrão, a gritaria, numa explosão de aflição.
O mestre da motora ao ouvir a gritaria, saiu da cabine, escorregou nos langanhos das  raia no convés, contudo conseguiu segurar-se e deparou-se  com o Geno quase desmaiado, espumando-se pelos cantos da boca.
Taxi, o que deste a beber ao Geno, perguntou o mestre da motora ao Taxi.
Dei  “ceveja” comprada no tasco do tio Feliz, que o meu irmão Pexixola me deu, e pus “ogénio” na boca dele, respondeu convictamente e nervosamente o Taxi.
             Desgraçado, vou-te matar tu deste ao homem petróleo que estava na garrafa, no porão que era para pôr nas lanternas…
O quê, dei “pitólio” ao Geno, questionou o Taxi tremendo por alguma bordoada que cairia no “lombo”…
            O mestre da motora atracou a motora ao cais e o Geno, fervendo a “muitos graus” e trasando a petróleo, e com a cara toda branca da espuma do extintor,  foi transportado pelos colegas para o hospital de Viana do Castelo onde ficou internado durante algumas horas, tendo alta no dia seguinte.

 O Taxi andou fugido por umas horas da tripulação da motora mas, depressa regressou porque tinha uma saída para o mar, onde iriam largar redes ao camarão e a calma regressou ao barco que continuava a cheirar a petróleo e, graças a uma nortada de sudeste que se levantou, o cheiro foi varrido e a “ecologia” pairou na motora.