“entre aspas”
Textos selecionados
Introdução
“Quis um feliz capricho do destino que me viesse parar às mãos um livrinho encadernado em pele, manuscrito, cheio de memórias, cheio de vida de um Homem sobre quem sempre ouvira falar com respeito.
Viajei por caligrafias cuidadas, por documentos solenes, por temas polêmicos, por contas rigorosas, por cartas duras, por alegrias contidas, por angústias abafadas, enfim... viajei profundamente no espaço e no tempo!
Interessei-me por aquela vida... porque a vida se vai montando com passos certos, uma soma de pequenos nadas e também de grandes obras.
Partiu ainda menino, arrancado ao conforto do colo de sua mãe, com um mar de saudades de seu pai a quem viu morrer muito novo, viajando inocente através de um enorme oceano, procurando em terras do Brasil não sabia bem o quê, nem porquê.
Cedo encontrou no trabalho ao qual se agarrou, a força motriz e o fio condutor de um projecto que de tão bem definido, não permitia desvios.
As promessas que deixara em Esposende, nas mãos de quem mais gostava, de ajuda a quem mais precisava, sempre orientaram a sua alma. Aos pobres que deixara na sua terra, da vila e de Tarroso, quis “apenas” ajudar a aliviar o seu sofrimento, e se ajudou...
(...)
E não foi raro vê-lo, sete horas da manhã, de sobretudo e chapéu de aba larga descendo as escadas de sua casa, a da Rua Direita, fechar o portão com cuidado e caminhar firme de mãos atrás das costas, curvando-se na passagem pela porta da Igreja Matriz, seguindo o seu destino até o Hospital, o novo, o seu...
(...)
E para que lhe não doa mais a vala comum do esquecimento a que tão injustamente foi sujeito durante tantos anos, deixo aqui o meu testemunho da sua vida que de tão cheia, merece destaque!
João Paulo Ribeiro da Fonseca
Esposende, 1 de novembro de 2005”