sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Comunhão Solene - MAX

MAX
Alex estava numa de sete cucos.
A mãe andava mais que preocupada e atarefada em arranjar-lhe fato alugado para a Comunhão Solene pois dinheiro era coisa que rareava lá em casa. De resto, poucos dos colegas de doutrina se dariam ao luxo de pôr fatiota nova, à excepção do filho do juiz e de uma ou outra moça filha de lavrante rico lá das redondezas.
Na formação dos gabirus para o retrato da praxe - alinhados à custa de uns penicões do “Fura”- sacristão que vestira a pele de sargento naquele domingo especial - este e aquele miúdo ainda destoava na sua camisolita simples com calça de fioco e a camisa branca estriada do ano anterior.
Pela enésima vez, o fotógrafo batera o “boneco” mas havia sempre algum que cegava ao flash e aquele outro que virava a cabeça para sudoeste, no momento de ficar relembrado para a posteridade. Alex lá se perfilou numa das duas filas de cima, entalado entre o “Cuco” e o Gonçalo, pois este, de tão alto e magricelas, na ponta do banco, fazia de trapezista para não tombar de lado, por qualquer rabanada de vento ou, mais receoso, se o “Atita” fazia músculo, para tentar mostrar o terço e o livrinho da comunhão, em cada mão, à boa maneira bíblica de Aarão. Nas filas de baixo, protegidas, púdicas de virgindade e ancoradas na santa Fé pelo arcipreste, as meninas pavoneavam-se nos seus vestidos de pré- noivas enquanto uma ou outra ia fazendo já olhinhos aos futuros namorados.
- Toca a olhar p’rá qui – berrava o retratista – … um e dois… três!
Mas o dia da Comunhão Solene fora tão só o culminar de horas e horas a fio de catequese, de Domingos e finais de tarde e só os mais assíduos haveriam de decorar todos aqueles credos. Já fora de prazo, ainda era preciso convencer o santo do arcipreste de que o garoto não pudera ir todos aqueles dias pois fora ajudar o pai, ao mar; e o reverendo lá se deixava ir na onda, se entretanto soubessem, ao menos, os Mandamentos da Santa Madre Igreja e, no mínimo, rezar o Acto de Contrição, para se poderem confessar. Após juras daquelas mães zelosas, lá se completou o número certo e necessário. Talvez que estes “últimos fossem os primeiros” aos olhos do Criador.
A catequese para o grande dia era repartida entre o salão por cima da sacristia e a nave da igreja que juntava o tutti para os cânticos da missa da Comunhão. Com a pedaleira do harmónio ao fundo para se sobrepor aos desafinanços dos “Ataus” e dos “Barriganas” que teimavam nos seus baixos rinocerônticos, o arcipreste bem que se esforçava por os fazer abafar nos sopraninos tímbricos das meninas que, essas sim, faziam concorrência ao coral dos Querubins e Serafins, lá nas alturas dos céus, e já estariam até na lista de espera de Santa Cecília, padroeira dos músicos, quando chegasse a hora delas! Desesperado pela barulheira, o bom do padre mandou o seu “sargento-mor” calá-los à força. O “Fura” não se fez rogado e distribuiu mais meia dúzia de croques naqueles contrabaixos inoportunos, que passaram, desde então, a afinar aos soluços, enquanto disfarçavam as lágrimas pelo K.O. técnico.
Quanto aos Mandamentos, Sacramentos e doutrina em geral, a prova dos noves ainda deixava muito a desejar:
- Então diz lá tu, aí ao fundo – inquiria o arcipreste – quem é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade?
Responde o “Faztudo”:
- Num sei, Sr. Arcipreste …
- Não sabes? Vamos lá: Pai, Filho e …Esp….
- Esprito!?
- Valha-te Nosso Senhor Jesus Cristo! Espírito Santo!
Inquirindo outro malandreco, perguntou-lhe pelo “rei” dos apóstolos.
- É S. Paulo!? - Miou um dos “Gatinhos”.
- S. Paulo? Uma paulada merecias tu. De que lado és?
- Sou do sul, Sr. Arcipreste.
- Então, não há na vossa festa uma marcha bonita?
- Ah! É a marcha de S. Pedro!
- Vês como sabes? O “rei” dos apóstolos é então … (?) S. Pedro.
- Aí ao meio, tu, o de cabelo espetado – virando-se para o Rique das Voltas – diz lá os Sacramentos da Santa Madre Igreja.
- 1º Baptismo, 2º Confrimação, 3º‘Caristia, 4º P’nitença, 5º (?) Quinta Unção, 6º Orde e 7º Patrimóne!
Risada geral que só abrandou quando de novo o sacristão distribuiu mais uns tabefes secos à claque camuflada lá atrás, no último banco. Serenada a cambada, o santo do padre continuava o exame final da doutrina. Mudando agora de táctica, perguntava às moças:
- Ora então, diz lá tu, Maria da Luz, qual é o 1º Mandamento da Lei de Deus?
- Adorar um só Deus e amá-lO acima de todas as coisas!
- Muito bem, menina. Vêem rapazes, quem tem vindo à catequese nunca esquece!?
Como podia Alex esquecer também aquela alma de verdadeiro exemplo de caridade cristã que a todos dera já um empurrãozinho para encostá-los à porta do céu? Como não lembrar aquelas traquinices em que a brincar se aprendia o sério da vida e o alimento do espírito, mesmo que com a fraqueza do corpo pela fome de então?
A esta mesma hora, lá no alto, Santa Cecília deverá estar com os mesmos problemas a tentar ensaiar com alguns destes gabirus!...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Pintor Fernando do Rosário



Atelier do pintor Fernando do Rosário.
Rua Eng. Custódio Vilas Boas, em frente aos Correios de Esposende
VÍDEO DE ALFREDO JOSÉ BARROS DA CRUZ

sábado, 13 de junho de 2009

Da minha aldeia

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Alberto Caeiro

Bombeiros Voluntários de Esposende festejam aniversário



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