Município de Esposende convidou
“À Descoberta do Património Cultural de Apúlia”
Decorreu no passado dia 11 de março, em Apúlia, a segunda sessão do projeto “À Descoberta de …”, promovido pelo Município de Esposende, no âmbito do Ano Europeu do Património Cultural, e que visa apresentar e valorizar o inventário do património cultural das freguesias do concelho.
Atendendo às más condições climatéricas, a visita guiada pedonal ao Património de Apúlia foi substituída pela conferência “À Descoberta do Património Cultural de Apúlia”, proferida por Ivone Magalhães, do Museu Municipal de Esposende.
Ivone Magalhães interpretou o lugar, do ponto de vista da história local, desde a época romana ao Couto de Apúlia, remontando aos tempos do povoamento original, à época da Reconquista Cristã e da fundação do Reino de Portugal, passando pelo padroeiro da freguesia e pelos raros testemunhos de tradição medieval presentes nos lugares de Paredes e de Criaz, bem como pelas narrativas locais associadas às Cabanas de colmo dos primitivos povoadores das dunas, cabanas que se vão transformar nas barracas de pedra em forma de barco que alojavam, no passado, os barcos do sargaço, desaparecendo com as mudanças da prática agrícola e com a erosão das praias em meados do século XX. Apúlia, no entanto, conserva ainda algumas práticas agrícolas do passado, associadas à apanha do sargaço, onde os “Campos em Masseira”, campos agrícolas de formato sub-retangular escavados na duna até ao lençol freático e rodeados de valados de areia segura por canaviais e vinhas para retenção de ventos, são o melhor testemunho, e bem conservado, dessa antiguidade. Também a Apúlia balnear do final do século XIX e início do século XX, com as moradias de férias e os “chalés” característicos não foram esquecidos, pois transformaram a Apúlia sargaceira e piscatória numa aldeia cosmopolita e moderna, que pagou um preço elevado pelo urbanismo descaracterizado, que se desenvolveu em determinados períodos e que, presentemente, se pretende reabilitar.
Estas e muitas outras histórias serviram de mote para se partir à Descoberta de outros patrimónios, em torno do património construído, como alminhas e capelas, mas principalmente o património do sargaço, como o folclore (música e danças), as alfaias e o traje, como também os caminhos velhos que vinham das terras do interior para o mar, calcorreados pelos novos sargaceiros, destacando-se a norte o lugar de Pedrinhas, no passado organizado pela vizinha freguesia de Fonte Boa, passando pela “Agra dos Mouros” e pelo seu cruzeiro que a historiografia local faz remontar aos tempos do Couto de Apúlia e ao lugar primitivo de Paredes, bem como pela “Lagoa de Apúlia”, espaço lagunar pré-histórico (cerca de 10.000 anos), que remonta ao importante passado geológico desta região, que, a par dos afloramentos de conglomerados na zona interdital de marés, documentam a antiguidade geológica do território de Apúlia.
A Vereadora da Cultura, Angélica Cruz, frisou a importância deste projeto cultural e do programa de iniciativas associadas à evocação do Ano Europeu do Património Cultural no concelho de Esposende, vincando a importância do Património Natural e Cultural de Apúlia, com as suas “paisagens do sargaço”, únicas no território do concelho. Frisou, ainda, a importância da intervenção das coletividades e associações locais na defesa e preservação do património imaterial, como os usos e costumes e as narrativas que, para sobreviverem no tempo, dependem inteiramente dos agentes culturais locais, constituídos assim em seus guardiões, reiterando que este tipo de iniciativas, além de ser uma rara oportunidade de apresentar outros patrimónios locais menos valorizados ou mesmo desconhecidos do grande público, também permite proporcionar momentos de convívio entre gerações a propósito do património cultural e natural local e construir estratégias concertadas entre todos a propósito desse património, fomentando novas ideias e melhores ferramentas para a sua fruição e descoberta.