quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Em Meio ao Caos

Há pouco tempo, reencontrei um velho condiscípulo, recém-regressado à sua terra após longos anos de ausência. O seu regresso, contudo, não lhe trouxe o conforto que outrora imaginara. Contou-me, em poucas palavras, os factos que passo a relatar.


Voltara ao país já marcado pelo tempo, trazendo consigo o peso das recordações de uma vida e a esperança de quem, mesmo tarde, precisava recomeçar para sobreviver. Mas o que o esperava era um país que, embora familiar nos contornos, lhe parecia estrangeiro. As ruas, algumas com outros nomes, mantinham o eco distante da infância; o rio e o mar, que sempre o acompanharam, permaneciam, mas as gentes eram outras.

O seu sotaque, ligeiramente diferente, depressa se tornou motivo de piada e críticas. A sua forma de falar e de escrever, que antes fluía naturalmente, agora soava estranha, inadequada aos ouvidos moldados pelas tradições. Era como se o tempo, em vez de preservar, tivesse esbatido o seu sentido de pertença.