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domingo, 6 de janeiro de 2019
sábado, 5 de janeiro de 2019
quinta-feira, 3 de janeiro de 2019
O missal de Natal… por Carlos Barros
O missal de Natal…
Por Carlos Barros
O Carlinhos
era um menino da ribeira, corria, jogava futebol, andava às escondidas, jogava
aos “ladrões”, apanhava lagostas no matadouro, ia às pinhas mansas com o
Tarrio, assistia aos assaltos, liderados pelo Trabuqueta, aos quintais de
fruta, jogava ao pião, à bilharda
e à “forma” no largo dos peixinhos, pescava à boínha, com uma cana de pesca de
“nylon” comprada na cada Gazcidla-Samuel-
era , em suma, um ribeirense de gema, como os Gatinhos, Trabuqueta, Murracas,
Zé Conanas, Casimiro Triti, Arrebita, Galgas, Renato, Duarte, Piolho, assim como os mais velhos, o Quim Tripas, Batista, Pateiro,
Lucianinho, Miquelinos, Luizinho Soqueiro, Pompeu, Baiaca, Romão, entre muitos
outros.
Estávamos,
perto do Natal e o sonho do Carlinhos era ter um missal prático que se vendia,
entre outras livrarias, na Livraria
Nelita Editora-Porto, com o seu calendário litúrgico, e pediu ao Menino Jesus ,
o tão desejado missal, no seu sapatinho.
Todos os
domingos “a fio”, o Carlinhos com os seus 12 aninhos, ia em louca correria para a igreja da Matriz,
na hora da missa, para disputar a bandeja do peditório, tendo como adversários,
o Manata, o Manelzinho “Pipa” e o Manel Maria da Ritinha Padeira. Quem chegasse
primeiro à sacristia, com o sacristão Biomiro da Fura em sentinela, seria o
primeiro a levar a tão disputada bandeja. Era um prestígio, na altura, fazer o
peditório na missa , sempre alguém, olhava para nós, meros “zé ninguéns” da
ribeira!
Quem tinha um missal eram as pessoas ditas de
“posses” e o Carlinhos queria e fazia gosto ir para a missa, com aquele livrinho,
de capa plastificada preta, lombada vermelha e com aquela fitinha a marcar as
páginas por sinal, com 484 páginas.
Consultou o
missal que falava no Natal, na sua
Vigília, na oitava do Natal (1 de Janeiro), nos Evangelhos, nas Epístolas, nos Cânticos, Orações, Prefácios
mas, não falava do sapatinho para desespero
do Carlinhos…
Junto ao Altar-Mor, estava sempre, na sua
cadeira envernizada e aveludada, de tampo amovível, o senhor Marques Henriques,
já “entrado na idade”, e dava sempre a
sua esmola: deitava no prato 2$50 cinco croas- e pedia de troco, vinte e quatro
tostões…O Carlinhos quando estava de serviço ao peditório, ficava doente ao
chegar ao sr. Marques Henriques porque teria que dar os trocos e na Matemática,
não era grande craque mas, lá levava a “água ao seu moinho”…
Chegamos nas
vésperas de Natal, e pela tardinha o Carlinhos, com as suas irmãs Ló, Lena,
Liva, lá foi colocar o sapatinho, junto às trempes, da borralha, onde as
carochas, baratas e ratinhos, iam lá pernoitar, no quentinho, ainda com umas
achas e pinhas mal queimadas, fumegando
em direcção à chaminé
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