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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
"Cantinho dos lobos do Mar"
“ O Trio” na cela…
Alguns jovens,
com os seus quinze aninhos de idade, numa friorenta tarde de dezembro de mil
novecentos e sessenta e oito, época natalícia, filhos legítimos da ribeira,-
Toninho “Zurique”, Santos, Candinho e João Muchacho- estavam a jogar futebol, no caminho
que separava as casas do Bairro de S.
Vicente de Paulo, em plena rua de S. João.
No calor do jogo,
o Ribeirinho acidentalmente, mandou uma bolada ao neto do Li e, depois de muito
alvoroço, o Li -Alfredo Barros Lima, pescador mestre da motora Daniel José-apresentou
queixa no posto da GNR de Esposende, tendo
o processo seguido para o Tribunal já que o Li, teimosamente, não
perdoou ao Ribeirinho, que se tinha “desfeito em mil desculpas”.
Os três amigos, afirmaram, no Tribunal de Esposende, que
não tinham visto nada, contudo o “Caravelha”, como testemunha, tinha dito em
tribunal que eles tinham visto tudo e que
estavam a mentir…
Já dentro do
tribunal, o Candinho começou a espreitar por uma “frincha” da porta da sala de
audiências e, por mero azar, foi visto pelo
“Garcia velho” que ficou possesso e furioso, e de dedo em riste,
virou-se para o Candinho disse-lhe, num tom de voz ameaçador:
Ó seu vadio, vais
para o xadrez e não vai demorar muito tempo…
O Candinho, descalço, tremia “como varas verdes” pois, possuía “cadastro”
uma vez que , já tinha sido
preso, por ser apanhado, a pescar à
lampreia, num dia da estacada e, como castigo, foi condenado a “serviço
comunitário” sendo obrigado a limpar o rio Cávado onde se amontoava o entucho
das cheias. Claro que, o Candinho, não aceitou o castigo e foi parar à cadeia
tendo afirmado que estava melhor preso que a trabalhar para o “tenente”…
O Adão, escrivão
do tribunal, ia registando, na sua velha máquina de escrever “Olímpia”, todos
os pormenores da ocorrência, organizando o processo para o veredicto final.
Depois da audição
final, a mandato do juíz, os três ribeirenses foram conduzidos, pelo sr.
António carcereiro, para a prisão, por terem mentido.
Estiveram presos
durante dois dias e duas noites e na friorenta cela, o Muchacho começou a
chorar, dizendo que não queria morrer!
O Santos,
passava o tempo a cantar o fado para se distrair e a Laura do Roto, que tinha
uma loja perto da cadeia, foi fazer queixa ao carcereiro, senhor António, pai
do Manel Maria da Ritinha Padeira porque não conseguia dormir com tanta
barulheira. O trio foi avisado pelo senhor António mas, a irreverência era
“fogo que não se apagava” com facilidade…
O Santos, continuou
a cantar o fado mais baixinho e parecia um pintassilgo a cantar e a “dobrar”,
ajudado pelo Muchacho! Este amigo desesperado, certo dia, pegou numa vassoura e
queria “matar” o carcereiro porém, o Santos
tirou-a das mãos para não agravar a
situação penal... O João Muchacho ia resmungando para as paredes da cela
e passava o dia a dormir, curtindo as mágoas…
O Candinho que
se encontrava deitado no colchão “pulguento” da cela propôs aos amigos, para
que no dia trinta e um fossem pôr o “Ano Velho Fora” pois, tinha uma carrela,
uma japona do pai e um “sueste” do tio Geno.
O Santos olhou de
soslaio para o amigo e respondeu-lhe prontamente:
O que quero é
sair desta “cela velha” e o meu pai, quando chegar a casa, vai-me mas é “chegar
a roupa ao pelo” e lá se vai o “Ano Velho Fora”…
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