sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

2013 - “E bota o ano velho fora... E venha o novo cá p’ra dentro...”

Republicação

CARLOS BARROS
Hoje, a tradição permanece, pelas ruas de Esposende especialmente na Rua Direita, mais lucrativa...
"E vota o Ano Velho fora, e venha o Novo cá p´ra dentro, te..rrum...tum..tum..."


"Cantinho dos lobos do Mar"

“ O Trio”  na cela…
  Alguns jovens, com os seus quinze aninhos de idade, numa friorenta tarde de dezembro de mil novecentos e sessenta e oito, época natalícia, filhos legítimos da ribeira,- Toninho “Zurique”, Santos, Candinho e  João  Muchacho- estavam a jogar futebol, no caminho que separava  as casas do Bairro de S. Vicente de Paulo, em plena rua de S. João. 
 No calor do jogo, o Ribeirinho acidentalmente, mandou uma bolada ao neto do Li e, depois de muito alvoroço, o Li -Alfredo Barros Lima, pescador mestre da motora Daniel José-apresentou queixa no posto da GNR de Esposende, tendo  o processo seguido para o Tribunal já que o Li, teimosamente, não perdoou ao Ribeirinho, que se tinha “desfeito em mil desculpas”.
Os três amigos, afirmaram, no Tribunal de Esposende, que não tinham visto nada, contudo o “Caravelha”, como testemunha, tinha dito em tribunal  que eles tinham visto tudo e que estavam a mentir…
 Já dentro do tribunal, o Candinho começou a espreitar por uma “frincha” da porta da sala de audiências e, por mero azar, foi visto pelo   “Garcia velho” que ficou possesso e furioso, e de dedo em riste, virou-se para o Candinho disse-lhe, num tom de voz ameaçador:
 Ó seu vadio, vais para o xadrez e não vai demorar muito tempo…
O Candinho, descalço, tremia “como varas verdes” pois, possuía  “cadastro”  uma vez que ,  já tinha sido preso, por ser apanhado,  a pescar à lampreia, num dia da estacada e, como castigo, foi condenado a “serviço comunitário” sendo obrigado a limpar o rio Cávado onde se amontoava o entucho das cheias. Claro que, o Candinho, não aceitou o castigo e foi parar à cadeia tendo afirmado que estava melhor preso que a trabalhar para o “tenente”…
 O Adão, escrivão do tribunal, ia registando, na sua velha máquina de escrever “Olímpia”, todos os pormenores da ocorrência, organizando o processo para o veredicto final.
 Depois da audição final, a mandato do juíz, os três ribeirenses foram conduzidos, pelo sr. António carcereiro, para a prisão, por terem mentido.
 Estiveram presos durante dois dias e duas noites e na friorenta cela, o Muchacho começou a chorar, dizendo que não queria morrer!
  O Santos, passava o tempo a cantar o fado para se distrair e a Laura do Roto, que tinha uma loja perto da cadeia, foi fazer queixa ao carcereiro, senhor António, pai do Manel Maria da Ritinha Padeira porque não conseguia dormir com tanta barulheira. O trio foi avisado pelo senhor António mas, a irreverência era “fogo que não se apagava” com facilidade…
 O Santos, continuou a cantar o fado mais baixinho e parecia um pintassilgo a cantar e a “dobrar”, ajudado pelo Muchacho! Este amigo desesperado, certo dia, pegou numa vassoura e queria “matar” o carcereiro porém, o Santos  tirou-a das mãos para não agravar a  situação penal... O João Muchacho ia resmungando para as paredes da cela e passava o dia a dormir, curtindo as mágoas…
  O Candinho que se encontrava deitado no colchão “pulguento” da cela propôs aos amigos, para que no dia trinta e um fossem pôr o “Ano Velho Fora” pois, tinha uma carrela, uma japona do pai e um “sueste” do tio Geno.
 O Santos olhou de soslaio para o amigo e respondeu-lhe prontamente:
 O que quero é sair desta “cela velha” e o meu pai, quando chegar a casa, vai-me mas é “chegar a roupa ao pelo” e lá se vai o “Ano Velho Fora”…

Banda de Música de Belinho em Concerto de Ano Novo


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