Os
porcos rabichos
Estávamos numa sexta-feira, numa manhã
cinzenta, nos inícios dos anos sessenta, com o nevoeiro a embaciar a bela
paisagem do nosso Cávado, onde os barcos e as motoras desapareciam
misteriosamente, dos nossos horizontes visuais, tal era o denso nevoeiro que se
fazia sentir.
As gaivotas pairavam no ar,
pronunciando bom repasto esperando pelas tripas-entranhas- lavadas pelas
mulheres do matadouro, junto aos “terrões” do rio..
O portão do matadouro foi aberto pelo,
funcionário camarário, Zé da Vila, muito cedinho e apenas o Valdemar estava
encostado ao muro, com uma corpulenta vaca que olhava impavidamente para aquele
sinistro local, mal ela sabia o destino que iria ter… O senhor Miranda-
“Pastor”-, na companhia do Zé Fidó, estava a chegar com uma toura e um boi muito
cornudo com uma longa barbela.
Pelas oito horas da manhã, começou a entrar o
gado para o abate e uma carrinha Bedford de caixa aberta, transportava alguns
porcos mal cheirosos e muito ruidosos, grunhindo, quase que adivinhando o seu
fim…. O Calisto de Curvos estava a chegar com a sua bicicleta, fazendo grande
“chiadeira”, com um cesto atrás, para transporte das encomendas e alguma carne.