CANTINHO DOS LOBOS DO MAR - “Por
rios, nunca dantes navegados…”
Por Carlos Barros
Estávamos
em plena época natalícia e era tempo das férias de Natal, momento para
as grandes aventuras, com a mente destas crianças da ribeira, viradas para o
Pai Natal, presépio e para as saborosas mas,
modestas , prendas no sapatinho.
Nos anos sessenta e setenta, a “rapaziada” da
vila de Esposende, tinha os seus
territórios definidos e eram acérrimos defensores
dos mesmos: o Norte e o Sul. A Central,
a Lagoa e o Jardim, eram “domínios” com
pouca presença “militar” e em momentos “quentes”, distribuíam-se pelo Norte ou pelo Sul.
No
território sulista, imperava o
secretismo porque os “altos comandos”, “O Speedy”, Fernando “O Poupinha”,
Chico Viana, Chico “Manata”, Mário
Trabuqueta e o Gonçalo estavam em reunião, num barraco- Escola Naútica de
Esposende- pertencente ao Quim serralheiro.
O “itinerante” e respeitado Quim Tripas, com a sua armadura em cartão
duro e uma espada em madeira, de cor prateada, mantinham a segurança ao
acampamento. As hostes sulistas receavam
incursões dos nortistas mais belicistas, já que o “renegado” nortista Fernando
Quintino, habitante da “fortaleza de S. Vicente de Paulo”, tinha sido visto a vigiar o acampamento, pelas
“bandas” da casa do Fernandinho e da “Minórica”.
Com “mapas
marítimos”-portulanos, feitos com papel grosso de embrulhar o bacalhau,
e rascunhos, elaborados magistralmente pelo cerebral “Speedy”, traçavam-se planos
de atuação para a grande
“Expansão Marítima” ao rio Cávado, tentando descobrir-se novas
ilhas (torrões no meio do rio) e expulsar as gaivotas e maçaricos que tanto
incómodo causavam a estes ousados
exploradores e navegadores.
Era necessário uma “Nau” e o
Chico Viana, levantou a voz
dizendo que tinha uma em casa, o que criou “suspense” em todos os navegadores
presentes. Em grande correria, o Chico foi a casa, aproveitando a ausência da
mãe, que tinha ido à ribeira estender roupa para corar, e na sua sala estava um grande baú que guardava a roupa
da família.
Sem hesitar, o Chico
arrancou, com um martelo enferrujado, as dobradiças do tampo do malão,
os pregos voaram contra o estuque da parede,
e a improvisada “Nau” foi trazida
às costas, para junto dos seus amigos que estavam ansiosamente à espera da prometida embarcação, a “Nau Chiconeta”-Catrineta-.
Quando os “navegadores guerreiros” viram
a barcaça, foi o delírio !
Quem vai ser o Capitão do Barco, questionou o
Mário Trabuqueta, também conhecido por “Faísca”?
O
Gonçalo , gritou :
- Tem de ser o Quim
Tripas que é o mais velho e corajoso e
nada como um peixe !
Meus amigos, é preciso muita corda para prendermos
a “Nau”, apelou o “Speedy” aos seus
subordinados, que estavam a comer umas
uvas “surripiadas “ do campo do Emilinho, na noite anterior.
Passada
meia hora, a rapaziada tinha trazido vários metros de corda necessária para o empreendimento marítimo.