Robinson – Portalegre
Os Verdes entregaram no Parlamento Projeto de Resolução para salvar o Património Industrial Corticeiro da Fábrica Robinson
O Grupo Parlamentar de Os Verdes entregou ontem, 20 de novembro, na Assembleia da República, um Projeto de Resolução que recomenda ao Governo que intervenha com urgência no sentido da salvaguarda e valorização do importante Património Industrial Corticeiro da Fábrica Robinson, no concelho de Portalegre.
A Fábrica Robinson, indústria corticeira, é um elemento importantíssimo da história de Portalegre, que está num estado de abandono e degradação chocante, o que levou Os Verdes nos últimos dois anos a travar um conjunto de lutas pela salvaguarda deste valiosíssimo património corticeiro da "Fábrica da Rolha", uma luta que que levou a Robinson ao Presidente da República, ao Ministro da Cultura, à Assembleia da República e que desde a primeira hora recolheu a simpatia e o apoio dos portalegrenses, dos alentejanos e do país.
Urge dar passos concretos para impedir a iminente perda deste património e garantir que a memória laboral que representa seja preservada e perpetuada para o futuro. Urge assegurar que este património contribua para o melhoramento do conhecimento, em áreas tecnológicas e ambientais e outras e urge concretizar as intenções, diversas vezes anunciadas, de revitalização e regeneração dos sete hectares do espaço Robinson, localizado em pleno centro da cidade.
A iniciativa legislativa do PEV será discutida no próximo dia 28 de novembro, em plenário da Assembleia da República, em conjunto com a petição “Salvem a Robinson” que conta com mais de 4000 subscritores e cujo pontapé de saída ocorreu num debate promovido pelos Verdes há dois anos.
O Grupo Parlamentar “Os Verdes”
PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 1123/XIII/3ª
RECOMENDA AO GOVERNO QUE SALVE E VALORIZE O
PATRIMÓNIO INDUSTRIAL CORTICEIRO DA FÁBRICA ROBINSON EM PORTALEGRE
As
duas imponentes chaminés da Fábrica Robinson, hoje em risco de ruir, dão ao
longe, as boas vindas aos visitantes de Portalegre e são, no meio da torre de
menagem do Castelo e das torres sineiras da Sé Catedral, dois ícones que
diferenciam esta cidade de muitas outras da região, projetando o papel que
desempenhou de "capital industrial do Alentejo".
A
Fábrica Robinson, indústria corticeira, é um elemento importantíssimo da
história de Portalegre desde o século XIX. A identidade desta cidade do Norte
Alentejo está indubitavelmente marcada por um passado industrial muito ativo,
no qual a indústria corticeira Robinson, a par com a dos lanifícios, teve um
papel determinante.
A
atividade industrial corticeira em Portalegre teve início em 1837 com a
instalação de uma pequena unidade fabril de um grupo de industriais ingleses.
Dez anos depois, em 1847, com a instalação do industrial George Robinson neste
concelho alentejano, por razões que derivam da sua localização estratégica,
esta indústria regista um desenvolvimento determinante.
Este
desenvolvimento colocou a corticeira Robinson não só na história industrial de
Portalegre, mas também na do Alentejo e do País: pelo recurso a uma
matéria-prima oriunda de um recurso endógeno (o montado de sobro); pela sua
transformação em produtos que entram nas nossas casas (as rolhas, o isolamento,
etc.); pelo papel pioneiro que a Robinson ocupou na inovação industrial, com a
introdução de maquinaria e técnicas de ponta; pela qualidade da sua produção,
reconhecida pela medalha de Mérito Industrial atribuída em 1908, pelo Rei D.
Carlos e, mais tarde, pela projeção que alcança nos mercados internacionais,
fabricando os primeiros componentes em cortiça para o vaivém da NASA e ainda,
pelo papel social de contornos ímpares que assumiu.
O
legado patrimonial da Fábrica Robinson, na qual chegaram a laborar mais de dois
mil trabalhadores, inclui um valiosíssimo património imaterial, associado à
história de vida dos seus trabalhadores, ao movimento operário, ao
cooperativismo e associativismo. Aqui tiveram origem as primeiras associações
de operários, o primeiro sindicato corticeiro, a primeira corporação de
bombeiros, a primeira cooperativa de consumo, a primeira creche e ainda as
primeiras publicações periódicas. A Robinson, e os seus trabalhadores, entram
também para o cartaz do cinema português, ao serem cenário e figurantes de uma obra cinematográfica de relevo histórico: "Até
Amanhã Camaradas".
A
Fábrica Robinson representa assim muito mais do que um património arqueológico
industrial, já de si valioso e classificado como de "interesse
público", constituindo ainda um traço identitário indelével da história e
memória de Portalegre e de gerações de portalegrenses. Resta agora fazer com
que esta riqueza e especificidade patrimonial assumam o seu potencial de
alavanca para o desenvolvimento e futuro da cidade, do concelho e da região, e
contribuindo desta forma para promover a coesão territorial do país.
O
encerramento definitivo da Fábrica Robinson, em 2009, mergulhou Portalegre numa
profunda depressão. Hoje este é o segundo concelho com a maior taxa de
desemprego do distrito, o mais despovoado do país e dos mais envelhecidos. Com
o fim da atividade fabril e perante um incumprimento da missão da Fundação
Robinson, de zelar por este património e valorizá-lo, estamos hoje perante um
dramático estado de abandono. Diversos estudos e projetos com o objetivo de
recuperar e valorizar este património foram ficando na gaveta e as instalações
e respetivo recheio foram-se degradando de uma forma assustadora. Chegamos ao
ponto de, hoje em dia, a sua salvaguarda estar dependente do estado do clima ou
de outras ameaças! Não há mais tempo a perder!
Urge
dar passos concretos para impedir a iminente perda do património físico
existente, é um dever!
Urge
garantir que a memória laboral que representa seja preservada e perpetuada para
o futuro, é uma justiça!
Urge
assegurar que este património contribua para o melhoramento do conhecimento, em
áreas tecnológicas e ambientais e outras, é um desafio!
Urge
concretizar as intenções, diversas vezes anunciadas, de revitalização e
regeneração dos sete hectares do espaço Robinson, localizado em pleno centro da
cidade, é fundamental para devolver a autoestima à cidade e aos portalegrenses!
No
espaço destes últimos dois anos, Os Verdes não pouparam esforços para alertar e
apelar à intervenção das entidades responsáveis pelo nosso património e pela
nossa identidade coletiva, para a salvaguarda da Robinson. Pela voz dos Verdes,
a Robinson chegou ao Presidente da República, ao Ministro da Cultura, a esta
Casa. À nossa voz junta-se agora a dos mais de 4000 subscritores da Petição -
Salvem a Robinson!
É
tempo destas vozes serem ouvidas! É tempo de agir!
Salvar
e Valorizar a antiga fábrica corticeira Robinson é dever e responsabilidade de
todos os que têm por obrigação cuidar e defender o interesse público!
Assim sendo, o Grupo Parlamentar Os Verdes propõe
à Assembleia da República que delibere, ao abrigo das disposições
constitucionais e regimentais aplicáveis, recomendar ao Governo:
1 - O
empenho e intervenção urgente, através do Ministério da Cultura e do Ministério
da Economia, no sentido de garantir a salvaguarda deste valioso património
industrial e arqueológico, com forte simbologia nacional e de um valor ímpar
para o concelho e para a região, e a valorização das suas potencialidades como
fatores de desenvolvimento para o concelho e distrito de Portalegre, envolvendo
as entidades locais com responsabilidades diretas na gestão deste património e
outras entidades de âmbito local, regional e mesmo nacional, nomeadamente de
cariz científico, educativo, associativo, empresarial e outras que possam vir a
contribuir para o futuro da chamada "Fábrica da Rolha";
2 - Que a intervenção da tutela da Cultura
garanta, que num curto espaço de tempo, sejam feitos o diagnóstico da situação,
o levantamento e a calendarização das medidas mais urgentes a tomar, bem como
garantir a execução imediata das que revelam maior emergência. A concretização
de obras, mesmo que de caráter provisório, é fulcral para garantir a proteção e
segurança do património edificado e do seu recheio, em especial as chaminés, o
telhado e as máquinas, face a intempéries, atos de vandalismo ou outras
situações que possam vir a causar perdas e danos irreparáveis do património
existente.
Assembleia
da República, Palácio de S. Bento, 17 de novembro de 2017
Os Deputados,
Heloísa Apolónia
José Luís Ferreira