Ribeira de Esposende,
espaço sagrado da minha infância…
O verão, era a estação do ano, dos ribeirenses e as
crianças do ” meu tempo”, saiam espavoridas, das soleiras das suas velhas casas
e iam disparadas para a ribeira, descalças, ou calçadas com chancas, botas de
borracha de avião, besuntadas com sebo do Talho do Júlio e do Jaime, da Rua
Direita e o futebol esperava-as no ”relvado juncado e ensaibrado” da ribeira,
onde a “erva levava arda” com as pisadas
que sofria, ao longo do ano.
Na magia da ribeira,
os dois selecionadores, Zé Feliz e João Café esperavam os atletas para o grande
jogo que se avizinhava e as duas equipas eram logo constituídas e a bola de capão do Zé Pancas,
bem ensebada, estava debaixo do braço deste “rei dos Papeizinhos-cromos de
futebol-“.
Jogadores não
faltavam e poder-se-ia formar as equipas
das reservas mas, o que interessava era jogar e os suplentes aplaudiam ao lado das invisíveis marcações do campo da
Faustina, o nosso Maracanã…Os atletas consagrados e “internacionais” vinham
aquecidos de casa, nas correrias que faziam em direção à ribeira, “bufando a sete foles” : Os mais veteranos- Quim Tripas, Batista, Pompeu,
“Sai Sai”, Luisinho, Romão, Saganito, Milo…-
andavam em aventuras mais ousadas
semeando “confusões” por onde passavam: assaltos à fruta, ataques ao canil do
Matadouro, destruição de vidros, caçadas aos sardões e cobras na junqueira,
para vender ao senhor Monteiro da farmácia, fugas à GNR, ida aos ninhos, menos aos de poupas, ataque
às cenouras e aos nabos, cortes dos rabos de “chicos” no matadouro Municipal e
outras incursões aventureiras…Era a luta pela sobrevivência porque as famílias
da época eram muito carenciadas.