Por António Pinto
Decorria a época de 1954/55 e a
equipa de Esposende Sport Clube disputava os Regionais da A.F.B, e de seguida o
Nacional da lllª Divisão.
Devido à extraordinária prestação da
equipa, os Esposendenses viviam empolgados e eufóricos, não só pelos resultados,
mas também pelo facto da equipa ser composta essencialmente por muita juventude.
Hoje presto aqui uma simples, mas
sentida homenagem a um dos meus maiores ídolos da época, Joaquim Ferreira da
Cruz, mais conhecido pelo "Quim do Arroz".
Não é difícil falar do Cruz. Como
desportista foi eclético. Em todas as modalidades, e não foram poucas as que
praticava, fazia-o com mestria e dedicação.
Foi velejador: Lusitos e Sharpes, com
João Eduardo, Sampaio e Cruz; no remo com Costa A. Guimarães, Sampaio, Cruz, e
o timoneiro Engº Zé Areias. Mas foi no futebol onde o Cruz mais se
notabilizou e evidenciou.
Jogador com uma capacidade enorme, de
técnica refinada, as suas fintas e passes causavam sensação. A sua inteligência
e a leitura do jogo eram fora do comum. Dois excelentes pés, por onde passava
espalhava a arte de bem jogar.
Começou muito jovem a dar nas vistas.
Fez parte da equipa de Juniores do Sporting Clube de Braga, com Tamanqueiro,
Farol e M. Losa. De seguida veio a tropa, Base Aérea de S. Jacinto, fazendo
parte da Equipa Militar, que na ocasião disputavam campeonatos. Foi abordado
para jogar no Beira-Mar da 1ª Divisão, só que o Capitão não o dispensou, queria-o
na Equipa Militar.
Surgiu depois a hipótese de Cruz e
Farol rumarem ao Vitória de Guimarães. Fizeram um treino numa 6ª feira. Era treinador
o consagrado Fernando Vaz e presidente do clube o pai de Pimenta Machado que meteu-lhes
no bolso 500$00 escudos a cada um, e compromissados de comparecerem na 3ª feira
seguinte para novo treino. Entretanto surgiu-lhe em casa dois dirigentes do
Académico do Porto que militava na 2ª Divisão e o "raptaram",
nem teve tempo de fazer a mala.
O destino estava traçado, uma enorme
carreira passou ao seu lado!
Acabou a sua carreira no Porto. Mas
que pena!
Dizia-me um dia destes, se naquela
época tivesse o equipamento que existe hoje. Campos relvados, bolas quase sem
peso, botas sofisticadas. Com ironia disse: “metia a bola no bolso dos calções
do guarda-redes".
Vi nele uma nostalgia enorme a falar
do antigamente, dos colegas de equipa, dos dirigentes, do inconfundível P.
Moreira, etc...
A certa altura diz-me, tenho os meus
cabelos em pé, mas que saudade eu tenho, dos tempos antigos, do E.S.C.. Os seus/nossos
olhos começaram a lacrimejar num misto de alegria e tristeza.
Hoje, vive em V.N. de Gaia, com 81
anos, mas sempre que pode cá está junto da Família e dos Amigos. Quem nasceu
neste “Privilégio” dificilmente o esquece...
Obrigado Amigo Cruz por me teres dado
oportunidade de conversar contigo, recordando o passado e dizer-te, podes
ter a certeza que também tu ficarás para a História Desportiva da nossa Terra.
Esta é a História de um HOMEM simples
que marcou uma geração de ouro a quem Esposende está Grato, e a quem a
sorte lhe passou ao lado.