A Srª Maria Fifas:
Nos meados da
década de sessenta, tive o privilégio de possuir uma cana de pesca
de "nylon", comprada na casa "Gazcidla" do Samuel, na
rua Narciso Ferreira, já que a minha mãe me premiou com esta prenda, uma
vez que tinha passado de ano e as "notas" no Externato Infante
Sagres tinham sido razoáveis.
Com essa cana, passei
alguns anos a pescar à boinha, nos areais e no lodo, quando a maré subia, era
"só tocar"!... O cacifre enchia rapidamente e onde comprava eu
a isca?
Precisamente, à
senhora Maria Fifas que morava na terceira casa, a contar do sul para norte,
do bairro de S. Vicente Paulo.
Com "cinco
croas", dadas pela minha mãe, chamava pela srª Maria e lá vinha esta
simpática pessoa, com o caixote da isca, muito cobertinha com um saco de
linhagem húmido para melhor se conservar vivinha.
A dose era sempre
bem "aviada" e melhor que o embrulho da isca, era o
sorriso e a simpatia contagiante da srª Maria.
Era uma isca
"sagrada" recebida das mãos da senhora Maria e os "irigos"
e mujos não resistiam e com aqueles anzóis número onze, era uma pesca
fatídica e de sucesso. Só ia para casa com o cacifre a transbordar e tinha de
dar peixe aos vizinhos, tal era a quantidade de peixe pescado.
A senhora Maria recolhia a isca, apanhada pelos
filhos no lodo, -Santos , Serafim, Abílio e filhas,- em sua casa, um
pecúlio importante para o sustento da família.
O Santos
era rápido a cavar no lodo, com a sua enxada
porque o futebol na ribeira esperava-o. Entregava sempre o dinheirinho
à mãe que o felicitava.
O Serafim era lento já que de bola não era
grande "às", ao contrário do Abílio que era um guarda-redes de
elevados recursos, entre os varais da ribeira ou mesmo no futebol.
A senhora Maria "partiu" e
Esposende ficou mais empobrecido porque esta senhora foi uma mãe esmerada, boa
esposa e os filhos para ela, eram "tesouros" que guardava no
seu coração.
Adorava os netos e falava-me sempre da
Joaninha, da Maria dos Anjos-antigas jogadoras do Sul, em futebol-, filhas do
Serafim, assim como dos demais netinhos e netinhas.
A família era o "Centro do
Mundo", para esta maravilhosa senhora que teve uma dedicação inexcedível,
com elevado sentido de responsabilidade e seriedade, na Igreja da Misericórdia
que vigiava pela sua segurança.
O "BÓIAS", aquele rapazinho
que teve o privilégio de ser cliente da isca da senhora Maria,
envia os sentidos pêsames aos filhos netos e familiares na
convicção plena que a senhora Maria estará sempre nos nossos corações.
Que Deus a ampare nos seus "Aposentos
Celestiais".
CMLB-"O BÓIAS"