O tio David, turista...!
Estavamos no mês de janeiro, em mil
novecentos e setenta e oito e, em
Esposende, os pescadores já estavam na faina da pesca à lampreia, com rede,
bicheiro, galheiro ou rede, com a “estacada” em descanso, junto à foz com as suas lanternas a iluminar a superfície das
águas, procurando o tão desejado ciclóstomo.
O Santos,
filho da Delfino Ceareiro e da tia Maria Fifas, e o Tone Miquelino, filho do Miquelino e da tia Adelaide, “lampreieiros” astutos, estavam na foz com os
seus galheiros e já tinham apanhado uma “manada” delas, colocando-as dentro de uma saco de malha, fechadinho não
fosse o cão, caça-lampreias do Lima roubá-las, um canino treinado nesses “desvios”….
O Tio David era uma velha “raposa “ do rio
e pescava, nesta época, lampreias mas, ultimamente andava um pouco em
descanso, e não estava prestes a “vergar a mola” porque a vida são “sete dias”,
como dizia o velho e manhoso mestre David, que era um pescador especial, perito
na pesca dos irões e das solhas.
Nessa manhã,
o Tone Miquelino, viu o tio David com a”
ponteira” às costas e perguntou-lhe:
Para onde vai Tio, com a ponteira, feito turista, num dia tão bom
para apanhar irões nos carreiros?
Ó tio David, você é que é tolo , vir a esta hora apanhar
lampreias, neste sítio que não tem dado nada e
já sabe que não tem paciência
para andar à lampreia, acrescentou o Santos, rindo-se para o Tone Miquelino que
lhe piscava o olho!
Olhai seus
“marmelos” vocês não percebem nada disto e sabem porque venho com o galheiro às
costas, seus morcões?
Não, não
sabemos responderam prontamente os dois
amigos ao tio David que estava fardado à pescador com botas de água, verdinhas
e com um grande casacão de xadrez.
Eu vou explicar, dizia ele: Eu gosto muito de “cozido
à portuguesa” e a minha mulher quando me vê
ir à lampreia , vai-me buscar
logo um “cozido à portuguesa” ao Zé Arménio e é por isso que venho com a “ponteira”
às costas para” fazer de conta”, porque
o galheiro fica a descansar nas dunas, perto do bar da praia.
Eu quando
chegar a casa , meu sobrinho Tone, o cozidinho vai estar na mesa e vou
comê-lo que me vai saber tão bem, respondeu com ar de convencido o tio David!
Passadas umas
horas, o Tio David regressou a casa e a mulher perguntou-lhe pelas lampreias e
ele muito atrapalhado e a gaguejar , disse-lhe
que o mar estava a descabeçar-vazar- e
as lampreias tinha ido todas para o mar e
foi uma manhã “lisinha”…
Eu até chorei,
podes crer mulher!...
Ó homem, não
faz mal, anda mas é comer o “cozido à portuguesa “que já está na
mesa, com um copinho de vinho Felgueiras, comprado no Areias. Vai-te saber pela
alma mas, atenção, ameaçou a mulher do Tio David:
- Para a próxima vez que não trouxeres lampreia, não há “cozido à portuguesa” e não
me venhas com desculpas ameaçou a mulher do tio David, em frente dos filhos que
já estavam à mesa a comer o “caldo” com umas iscas de bacalhau, compradas na
Nazaré, e arroz, um pouco estorricado.
O Tio David, pensou, para os seus botões:
P´ra próxima não
me “safo” e tenho que trazer umas
lampreias à minha mulher, nem que as tenha de roubar aos Santos ou ao meu Sobrinho
Tone Miquelino!...
História
contada pelo Santos
Coutinho, no dia 20 de Fevereiro de 2013, pelas 11.35, horas no Café Oliveira-Esposende.
CMLB