Maria Adelaide Marques Miquelino era tratada por mim,
por " tia Laida", estremosa mãe, virtuosa esposa e uma MULHER
que enfrentou a vida com coragem, abnegação, luta perante as adversidades daquele
"tempo antigo"-, em que a vida era como "um touro
bravo" que todos nós , especialmente os nossos pais, tinham de lidar e
pegar o "animal” (vida) pelos cornos ou de cernelha. Era o tempo da fome,
da miséria, da opressão, das carências gritantes que todos nós, portugueses,
sentimos na pele.
Andar calçado ou vestir roupa nova,
era um luxo para as crianças e adultos desse "tempo antigo", já que
alguns amigos meus, só calçavam sapatos ou botas, quando iam à
missa ou iam a um passeio da escola à volta ao Minho ou ao Sameiro...
Perante esta
sociedade adversa, a tia Laida criou dez filhos, todos rapazes e raparigas
maravilhosas, de que nutro especial amizade desde o meu tempo de infância
e, como ia dizendo, a tia Laida trabalhou como uma escrava, como dizia o
Zé Meira, seu familiar, labutando no dia a dia para sustentar a família, sempre
com o tio Miquelino, seu marido, a ajudar corajosamente, na faina
piscatória ou no exercício das suas funções, no "salva Vidas".
Relembro-me
perfeitamente, a tia Laida a chegar à loja/mercearia do meu tio Abílio Coutinho
e dizia-me:
- Menino dá-me um litro de vinho!
-Olha pesa-me um quilo de farinha ou mede-me meio litro de azeite!
-Carlinhos pesa-me aquele bocado de sabão amarelo ou rosa! Esse
não, mas o mais pequenino!...
- Menino, "assenta" aí no rol ou paga-te daqui...
Com a sua ímpar e
sublime simpatia, a tia Laida despedia-se com um até logo, sempre aflita
pelas "andanças " dos filhos na ribeira ou nos quintais porque era
proibido não brincar ou não jogar à bola...
A tia Laida
não olhava a meios para angariar umas "croas" para sustento da família
e à minha mãe, Jandira como feiranta, guardava-lhe os "paus da
feira" no seu quintal e, mais tarde, deixava-os encostados à Alfândega e a
tia Laida sabia, como ninguém, os proprietários desses "paus da
feira" no meio daquela "selva" agrupada de paus e varas dos
feirantes.
Foi esta Ribeira da imagem, que
testemunhará, para os vindouros, a vida árdua que os pescadores e
peixeiras de Esposende sofreram na pele e o "monumento ao pescador" é
o símbolo dessa tenacidade, coragem, força musculada, e sofrimento
desta classe social e profissional que "carimbam" Esposende como "terra
de mareantes" e pescadores destemidos.
Sempre que a via, o Carlinhos
da Jandira prestava-lhe a merecida vénia de saudação porque a tia Laida e
o sr. Miquelino são "cidadãos desta pequena cidade" de que
nos podemos orgulhar porque são símbolos de luta e de trabalho que
levaram a criar e formar os seus queridos filhos e filhas que são baluartes de
referência da família Miquelino.
Para a família
Miquelino, apenas direi que foram felizes por terem uma Mãe, como a tia Laida e
um Pai que sempre esteve ao seu lado da esposa, e, nos últimos tempos, lá
estava o casalinho Miquelino, sentados no banco encostado ao café do mercado,
conversando com o Chana-Rogério- Chico, Milo, Paulo Fá, João Careca
entre outros amigos, acariciando o sol, cheirando a maresia ou vaticinando o
tempo e o mar para amanhã, em que o tio Miquelino era um
"expert" da Meteorologia e raramente falhava.... Era a experiência da
vida, de um pescador em que o rio e o mar contavam os seus segredos...
Para a família
Miquelino, os sentidos pêsames de todos nós esposendenses, mesmo os que
estão longe da nossa terra-Fernando Rites-S.Luís do Maranhão no Brasil- entre
outros, que também sentirão a falta da tia Laida do Miquelino.
A tia Laida
repousará no "trono Divino" porque as mulheres boas merecem o Céu.
Carlos Manuel de Lima Barros
Esposende 26 de dezembro de 2012