quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Uma grande mulher, deixou-nos...

        Maria Adelaide Marques Miquelino era  tratada por  mim, por " tia Laida", estremosa mãe, virtuosa esposa e uma MULHER que enfrentou a vida com coragem, abnegação, luta perante as adversidades daquele  "tempo antigo"-, em que a vida era como "um touro bravo" que todos nós , especialmente os nossos pais, tinham de lidar e pegar o "animal” (vida) pelos cornos ou de cernelha. Era o tempo da fome, da miséria, da opressão, das carências gritantes que todos nós, portugueses, sentimos na pele.
Andar calçado ou vestir roupa nova, era um luxo para as crianças e adultos desse "tempo antigo", já que alguns amigos meus, só calçavam sapatos ou botas,  quando iam à missa ou iam a um passeio da escola à volta ao Minho ou ao Sameiro...
          Perante esta sociedade adversa, a tia Laida criou dez filhos, todos rapazes e raparigas  maravilhosas, de que nutro especial amizade desde o meu tempo de infância e, como ia dizendo, a tia Laida trabalhou como uma escrava, como  dizia o Zé Meira, seu familiar, labutando no dia a dia para sustentar a família, sempre com o tio Miquelino, seu marido,  a ajudar corajosamente, na faina piscatória ou  no exercício das suas funções, no "salva Vidas".
           Relembro-me perfeitamente, a tia Laida a chegar à loja/mercearia do meu tio Abílio Coutinho e dizia-me:
- Menino dá-me um litro de vinho!
-Olha pesa-me um quilo de farinha ou mede-me  meio litro de azeite!
 -Carlinhos pesa-me aquele bocado de sabão amarelo ou rosa! Esse não, mas o mais pequenino!...
- Menino, "assenta" aí  no rol ou paga-te daqui...
          Com a sua ímpar e sublime simpatia, a tia Laida despedia-se com um até logo, sempre  aflita pelas "andanças " dos filhos na ribeira ou nos quintais porque era proibido não brincar ou não jogar à bola...
             A tia Laida não olhava a meios para angariar umas "croas" para  sustento da família e à minha mãe, Jandira como feiranta, guardava-lhe os "paus da feira" no seu quintal e, mais tarde, deixava-os encostados à Alfândega e a tia Laida sabia, como ninguém, os proprietários desses "paus da feira" no meio daquela "selva" agrupada de paus e varas dos feirantes.
 Foi esta Ribeira da imagem,  que testemunhará, para os vindouros,  a vida árdua que os pescadores e peixeiras de Esposende sofreram na pele e o "monumento ao pescador" é o símbolo dessa tenacidade, coragem,  força musculada,  e sofrimento desta classe social e profissional que "carimbam" Esposende como "terra de   mareantes" e pescadores destemidos.
 Sempre que a via, o Carlinhos  da Jandira prestava-lhe a merecida vénia de  saudação porque a tia Laida e o sr. Miquelino são  "cidadãos desta pequena cidade" de que nos podemos orgulhar porque  são símbolos de luta e de trabalho que levaram a criar e formar os seus queridos filhos e filhas que são baluartes de referência da família Miquelino.
           Para a família Miquelino, apenas direi que foram felizes por terem uma Mãe, como a tia Laida e um Pai que sempre esteve ao seu lado da esposa, e, nos últimos tempos, lá estava o casalinho Miquelino, sentados no banco encostado ao café do mercado, conversando com o Chana-Rogério- Chico, Milo, Paulo Fá, João Careca entre outros amigos, acariciando o sol, cheirando a maresia ou vaticinando o tempo e o mar para amanhã, em que o tio Miquelino era um "expert" da Meteorologia e raramente falhava.... Era a experiência da vida, de um pescador em que o rio e o mar contavam os seus segredos...
         Para a família Miquelino, os sentidos pêsames de todos nós esposendenses, mesmo os que estão  longe da nossa terra-Fernando Rites-S.Luís do Maranhão no Brasil- entre outros, que também sentirão a falta da tia Laida do Miquelino.
           A tia Laida repousará no "trono Divino" porque as mulheres boas merecem o Céu.

Carlos Manuel de Lima Barros
Esposende 26 de dezembro de 2012

Faleceu Maria Adelaide Marques Miquelino, a Tia Laida



É com profundo pesar que o blog comunica o falecimento da Dona Maria Adelaide Marques Miquelino, a Tia Laida.
O corpo está em câmara ardente na Igreja Matriz, de onde vai sair amanhã, quinta-feira, dia 17, pelas 15h 30 para o Cemitério Municipal.
O “Blog ESPOSENDE E O SEU CONCELHO” apresenta sentidos pêsames à família enlutada. Paz à sua alma.
(Carlos Barros)

Concerto de Ano Novo

Republicação






No próximo dia 30 de Dezembro de 2012, às 16H30, a Banda de Música de Belinho realiza o CONCERTO DE ANO NOVO no Auditório Municipal de Esposende.

Do seu programa constam obras de John Williams, Gustav Holst, Bert Appermont, Erik Mast e Alfred Reed.
O Concerto terá como solista o jovem tubista Daniel Afonso, vencedor do Prémio Músico Revelação, atribuído pela Banda de Música de Belinho.
A direção está a cargo da maestrina Ana Carolina Capitão.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Poema do Menino Jesus

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
(...)

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.