quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

“Voz Desportiva do Jandirinha

Carlos Manuel de Lima Barros

Ativando a MEMÓRIA: “As velhas glórias do ESC”

Adelino Torres, avançado do centro do ESC, jogador de baixa estatura mas com um grande poder de elevação, marcando alguns golos determinantes nas vitórias do Esposende Sport Clube

 Era natural de Esposende e muito cedo começou a trabalhar, como tipógrafo, na Tipografia Cávado, sita na rua Barão de Esposende, antiga Rua do Feital, onde nasceu António Pereira da Mota, capitalista bem sucedido, negociante capitalista do Estado do Maranhão-Brasil- que, em 1879, recebeu o título de Barão de Esposende, pelas mãos do monarca, o Rei D. Luís I. Foi um dos grandes mentores e impulsionadores da construção da ponte sobre o rio e deve-se a este rico capitalista, outros melhoramentos na então vila de Esposende. E daí, a Rua do Feital ser rebatizada para Rua Barão de Esposende, em sua homenagem.

Foi o seu companheiro de trabalho, o senhor Belemino Ribeiro, ilustre esposendense com o qual, encetou uma forte amizade. Como é bom recordar, o livro “A Terra, o Homem e o Mar” de 2019-100 anos de Belemino Ribeiro, grande escultor  com os seus magníficos painéis e madeira!...Esposendenses e as suas gentes, eram as grandes e sentidas paixões deste ilustre escultor cuja cultura artística foi musicalmente enriquecida pelo seu querido e saudoso filho professor António Capitão Ribeiro, falecido no passado dia 5  de maio de 2025. Um homem bom, um professor, exemplar, esbelto compositor, um amigo sincero, humilde e extremamente educado e no desporto, estes princípios e valores defendidos e postos em prática por este insigne professor, deveriam ser seguidos nos campos e estádios do desporto em geral, deste nosso País, um Portugal que carece de uma RESTAURAÇÃO para revitalizar estes valores muitas vezes esquecidos.

O Adelino representou o Esposende, durante duas épocas, sendo um avançado codicioso, um “rato” de área e com excelente jogo de cabeça, apesar da sua baixa estatura, com enorme poder de impulsão. Embora jovem teve de emigrar para a França, como muitos outros portugueses, sendo mais um emigrante da comunidade portuguesa em terras gaulesas.

Jogou com o antigo jogador do S.C. do Braga, o guarda-redes Moreira, com o  Leonel Laguna, seu primo, Sotero, António Pinto, Saganito, Graça-Guarda-redes-, este foi funcionário do Casino da Póvoa de Varzim, entre outros atletas da “cantera do ESC”.

O guarda redes Graça, chegou a jogar no Sporting Clube de Portugal e em Esposende fez uma grande época, fazendo exibições de “encher o olho”, recordo-me de um desses jogos contra o poderoso FAFE (com grandes  jogadores como Portugal, Valença…)  em que o Esposende venceu por 3-0 impondo, na altura,  a primeira derrota aos fafenses que mais tarde, também foram vencidos por 1-0, com o golo do Esposende, a ser obtido por Bino, de Vila Chã, irmão do Central Carlos que também jogou militou no Esposende S.C.

Certo dia, o Adelino Torres, o Laguna e o Sotero foram treinar ao Riopele, que chegou a militar, durante um ano, na Primeira Divisão Nacional, (ano de 1977/78 ), clube fundado em 1958  e extinto em 1985, sendo o clube do centro campista Jorge Jesus, prestigiado treinador português, e este trio desejava acima de tudo, ganhar uns “cobres” e a Direção do Riopele pagava prémios de presença aos treinos e com o dinheiro recebido, estes amigos só pararam em tascos ou tabernas para beberem uns copos, umas sandes, bolinhos de bacalhau ou outro petisco que estivesse à mão.

O Fernando Torres, era irmão do Adelino e era um belíssimo jogadorde futebol, dispunha de muita habilidade e chegou mesmo a treinar nas camadas jovens do Benfica, na categoria dos juniores embora fosse cego de uma vista, que  condicionou a sua prática desportiva.

O Nelo Linhares, era diretor do Varzim e foi este dirigente que se deslocou a Esposende para o Adelino assinar o contrato e o clube pagava-lhe as viagens Esposende-Póvoa e vice-versa e mais 25 escudos por dia, uma quantia razoável para a época.

O Adelino jogou nos juniores do Varzim e era dos mais jovens jogadores do plantel varzinista e, segundo me confessou, ganhava mais dinheiro que alguns seniores da equipaprincipal. O treinador Berna, antigo jogador do Real Madrid, foi seu treinador e dizia ele para os seus jogadores da equipa senior:

- Se querem ganhar mais que o Adelino, joguem mais que ele…”

O Adelino e o Sotero chegaram a treinar no Gil Vicente, sob a presidência do senhor Henrique, e no Vianense, cujo diretor era um antigo dirigente da equipa de ciclismo do  -CEDEMI-., na década de 60- uma  antiga fábrica de boinas de Viana do Castelo. No CEDEMI recordo-me dos ciclistas Carlos Carvalho, José Azevedo, Mário Sá, Adélio Neves, Artur Moreira, Castro Lopes, José Precioso, Júlio Abreu entre outros-1965/66-.

Pontificaramno CEDEMI, em 1966 os ciclistas Joaquim Coelho, Jacinto Pontes, Venceslau Fernandes, José Azevedo da Silva, José Carlos Carvalho…

Ainda jovem, a minha pessoa com os meus 16 anos, presenciei alguns ciclistas do CEDEMI que se hospedaram em Esposende, na altura “Pensão Cirilo”, mais tarde ” Pensão Suave-Mar” e no passeio verificavam e oleavam as suas bicicletas.

Eu, com a bola de futebol de borracha, dada pelo meu pai, debaixo do braço, estava pronto para mais uma jogatana na ribeira, presenciava estes corredores que participavam na Volta a Portugal.

Em 1959 o treinador do Gil Vicente era o “Valdiverso”, técnico estrangeiro e num jogo de juniores o Gil Vicente tinha empatado 3-3 com o Aves eo Adelino Torres marcou um dos golos da equipa barcelense.

O senhor Lamela, distinto esposendense que residia com a sua família no Largo Rodrigues Sampaio, por cima do antigo Banco “Fonsecas e Burnay” com a sua simpatia e gentileza, transportou estes dois atletas a Barcelos no seu Citroen “Arrastadeira” para o campo de jogos de Barcelos e ir de táxi era luxo e a boleia era o recurso habitual destes amigos.

O antigo jogador do Belenenses Rafael chegou a treinar os juniores do Gil Vicente, durante uma época e mais tarde, transitou para os seniores e o Sotero foi seu jogador, durante uma época. Sotero Costa era um jogador muito veloz, extremo rapidíssimo e os seus centros eram, muitas vezes, mortíferos para as cabeças do Jorge, grande jogador, ex-varzinista, Adelino e outros avançados.

Os pais do Adelino, o senhor Adelino Torres, motorista da Empresa  Caetano Cascão Linhares  e a  D. Albertina Romana “não viam com bons olhos”  o seu filho Adelino como jogador de futebol porque ele era um reforço financeiro para a família, como trabalhador na Tipografia Cávado em Esposende e , honra seja feita, o dr. João Amândio, seu “patrão” fechava os olhos e deixava-o ir aos treinos, dispensando-o algumas horas , sendo seu amigo pela simpatia por este gesto. Era um “patrão condescendente e compreensivo, segundo me confessou”, facilitando  vida desportiva, neste caso de jogador de futebol.

O final da nossa conversa, muito informal, foi interrompida porque o badalo do sino da igreja, tocava os doze toques-badaladas- para o almoço que nos esperava.

Outros jogadores do ESC/ADE foram recordados como os forjanenses PORFÍRIO  e Serafim e um estendal de outros que com saudades, já “partiram”.

Passava junto ao Rio Doce, o “Fernando Inheco” que tinha vindo do Café Meira, cumprimentei-o e disse-lhe:

- Amigo Fernando, para a próxima tenho que falar contigo e com o seu lindo sorriso respondeu:

- Quando quiseres, estou pronto, desde que haja um fininho à minha frente…

Mais tarde, falamos e registei o seu testemunho e o seu percurso desportivo.

Esta entrevista, muito informal, realizou-se no dia 24 de setembro de 2013, junto à Igreja Matriz de Esposende, com os meus amigos Adelino Torres e Sotero Costa.

Neste dia 1 de dezembro, Dia da Restauração, restauramos a nossa memória desportiva, nos tempos do ESC/ADE.

Esposende, 01 de dezembro de 2025

 

V.D.J.,

Carlos Manuel de Lima Barros