Carlos Manuel de Lima Barros
Ativando a MEMÓRIA: “As velhas glórias do ESC”
Adelino Torres, avançado do centro do ESC, jogador de baixa estatura
mas com um grande poder de elevação, marcando alguns golos determinantes nas
vitórias do Esposende Sport Clube
Era natural de Esposende e muito
cedo começou a trabalhar, como tipógrafo, na Tipografia Cávado, sita na rua
Barão de Esposende, antiga Rua do Feital, onde nasceu António Pereira da Mota,
capitalista bem sucedido, negociante capitalista do Estado do Maranhão-Brasil-
que, em 1879, recebeu o título de Barão de Esposende, pelas mãos do monarca, o
Rei D. Luís I. Foi um dos grandes mentores e impulsionadores da construção da
ponte sobre o rio e deve-se a este rico capitalista, outros melhoramentos na
então vila de Esposende. E daí, a Rua do Feital ser rebatizada para Rua Barão
de Esposende, em sua homenagem.
Foi o seu companheiro de trabalho, o senhor Belemino Ribeiro, ilustre esposendense com o qual, encetou uma forte amizade. Como é bom recordar, o livro “A Terra, o Homem e o Mar” de 2019-100 anos de Belemino Ribeiro, grande escultor com os seus magníficos painéis e madeira!...Esposendenses e as suas gentes, eram as grandes e sentidas paixões deste ilustre escultor cuja cultura artística foi musicalmente enriquecida pelo seu querido e saudoso filho professor António Capitão Ribeiro, falecido no passado dia 5 de maio de 2025. Um homem bom, um professor, exemplar, esbelto compositor, um amigo sincero, humilde e extremamente educado e no desporto, estes princípios e valores defendidos e postos em prática por este insigne professor, deveriam ser seguidos nos campos e estádios do desporto em geral, deste nosso País, um Portugal que carece de uma RESTAURAÇÃO para revitalizar estes valores muitas vezes esquecidos.
O Adelino representou o Esposende, durante duas épocas, sendo um
avançado codicioso, um “rato” de área e com excelente jogo de cabeça, apesar da
sua baixa estatura, com enorme poder de impulsão. Embora jovem teve de emigrar
para a França, como muitos outros portugueses, sendo mais um emigrante da
comunidade portuguesa em terras gaulesas.
Jogou com o antigo jogador do S.C. do Braga, o guarda-redes Moreira,
com o Leonel Laguna, seu primo, Sotero,
António Pinto, Saganito, Graça-Guarda-redes-, este foi funcionário do Casino da
Póvoa de Varzim, entre outros atletas da “cantera do ESC”.
O guarda redes Graça, chegou a jogar no Sporting Clube de Portugal
e em Esposende fez uma grande época, fazendo exibições de “encher o olho”,
recordo-me de um desses jogos contra o poderoso FAFE (com grandes jogadores como Portugal, Valença…) em que o Esposende venceu por 3-0 impondo, na
altura, a primeira derrota aos fafenses
que mais tarde, também foram vencidos por 1-0, com o golo do Esposende, a ser
obtido por Bino, de Vila Chã, irmão do Central Carlos que também jogou militou
no Esposende S.C.
Certo dia, o Adelino Torres, o Laguna e o Sotero
foram treinar ao Riopele, que chegou a militar, durante um ano, na Primeira Divisão
Nacional, (ano de 1977/78 ), clube fundado em 1958 e extinto em 1985, sendo o clube do centro
campista Jorge Jesus, prestigiado treinador português, e este trio desejava
acima de tudo, ganhar uns “cobres” e a Direção do Riopele pagava prémios de
presença aos treinos e com o dinheiro recebido, estes amigos só pararam em
tascos ou tabernas para beberem uns copos, umas sandes, bolinhos de bacalhau ou
outro petisco que estivesse à mão.
O Fernando Torres, era irmão do Adelino e era um belíssimo jogadorde futebol,
dispunha de muita habilidade e chegou mesmo a treinar nas camadas jovens do
Benfica, na categoria dos juniores embora fosse cego de uma vista, que condicionou a sua prática desportiva.
O Nelo Linhares, era diretor do Varzim e foi este dirigente que se
deslocou a Esposende para o Adelino assinar o contrato e o clube pagava-lhe as
viagens Esposende-Póvoa e vice-versa e mais 25 escudos por dia, uma quantia razoável
para a época.
O Adelino jogou nos juniores do Varzim e era dos mais jovens
jogadores do plantel varzinista e, segundo me confessou, ganhava mais dinheiro
que alguns seniores da equipaprincipal. O treinador Berna, antigo jogador do
Real Madrid, foi seu treinador e dizia ele para os seus jogadores da equipa senior:
- Se querem ganhar mais que o Adelino, joguem mais que ele…”
O Adelino e o Sotero chegaram a treinar no Gil Vicente, sob
a presidência do senhor Henrique, e no Vianense, cujo diretor era um antigo
dirigente da equipa de ciclismo do
-CEDEMI-., na década de 60- uma
antiga fábrica de boinas de Viana do Castelo. No CEDEMI recordo-me dos
ciclistas Carlos Carvalho, José Azevedo, Mário Sá, Adélio Neves, Artur Moreira,
Castro Lopes, José Precioso, Júlio Abreu entre outros-1965/66-.
Pontificaramno CEDEMI, em 1966 os ciclistas Joaquim Coelho, Jacinto
Pontes, Venceslau Fernandes, José Azevedo da Silva, José Carlos Carvalho…
Ainda jovem, a minha pessoa com os meus 16 anos, presenciei alguns
ciclistas do CEDEMI que se hospedaram em Esposende, na altura “Pensão Cirilo”,
mais tarde ” Pensão Suave-Mar” e no passeio verificavam e oleavam as suas
bicicletas.
Eu, com a bola de futebol de borracha, dada pelo meu pai, debaixo do
braço, estava pronto para mais uma jogatana na ribeira, presenciava estes
corredores que participavam na Volta a Portugal.
Em 1959 o treinador do Gil Vicente era o “Valdiverso”, técnico
estrangeiro e num jogo de juniores o Gil Vicente tinha empatado 3-3 com o Aves
eo Adelino Torres marcou um dos golos da equipa barcelense.
O senhor Lamela, distinto esposendense que residia com a sua
família no Largo Rodrigues Sampaio, por cima do antigo Banco “Fonsecas e Burnay”
com a sua simpatia e gentileza, transportou estes dois atletas a Barcelos no seu
Citroen “Arrastadeira” para o campo de jogos de Barcelos e ir de táxi era luxo
e a boleia era o recurso habitual destes amigos.
O antigo jogador do Belenenses Rafael chegou a treinar os juniores do Gil
Vicente, durante uma época e mais tarde, transitou para os seniores e o Sotero
foi seu jogador, durante uma época. Sotero Costa era um jogador muito
veloz, extremo rapidíssimo e os seus centros eram, muitas vezes, mortíferos
para as cabeças do Jorge, grande jogador, ex-varzinista, Adelino e outros
avançados.
Os pais do Adelino, o senhor Adelino Torres, motorista da Empresa Caetano Cascão Linhares e a D.
Albertina Romana “não viam com bons olhos”
o seu filho Adelino como jogador de futebol porque ele era um reforço financeiro
para a família, como trabalhador na Tipografia Cávado em Esposende e , honra
seja feita, o dr. João Amândio, seu “patrão” fechava os olhos e deixava-o ir
aos treinos, dispensando-o algumas horas , sendo seu amigo pela simpatia por
este gesto. Era um “patrão condescendente e compreensivo, segundo me confessou”,
facilitando vida desportiva, neste caso
de jogador de futebol.
O final da nossa conversa, muito informal, foi interrompida porque o
badalo do sino da igreja, tocava os doze toques-badaladas- para o almoço que nos
esperava.
Outros jogadores do ESC/ADE foram recordados como os forjanenses PORFÍRIO e Serafim e um estendal de outros que com
saudades, já “partiram”.
Passava junto ao Rio Doce, o “Fernando Inheco” que tinha vindo do Café
Meira, cumprimentei-o e disse-lhe:
- Amigo Fernando, para a próxima tenho que falar contigo e com o seu
lindo sorriso respondeu:
- Quando quiseres, estou pronto, desde que haja um fininho à minha
frente…
Mais tarde, falamos e registei o seu testemunho e o seu percurso
desportivo.
Esta entrevista, muito informal, realizou-se no dia 24 de
setembro de 2013, junto à Igreja Matriz de Esposende, com os meus amigos
Adelino Torres e Sotero Costa.
Neste dia 1 de dezembro, Dia da Restauração, restauramos
a nossa memória desportiva, nos tempos do ESC/ADE.
Esposende, 01 de dezembro de 2025
V.D.J.,
Carlos
Manuel de Lima Barros