domingo, 26 de julho de 2020

“Pescador de histórias”

As  fanecas…

        No dia 18 de Julho de 2011, pela Travessa dos Pescadores, vindo da lota, o “BÓIAS” levava umas sacas  de fanecas grandes e um badejo, para o almoço, compradas na lota de Esposende.

        Calcorreando a velha calçada dessa Travessa dos Pescadores, olhou para casa do Saganito e disse para os seus botões que já estavam bem acordados:

-Quando ia pescar, com os meus 14 aninhos, vinha sempre comprar isca à Laida ou ao Tião Saganito que serviam bem as doses. Outras vezes, ia à Cândida Saganita  ou ao Dimas Paquete, velho amigo da “Escola Primária” que vendiam doses, por sinal,  muito bem servidas.

        Os botões, olharam para mim, e como não gostavam da pesca, esconderam-se nas suas casas, caseadas pela jandirinha, hábil costureira e modista e que, simultaneamente, era assídua feiranta nas feiras quinzenais de Esposende e mesmo de Barcelos, às quintas-feiras.

O “BÓIAS”, aboiando na sua  sensibilidade humana e solidária, passou pela casa da Márcia Laranjeira Rites que estava a fazer “Croché”, junto à sua casinha amarela, e cumprimentou-a, encetando uma sucinta conversa sobre o seu sobrinho Fernando Rites, que reside actualmente,  em S. Luís do Maranhão-Brasil-.

“O meu sobrinho é muito bom menino e, de pequenino, vinha cá “matar a fome” porque os tempos eram maus, confessou-me a Márcia, imbuída, como era habitual, de uma contagiante simpatia.

        Meu menino, vou-te contar uma passagem do meu sobrinho, disse a Márcia ao “BÓIAS”, cada vez mais envolvido nessa aliciante conversa:

 -“Tia,  disse em tom envergonhado o Nandinho,  fiquei a dever um café e não tenho dez tostões para pagá-lo!

Pega lá duas cinco croas-cinco escudos- e vai pagar, em corrida, o café que bebeste e não precisas de dever nada a ninguém, respondeu –lhe a tia…

        O Nandinho, meteu  “a terceira” e foi pagar a dívida ao senhor Franquelim da Havaneza e ficou feliz…

        O “BÓIAS” muito compenetrado e sentido, com este gesto da Márcia, poisou as sacas de plástico azuis e ofereceu uma grande faneca, uma pescada e uma cavala à Márcia que, ao princípio, não queria aceitar essa singela dádiva mas, depois mudou de opinião e foi buscar um prato, decorado com agrafes, onde colocou  o peixe.

A Márcia,  olhou para o “BÓIAS” e desabafou:

  -Meu filhinho, este peixe vai-me saber tão bem e logo fresquinho do nosso mar! Obrigadinho menino!

        O “BÓIAS” pegou nas sacas do peixe e foi em direção à Rua Nossa Senhora da Saúde, nº 45, onde a Jandira estava à espera das fanecas para o almoço, porque para o jantar já tinha comprado umas solhas à Tia Olívia, mulher do Zé Nibra.

        O “BÓIAS” entrou pelo “coberto” da casa, que dá para a “Travessa da Malapata” e a entrada  estava cheio de faúlha, comprada à Tia Maria da Gaiata de Góios e entregou o peixe à Jandirinha para ser cozinhado. Nesse dia havia uma nova comensal na cozinha, a Gena da Panança de Góios, uma grande amiga da Jandirinha e dotada de grande “veia poética” que ia almoçar porque tinha trazido ,à cabeça, um grande saco de espigas de Góios que seriam debulhadas na parte da tarde, no quintal.

        Ao “BÓIAS” soube-lhe mais as fanecas que deu à Márcia do que aquelas que comeu fritinhas com batatas e couves e no final da refeição foi tomar o seu cafezinho à Havaneza na companhia dos seus botões…

 

Nota: Esta história é real e aconteceu precisamente na data aqui descrita.

“Não interessa que é o “BÓIAS” o importante é o gosto pela partilha e pela solidariedade humana.

 

Esposende “confinado”, 26 de Julho de 2020

 


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