As fanecas…
No
dia 18 de Julho de 2011, pela Travessa dos Pescadores, vindo da lota, o “BÓIAS”
levava umas sacas de fanecas grandes e
um badejo, para o almoço, compradas na lota de Esposende.
Calcorreando
a velha calçada dessa Travessa dos Pescadores, olhou para casa do Saganito e
disse para os seus botões que já estavam bem acordados:
-Quando ia pescar, com os
meus 14 aninhos, vinha sempre comprar isca à Laida ou ao Tião Saganito que
serviam bem as doses. Outras vezes, ia à Cândida Saganita ou ao Dimas Paquete, velho amigo da “Escola
Primária” que vendiam doses, por sinal,
muito bem servidas.
Os botões, olharam para mim, e como não gostavam da pesca, esconderam-se nas suas casas, caseadas pela jandirinha, hábil costureira e modista e que, simultaneamente, era assídua feiranta nas feiras quinzenais de Esposende e mesmo de Barcelos, às quintas-feiras.
O “BÓIAS”, aboiando
na sua sensibilidade humana e solidária,
passou pela casa da Márcia Laranjeira Rites que estava a fazer “Croché”, junto
à sua casinha amarela, e cumprimentou-a, encetando uma sucinta conversa sobre o
seu sobrinho Fernando Rites, que reside actualmente, em S. Luís do Maranhão-Brasil-.
“O meu sobrinho é
muito bom menino e, de pequenino, vinha cá “matar a fome” porque os tempos eram
maus, confessou-me a Márcia, imbuída, como era habitual, de uma contagiante
simpatia.
Meu
menino, vou-te contar uma passagem do meu sobrinho, disse a Márcia ao “BÓIAS”,
cada vez mais envolvido nessa aliciante conversa:
-“Tia,
disse em tom envergonhado o Nandinho,
fiquei a dever um café e não tenho dez tostões para pagá-lo!
Pega lá duas cinco
croas-cinco escudos- e vai pagar, em corrida, o café que bebeste e não precisas
de dever nada a ninguém, respondeu –lhe a tia…
O Nandinho,
meteu “a terceira” e foi pagar a dívida
ao senhor Franquelim da Havaneza e ficou feliz…
O
“BÓIAS” muito compenetrado e sentido, com este gesto da Márcia, poisou as sacas
de plástico azuis e ofereceu uma grande faneca, uma pescada e uma cavala à Márcia
que, ao princípio, não queria aceitar essa singela dádiva mas, depois mudou de
opinião e foi buscar um prato, decorado com agrafes, onde colocou o peixe.
A Márcia, olhou para o “BÓIAS” e desabafou:
-Meu filhinho, este peixe vai-me saber tão
bem e logo fresquinho do nosso mar! Obrigadinho menino!
O
“BÓIAS” pegou nas sacas do peixe e foi em direção à Rua Nossa Senhora da Saúde,
nº 45, onde a Jandira estava à espera das fanecas para o almoço, porque para o
jantar já tinha comprado umas solhas à Tia Olívia, mulher do Zé Nibra.
O
“BÓIAS” entrou pelo “coberto” da casa, que dá para a “Travessa da Malapata” e a
entrada estava cheio de faúlha, comprada
à Tia Maria da Gaiata de Góios e entregou o peixe à Jandirinha para ser
cozinhado. Nesse dia havia uma nova comensal na cozinha, a Gena da Panança de
Góios, uma grande amiga da Jandirinha e dotada de grande “veia poética” que ia
almoçar porque tinha trazido ,à cabeça, um grande saco de espigas de Góios que
seriam debulhadas na parte da tarde, no quintal.
Ao
“BÓIAS” soube-lhe mais as fanecas que deu à Márcia do que aquelas que comeu
fritinhas com batatas e couves e no final da refeição foi tomar o seu cafezinho
à Havaneza na companhia dos seus botões…
Nota: Esta história é real e
aconteceu precisamente na data aqui descrita.
“Não interessa que é o
“BÓIAS” o importante é o gosto pela partilha e pela solidariedade humana.
Esposende “confinado”, 26 de Julho de 2020
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