Raquel Ochoa, vencedora do premio literário revelação Agustina Bessa-Luís, com o livro “A Casa-Comboio”, foi a convidada da iniciativa “À conversa com…”, da Biblioteca Municipal Manuel de Boaventura, em Esposende, no passado dia 3 de Dezembro, perante uma plateia atenta e interessada, que nem o frio desmotivou a participar.
Em representação do Município, a Vereadora da Cultura agradeceu a presença da escritora premiada, referindo ser uma honra recebê-la em Esposende, e recordou excertos de uma entrevista de Raquel Ochoa, em que esta referia que “no nosso país há muitos bons escritores e muitos poucos leitores”, pelo que a iniciativa “À conversa com…” pretende dar a conhecer os autores portugueses, incentivando a sua leitura. Jaqueline Areias referiu a importância da escrita, partilhando com a autora o pensamento de Ernest Hemingway, segundo o qual para escrever bem “só te resta fazer uma coisa: escreve a frase mais verdadeira que souberes”.
Raquel Ochoa, manifestamente satisfeita pelo convite recebido, nesse dia, para que apresentasse o livro premiado “A Casa-Comboio” na Índia, falou do contexto em que nasceu o romance, baseado numa história verídica, em que, acompanhando uma amiga numa viagem introspectiva à Índia, em busca do seu passado e identidade, se deu conta que essa incursão pelo passado daria um romance histórico extraordinário. Assim, o enredo deste romance “baseia-se na aventura de uma família indo-portuguesa, originária de Damão, que sobrevive e se adapta à turbulenta História mundial do último século, evocando uma saga nos tempos em que a Índia longínqua era portuguesa.”
Para a escrita deste romance, Raquel Ochoa voltou mais duas vezes à Índia, alojando-se sempre em casa de portugueses que lá residem, falam e escrevem português, constituindo esse facto uma forma única de conhecer o genuíno modo de vida de uma comunidade portuguesa, em vias de desaparecer. Aproveitou ainda para apelar ao conhecimento da nossa História, às circunstâncias da anexação, por parte da União Indiana, dos territórios portugueses da Índia, e que esperava que o seu livro despertasse a necessidade de apoiar formalmente a cultura indo portuguesa, fortemente ameaçada, pois a comunidade actual será, provavelmente, a última a falar e escrever português.
Por último, e depois de muitas perguntas por parte da assistência, Raquel Ochoa, também repórter de viagens, referiu que, sempre que ia a escolas, incentivava os jovens a viajar, poupando dinheiro de coisa supérfluas, pois as viagens e os contactos com civilizações e culturas diferentes enriquecem emocional e culturalmente. Partilhou com a assistência as duas viagens mais marcantes, a expedição aos Himalaias e a ida a Machu Picchu, cidade perdida dos Incas e à Patagónia.
Assim, “À conversa… com Raquel Ochoa” teve como tema o seu romance premiado, mas também outras “conversas”, nomeadamente a relação da literatura e das viagens. “Se, por algum motivo, nós não podemos viajar tanto como desejaríamos, temos ao nosso alcance formas de lá chegar e de conhecer. A literatura é, sem dúvida, uma delas. Eu tenho sempre uma premissa enquanto escrevo, um lema, que é “possam os vossos olhos ver o que os meus olhos viram”, referiu a escritora Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís.
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