CANTINHO DOS LOBOS DO MAR
As codornizes …
Histórias da Guiné
Existia no destacamento de
Nova Sintra uma caçadeira de um cozinheiro que
tinha sido comprada a um
comerciante em Bissau, uma arma usada e que não revelava a mínima segurança porque, algumas vezes, os cartuchos rebentavam no
cano, constituindo um perigo iminente.
Mas, os militares, muitas
vezes arriscavam e, lamentavelmente, não olhavam ao perigo e foi o caso do
furriel Barros que desafiou esse mesmo perigo.
Tendo como companhia o João
cozinheiro, o Barros foi caçar, ao fundo da pista de aviação, onde abundavam
muitas codornizes que estavam na fase da nidificação e, passados uns minutos,
foi vista uma codorniz, empoeirando-se no chão.
Furriel, olha alí uma
codorniz, está a vê-la, avisou o João Padeiro?
O Barros observou o chão e
viu uma codorniz, muito imobilizada e com a arma carregada, disparou um tiro e,
passados segundos, uma codorniz levantou , para o meio de um canavial.
O João apreensivo e moralizador com o resultado
do tiro, disse ao Barros que se esquecesse, pelo menos, feriu a codorniz que
supostamente, tinha caído no referido canavial, animou o seu amigo.
Os dois caçadores tinham
percorrido vinte metros e, mais
um pouco adiante, o João gritou a “sete foles”:
- Furriel, olha estão duas codornizes ali mortas com o seu tiro!...
O Barros nem queria
acreditar no sucesso da sua caçada e, provavelmente, estava um casal de
codornizes juntas, e o tiro atingiu-as sem o Barros se aperceber e estariam
mais algumas nesse bando, que fugiram esvoaçadas para o citado canavial.
O furriel nem deu mais um
passo para a frente, regressou com o seu amigo ao quartel, com as duas
codornizes presas ao cinto do camuflado, dando a transparecer que era um
autêntico caçador, mal sabiam os outros militares que aquela ridicula”matança”
fora obra do acaso…
Os Alferes Figueira e Felício felicitaram o
Barros pela caçada, com o Domingos Oliveira, do 3º grupo de combate, a
oferecer-se para as depenar, com a intenção de comer uma mas, o Barros já
“militar sabido” das manhas dos soldados, agradeceu a gentileza e foi ele mesmo
depená-las e os cozinheiros Eduardo e Rochinha prepararam o repasto,
limitando-se a “comer” o cheiro delas…
Na messe, o Barros deliciou-se com as duas
codornizes cozinhadas e deu duas perninhas, aos amigos Elias e Mendonça, uma a
cada um, porque não dava para mais…As perninhas dessas infelizes aves tinham
mais osso que carne…
O Sousa e o Vieira, Vago-Mestre,
tentaram provar o aperitivo mas o Barros apenas lhes deu um pouco do molho que
deslizou sobre o arroz com salsichas….
Foi melhor que nada!
Ex-Furriel Miliciano
Carlos
Barros
Guiné-Bissau- Quartel de Nova
Sintra 1973
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