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domingo, 14 de março de 2021

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

por Carlos Barros

As codornizes

Histórias da Guiné 

Existia no destacamento de Nova Sintra uma caçadeira de um cozinheiro que  tinha  sido comprada a um comerciante em Bissau, uma arma usada e que não revelava a mínima  segurança porque,  algumas vezes, os cartuchos rebentavam no cano, constituindo um perigo iminente.

Mas, os militares, muitas vezes arriscavam e, lamentavelmente, não olhavam ao perigo e foi o caso do furriel Barros que desafiou esse mesmo perigo.

Tendo como companhia o João cozinheiro, o Barros foi caçar, ao fundo da pista de aviação, onde abundavam muitas codornizes que estavam na fase da nidificação e, passados uns minutos, foi vista uma codorniz, empoeirando-se no chão.

Furriel, olha alí uma codorniz, está a vê-la, avisou o João Padeiro?

O Barros observou o chão e viu uma codorniz, muito imobilizada e com a arma carregada, disparou um tiro e, passados segundos, uma codorniz levantou , para o meio de um canavial.

O João apreensivo e moralizador com o resultado do tiro, disse ao Barros que se esquecesse, pelo menos, feriu a codorniz que supostamente, tinha caído no referido canavial, animou o seu amigo.

Os dois caçadores tinham percorrido  vinte  metros e, mais  um pouco adiante, o João gritou a “sete foles”:

- Furriel, olha estão duas codornizes ali mortas com o seu tiro!...

O Barros nem queria acreditar no sucesso da sua caçada e, provavelmente, estava um casal de codornizes juntas, e o tiro atingiu-as sem o Barros se aperceber e estariam mais algumas nesse bando, que fugiram esvoaçadas para o citado canavial.

O furriel nem deu mais um passo para a frente, regressou com o seu amigo ao quartel, com as duas codornizes presas ao cinto do camuflado, dando a transparecer que era um autêntico caçador, mal sabiam os outros militares que aquela ridicula”matança” fora obra do acaso…

  Os Alferes Figueira e Felício felicitaram o Barros pela caçada, com o Domingos Oliveira, do 3º grupo de combate, a oferecer-se para as depenar, com a intenção de comer uma mas, o Barros já “militar sabido” das manhas dos soldados, agradeceu a gentileza e foi ele mesmo depená-las e os cozinheiros Eduardo e Rochinha prepararam o repasto, limitando-se a “comer” o cheiro delas…

 Na messe, o Barros deliciou-se com as duas codornizes cozinhadas e deu duas perninhas, aos amigos Elias e Mendonça, uma a cada um, porque não dava para mais…As perninhas dessas infelizes aves tinham mais osso que carne…

O Sousa e o Vieira, Vago-Mestre, tentaram provar o aperitivo mas o Barros apenas lhes deu um pouco do molho que deslizou sobre o arroz com salsichas….

Foi melhor que nada!

                                                         

 

  Ex-Furriel Miliciano

    Carlos  Barros                                                

Guiné-Bissau- Quartel de Nova Sintra  1973


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