CANTINHO DOS LOBOS DO MAR
A
televisão a” gatinhar” em Esposende
Dia
Mundial da Televisão
O Dia Mundial da Televisão foi comemorado no
dia 21 de novembro, sendo proclamado em 1996 pela Assembleia Geral das Nações
Unidas, tendo como primaciais objectivos promover o intercâmbio mundial de
programas sobre a Paz, Segurança, Desenvolvimento Económico e questões sociais
e culturais.
Em 17 de dezembro
de 1996, já com o período do Natal a “bater à porta”, a Assembleia Geral das
Nações Unidas (A.G.N.U.), na Resolução 51/205, decidiu proclamar o Dia Mundial da televisão em 21 de novembro,
uma iniciativa considerada de grande impacto das Comunicações geotecnológicas
no cenário mundial.
A Televisão
Portuguesa. RTP, Canal Estatal, iniciou as suas emissões experimentais a 4 de setembro
de 1956, na Feira Popular em Lisboa, passando a 7 de março de 1957 às 21:30 a
emissão regular e a RTP possuía regras
próprias que outros Países não dispunham, porque Portugal tinha os Meios
de Comunicação Social , sob o controlo
implacável da Censura e só a queda do Estado Novo, a 25 de abril de 1974
concedeu uma maior liberdade e, por consequência, um certo grau de independência da sua
Programação.
Em 1957 a televisão veio despertar muita
curiosidade em Esposende e por todo o País em geral e nesta vila, banhada pelas
águas serenas e despoluídas do Cávado,
poucas casas dispunham de televisão sendo
instalada publicamente, pela primeira vez, na Casa do Povo de Esposende que funcionava
nas tardes de sábados e domingos.
O senhor Costa, residente em Perelhal-Barcelos, era um funcionário da Casa do Povo , homem extremamente zeloso e amigo das crianças, e quando aparecia nessas tardes para abrir a porta, inúmeras crianças esperavam-no para verem televisão geralmente desenhos animados-Gato Félix…- ou filmes de “Cow Boys” muitos apreciados pela criançada da ribeira que recebiam “formação” nesses filmes para as guerras norte-sul…
A televisão
também era vista, por alguns ribeirenses, na Casa Losa, que vendia televisores, e o
“maralhal” à socapa, espreitava pelas portas mas, eram sempre
visões rápidas e fugidías sobre o controlo e condescendência da D. Amélia Losa
e dos seus filhos, Manuel, Toninho e
Alexandre Losa.
Na Casa de Pasto do Torres, mais tarde,
explorada pelo senhor Licínio, na actual rua Nossa Senhora da Saúde, no local
onde está instalada a Biblioteca Manuel
Boaventura, aos sábado e domingos, pagavam-se cinco “croas” de rebuçados e
entrava-se para se ver no “ecrã mágico”
uns filmes e alguns escassos
jogos de futebol geralmente internacionais.
O dinheiro era escasso e alguns proventos da rapaziada, vinham das “receitas” dos jogos de futebol na ribeira onde se jogava a um escudo ou mesmo a cinco croas, o que era raro…Uns recadinhos a alguns comerciantes de Esposende e a venda de jornais e papelões velhos e mesmo algum ferro velho, garantia algum pecúlio financeiro, amealhando-se, deste modo, dinheiro para a Festa da Senhora da Saúde: carrinhos eléctricos, “cadeirinhas”, matraquilhos ou na compra de bolas e simples brinquedos- espingardas, pistolas de fulminantes, pandeiretas, espadas, arcos e flechas…- vendidos nos bazares do Souto da Senhora da Saúde
Em 1962 (época
de 1961/62) realizava-se, no dia 2 de maio, a sétima final dos Clubes Campeões Europeus,
entre o Benfica, treinado pelo “Magiar”
Bela Guttman e o Real Madrid, treinado por Miguel Munõz e os ribeirenses, mais
afoitos e ativos no futebol da ribeira, juntaram umas “croas”-patacos- e foram
ver essa final na Casa de Pasto do Torres
e após o pagamento dos rebuçados, lá entraram todos entusiasmados, subindo umas frias escadas de
pedra para se sentarem, no primeiro andar, nuns longos bancos “corridos” e
mesmo no soalho esburacado do chão, lavadinho com água e sabão amarelo comprado
na mercearia do Abílio Coutinho, no Largo Rodrigues Sampaio ou no Francisco
Areias..
Com a sala cheia
de crianças e alguns adultos, houve alegria e gritaria a “rodos” já que o Benfica ia marcando golos
com o Eusébio em grande nível, marcando 2 golos - 64´e 69´- apesar dos calafrios iniciais com o Puskas a
marcar 3 golos pelo imponente Real Madrid (1-0, 2-0; 2-1; 2-2; 3-2: 3-3; 3-4;
3-5 final para o Benfica).
O todo poderoso
Real Madrid de Araquistain, Gento, Tejada, Di Stéfano e de Puskas foi
justamente “humilhado” pelo Benfica de Costa Pereira, Germano, Coluna, Águas e
Eusébio entre outros briosos e heróis jogadores.
No final do
jogo, foi a festa e a correria para as casas porque o jantar, quando havia,
estava na mesa ou no sonhos dos meninos…
Estávamos no tempo dos “cromos”, dos
“papeizinhos” de jogadores que eram vendidos na Casa de Pasto Marino, na Loja
da Locádia e no Zé Arménio. Jogava-se
futebol na Ribeira, Junqueira, campo do Pinto ou do Emilinho a “papeizinhos”, uma espécie de “nota” que se
pagava aos vencedores… Não havia árbitros nem “VARs” e tudo corria bem, sempre
com discussões e ameaças mas, não passava disso…
Com o “andar do tempo” a televisão em
Esposende instalou-se nas casas e hoje é
raro o lar que não tenha um aparelho de televisão dotado de inúmeros canais e com outras imensas potencialidades informativas, recreativas e
culturais, onde o vínculo comercial é
bastante utilizado.
No dia seguinte,
3 de maio, houve logo no Estádio da Ribeira, um Real Madrid-Benfica, num “faz
de conta” e pelo Benfica improvisado com as equipas formadas-escolhidas- pelo
Tachi e pelo Carlinhos da Jandira e no final do jogo, tinha de ganhar o Benfica
como veio a acontecer já que nessa equipa jogavam os melhores jogadores da
Ribeira - Armindo Murraca, Arrebita, o Piolho, Augusto da Galga, Paulo Gatinho, Luizinho,
Tarrio, Carlinhos, …
Mais tarde, organizaram-se vários encontros, no Estádio
da Faustina, entre as equipas do Zé Feliz e do João Café, dois grandes
selecionadores da década de sessenta.
No final, na ideia dos jogadores do Zé Feliz,
quando se ganhava , havia a esperança de comer umas iscas ou bolinhos de
bacalhau ou uma posta de bacalhau frito com uns nacos de sêmea e, que por
vezes, acontecia…
Sem as atuais,
tecnologias as crianças e o jovens de Esposende, das décadas se cinquenta,
sessenta e setenta, brincavam felizes e
o pião, a corda, os jogos, o botão, a afunga –fisga-,o gancho com a gancheta, a motinha, as caricas, o jogo ao
prego, as corridas de ciclismo com as pasteleiras, os mergulhos no
rio-escadinhas-, os assaltos aos ninhos, pomares, cenouras, nabos de Gandra,
tudo isto e muito mais, alegravam as crianças desse tempo, muitos
deles-pescadores…- abandonavam a Escola, para trabalhar…
Nesse tempo, a
nossa sorte, foi não existir pandemia caso contrário, seriam crianças
“confinadamente infelizes” . Havia sim , outro
COVID 19 (Crianças de Ontem, Vivas, Irriquietas
e Despachadas, 19 …50,…60,…70…) num tempo quase “cósmico” onde se inventavam
brinquedos e se criava a felicidade, com a imaginação e a fantasia do
maravilhoso infantil.
Eu, como criança, que vivi nesses tempos difíceis, numa
sociedade economicamente e socialmente carente, onde o analfabetismo e a “incultura” predominavam e “Saber ler e
escrever” era uma dádiva dos céus, para muitos meninos e meninas desse tempo,
algumas destas, não brincavam porque tinham de apanhar isca para vender aos
banhistas ou apanhar sacas de plástico no final da feira quinzenal de
Esposende, para serem vendidas na Lota , junto ao Salva-Vidas, para pôr o peixe
que os pescadores vendiam na “ arrematação”. Quando “licitava” o peixe à
peixeiras de Esposende, dizia o divertido
Tio Sampaio às peixeiras:
- “Badalhocas, quereis o peixe de graça, suas p….as…”!
Era a luta pela sobrevivência no rio, mar, no campo, no monte, no pinhal, nas
feiras, nas lojas, nas tascas , nas mercearias e com um “mar cão”, os
pescadores ficavam em terra, socializando-se nas muitas tascas/tabernas que se
espalhavam por Esposende, contando as suas
histórias e algumas peripécias da
vida do domável rio e no indominável mar.
Todas estas e
muitas outras histórias e vivências, deveriam ser visionadas na Televisão, num
dia de nevoeiro, homenageando este Dia Mundial da Televisão, em memória das
gentes de Esposende.
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