4.º Seminário da RNCMR debateu
“A Etnografia e o Folclore do Mar de Esposende”
“A Cultura dos
mares e dos rios está muito bem representada em Esposende”- afirmou o
Presidente da Câmara Municipal de Esposende e da Rede Nacional da Cultura dos
Mares e dos Rios (RNCMR), no 4.º Seminário desta Rede, que decorreu ontem, 17
de novembro, no Fórum Municipal Rodrigues Sampaio, subordinado à temática “A
Etnografia e o Folclore do Mar de Esposende”.
O evento, que integrou as comemorações do Dia Nacional do
Mar, celebrado a 16 de novembro, promoveu a reflexão e o debate em torno do folclore
e da etnografia do mar, não só no que diz respeito a Esposende, como também aos
vizinhos concelhos de Viana do Castelo e da Póvoa de Varzim.
Na sessão de abertura, antecedida da projeção do filme
“Esposende e o seu Folclore”, o Presidente Benjamim Pereira deu nota do
envolvimento e do empenho do Município, que preside pelo segundo mandato
consecutivo à RNCMR, na defesa, promoção e valorização do ambiente e do mar. Lembrou,
a propósito, a criação da plataforma OMARE “Observatório Marinho de Esposende -
Portal de Informação da Biodiversidade Marinha do Litoral Norte de Portugal”,
publicamente apresentada no Dia Nacional do Mar, um projeto que resulta da
parceria entre a Câmara Municipal de Esposende, a Universidade do Minho e o
Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.
Benjamim Pereira realçou que Esposende,
enquanto município presidente da RNCM, abraçou um projeto de registo de
tecnologias e de tradições associadas à cultura ribeirinha, fluvial e
atlântica, que visa estudar para preservar e divulgar.
Aludindo ao 4.º Seminário da
RNCMR, assinalou que o folclore mantém vivas muitas das tradições locais, que
sobrevivem a par das danças e cantares nas atividades dos Ranchos ou Grupos
Etnográficos, notando que “Esposende
apresenta ainda um património cultural
relacionado com o mar e com os rios Cávado e Neiva muito ativo”. Exemplificou
com a Romaria de São Bartolomeu do Mar com o Banho Santo, candidata à Lista
Nacional de Património Cultural Imaterial em 2016, com o artesanato do junco
marítimo com um tipo de tecelagem e de cestaria de características
pré-industriais que ainda se pratica em Forjães, ou a “apanha do sargaço” que
ainda se faz para uso exclusivo na agricultura tradicional do concelho, usado
depois de seco ao sol como fertilizante, e popularizada principalmente nas
mareadas do sargaço, em Apúlia. Deu, ainda, nota do estudo da atividade
agro-marítima sargaceira, candidatada a Património Cultural Imaterial em 2005 e
atualmente na base do futuro núcleo museológico das paisagens do sargaço do
litoral de Esposende.
Concluiu, agradecendo ao
Almirante José Bastos Saldanha, um
dos fundadores da RNCMR e seu Vice-presidente, representando a Sociedade de
Geografia de Lisboa, o empenho e esforço deste organismo
em promover a construção de ferramentas de preservação do património cultural
dos mares e dos rios e da sua difusão.
José Bastos Saldanha saudou
a continuidade de Benjamim Pereira na presidência da Câmara Municipal, notando
que a Rede Nacional da Cultura dos Mares e dos Rios é “um projeto de
continuidade e em construção”, e elogiou a ação que tem sido desenvolvida pelo
Município de Esposende na presidência deste organismo. Referiu que o objetivo é
dar continuidade a esse trabalho, procurando envolver mais municípios. Ciente
dos grandes desafios que se apresentam à RNCMR, José Bastos Saldanha referiu
que é primordial “demonstrar o estado ambiental dos nossos mares”, que
considerou “a base para fundamentar a
intervenção de ordem económica”.
O Comissário Científico, Álvaro Campelo, realçou a
importância do conhecimento do passado e das tradições e defendeu a necessidade
de “construir uma economia azul”, afirmando que Esposende tem procurado
construir “uma identidade azul”.
O tema “Mares do Sargaço - mares vizinhos” deu o mote ao
primeiro painel, moderado pela Vereadora da Educação e Cultura do Município de
Esposende, Angélica Cruz, no qual foram apresentadas algumas boas práticas dos
concelhos de Viana do Castelo e da Póvoa de Varzim. Hermenegildo Viana, do
Museu do Traje de Viana do Castelo, falou sobre os “trajes do Litoral Vianense”,
Paulo Torres, Presidente da Junta de Freguesia de Castelo do Neiva – Museu do
Sargaço do Castelo do Neiva, debruçou-se sobre “O Argaço de Castelo do Neiva” e
Deolinda Carneiro, em representação do Museu de Etnografia e História da Póvoa
de Varzim, apresentou “O traje popular do litoral português e o vestuário do
Grupo Folclórico Poveiro”.
Num segundo painel, dedicado às “Paisagens do Sargaço - mar
de Esposende”, moderado pelo Vice-presidente da RNCMR, José Bastos Saldanha,
Artur Viana, do Parque Natural Litoral Norte, falou sobre “30 anos de Área
Protegida”; Manuel Dourado, do Grupo de Marinheiros de Fonte Boa, deu a
conhecer “Atividades Agro-marítimas de Fonte Boa”; Elsa Teixeira, do Museu
Marítimo de Esposende – Associação Forum Esposendense” centrou a sua
intervenção sobre a temática “Conservar o quê, para quê e para quem?”, e Filipe
Queiroga e Hélder Cardoso, do Grupo dos Sargaceiros da Casa do Povo de Apúlia,
falaram sobre “Apúlia e Sargaço – Uma relação entre a terra e o mar”.
No encerramento dos trabalhos, a Vereadora da Cultura do
Município de Esposende, Angélica Cruz, assinalou que já antes de presidir à
RNCMR, Esposende desenvolvia muitos e bons projetos no âmbito da cultura
piscatória e marinheira, mas também agro-marítima, nomeadamente relacionada com
o sargaço, envolvendo-se agora, também, noutros que passam pelas Redes locais,
como a Rede de Museus de Esposende, que promove o trabalho conjugado entre
todas as entidades museais do concelho, e a rede informal de agrupamentos
folclóricos que conta já com oito instituições, que inventariam e preservam os
valiosos e frágeis testemunhos da vida quotidiana de outrora.
Angélica Cruz expressou a sua satisfação pela partilha
cultural proporcionada neste 4.º Seminário da RNCMR. “Estamos perante um novo
caminho de investigação, de salvaguarda e de identidade cultural”, afirmou,
agradecendo a todos os oradores o seu contributo para a divulgação e
conhecimento sobre o folclore e a etnografia do mar, bem como “a participação
de quem, no terreno, preserva, mantém, divulga e garante a existência destes
valiosos patrimónios culturais ativos, os ranchos ou grupos folclóricos”. Deixou,
ainda, agradecimentos ao Comissário Científico Álvaro Campelo e ao
Vice-Presidente da Rede Nacional da Cultura dos Mares e dos Rios, José Bastos
Saldanha.