Antigas Glórias da ADE:
José
Fernando Loureiro Correia - (O Inheco)-;
O Fernando nasceu a 6 de abril de 1947 e
começou a dar os primeiros pontapés na bola, na ribeira de Esposende, iniciando
a “sua curta carreira” de jogador no Esposende S. C. aos 16 anos, tendo jogado
nos juniores do ESC , acabando a sua carreira em 1976.
Estava inscrito como jogador na F.P.F. com o
número 97.997, jogando como senior em 1971/1972, 1972/73, 1973/74, 1974/75,
1975/76, envergando a camisola do Esposende Sport Club.
A vida desportiva do Fernando Inheco, está
recheada de peripécias interessantes que aconteceram em vários campos de
futebol da Associação de Braga.
Num jogo entre o Esposende e o Ponte da
Barca, para o Campeonato, o Esposende perdia no reduto do seu adversário por
uma bola a zero e o saudoso senhor Braga que sempre assistia aos jogos, mandou
um recado para o banco para o Inheco, prometendo- lhe cinquenta escudos,
quantia razoável para essa época, por cada golo que marcasse.
A informação chegou aos ouvidos do Fernando e
no meio da segunda parte, o nosso craque abriu o livro e fez dois golos de
rompante, conseguindo a vitória para o Esposende que se defendeu muito bem ,
até final do jogo.
O
primeiro jogador a sair do balneário, foi o Inheco, que foi à procura do senhor
Braga para receber o “pataco” mas, para azar do Inheco, ele já estava de regresso a Esposende contudo,
mais tarde, o senhor Braga, como homem de palavra, apareceu na Havaneza, já que
o Zip Zip, estava fechado, e lá entregou os cem escudos em duas notas de
cinquenta, ao Fernando que enrolou uma
das notas de cinquenta no bolso, para o
tempo de crise, e a outra foi para as despesas no café e todo o mundo bebeu e
comeu com a nota de cinquenta escudos mas, a despesa final ultrapassou o
prometido, valeu novamente, o senhor Braga a liquidar o que faltava.
Foi
mais uma vitória do ESC, que possuía jogadores que suavam a camisola, não ganhavam praticamente nada, a não ser os
referidos lanches no Café Havaneza, Zip Zip ou na Nélia. O Fernando jogou com o António Pinto, Tião
Saganito, Passos, Carvalho, Leonel, Basilio, Jorge, Lázaro, João Muchacho,
Pais, Ferraz, Ramalho, Delfim, Sotero, e tantos outros atletas que honraram a
camisola do ESC.
O ESC
sagrou-se campeão Distrital de
Braga e foi promovido à Terceira Divisão Nacional (07-05/72) e a festa de
Campeões realizou-se no dia sete de
Maio e fazia parte da Direção os ilustres
esposendenses: Mário M. Henriques, Barreira, Lopes Dr. Reis, Armindo Duarte,
Dr. Juvenal-médico-, Armindo da “Fábrica”, Fernando Rego, Francisco Areias,
Manuel Rego, Pilar, António Terra, João
Vilarinho, e os saudosos senhores Braga
e Miranda.
Era um domingo especial, porque o Esposende deslocava-se ao Marinhas
para defrontar este vizinho que possuía uma equipa bastante forte e reforçada com
jogadores de boa craveira, sendo o
guarda-redes Fonseca o defensor das suas redes.
O Esposende estava a exibir-se bem e sofreu
um golo, o que espicaçou os jogadores esposendenses e, o Fernando Inheco, despertou e num grande remate do centro
marcou um excelente golo e, incrivelmente, o árbitro invalidou o tento e foi o
“fim do mundo” pois, os jogadores rodearam
o árbitro e quando menos se esperava, seguiram-se agressões e alguns jogadores “molharam a sopa” ao
árbitro e o Fernando Inheco e o Tião Saganito
foram expulsos e o Leonel Laguna
também sofreu ordem de expulsão. O jogo terminou aí e o Tião e Inheco ficaram
presos no balneário do campo de futebol mas, o Tião conseguiu fugir pelos campos e só
parou em Esposende, escondendo-se no café Marino, enquanto que as autoridades
–GNR- o procuravam na Ribeira.
O processo seguiu para as instâncias do
Conselho de Disciplina e o Fernando Inheco foi primeiramente, “Irradiado” e
mais tarde, a pena foi minimizada para três anos de suspensão e aqui acabou a
carreira do Fernando Inheco não, por culpa exclusiva dele, mas sim de um
árbitro mal intencionado que lhe invalidara um
excelente golo…
O João Muchacho e o Santos, jogadores que alinharam nesse jogo, não foram
castigados, embora cometessem “excessos” mas, felizmente, o árbitro não viu nem
registou essas infracções….
Numa das suas deslocações a Âncora Praia, para defrontar o Âncora - agora
Ancorense- para o Campeonato Distrital
da 1ª Divisão, o Esposende Sport Club
desfrutava de uma equipa muito combativa e competitiva, homens de “raça” e de boa
têmpera e nessa equipa destacava-se, como era habitual, o Fernando Inheco, um
jogador, para a época, soberbo e quando
estava inspirado, era jogador desequilibrador.
O ESC era treinado pelo “velho“ Laguna, e o
Fernando seu familiar, nem sempre levava uma vida regrada e deitava-se “às
tantas” nas vésperas dos jogos, o que não agradava ao seu tio. Nesse jogo entre o Âncora e o Esposende, o
Inheco foi colocado no banco de suplentes, o que geralmente não se incomodava
e, ao intervalo, o Esposende estava a perder por um a zero. Nesse espaço, o Fernando saiu do banco e foi
fazer as “necessidades”, numas austrálias, vegetação existente, junto ao campo
de futebol e o mestre Laguna andava à sua procura para entrar na segunda parte
porque o jogo estava feio. No reinício do jogo, o craque entrou, para espanto
da assistência que desconhecia aquele jogador, penteadinho, de caracolinho na
cabeça e ar vaidoso… Mas, passados uns minutos, o Inheco, em três grandes jogadas
fez três golos e o Esposende venceu o
seu opositor por três bolas a uma, perante a alegria do treinador Laguna e da
pouca assistência do Esposende.
O tio Laguna, no final do jogo, olhou para o
sobrinho e disse-lhe:
-
Malandro, poderias ser o melhor jogador português, não fosse a malandrice e a vagabundagem…
O Fernando olhou para o tio e respondeu:
Deixe lá de conversas, vamos mas é para a
Havaneza comer umas sandes e uns
“canecos” que o Jerónimo está à nossa espera…
No regresso, lá estava toda a equipa na
Havaneza, a comemorar a vitória e o Fernando a dar “show” a beber, bem
acompanhado pelo Tião Saganito que não lhe ficava atrás….
Ao balcão, o senhor Franquelim, apelidado
pelo “Calcinhas” esfregava as mãos pela receita e o senhor Porfírio, preocupado
pelas finanças, lá ia contando os “trocos” para pagar a despesa destes
valorosos atletas do ESC que, apesar de tudo, mereciam a merenda, geralmente
bem “regada”…
Em 1972 o Esposende ia receber o Marinhas no
campo Padre Sá Pereira e era o derby local há muito tempo esperado porque os
esposendenses ainda não tinham esquecido o jogo nas Marinhas que tinha sido interrompido , depois
daquele grande golo invalidado ao Inheco.
O campo encheu-se de assistência, uma bancada
repleta de apoiantes das duas equipas e o ESC fez uma grande exibição, goleando
o Marinhas por quatro bolas a zero e o Fernando Inheco, marcou três grandes
golos ao Fonseca, guarda-redes marinhense que só gritava para os colegas:
-
Marquem aquele Inheco…Marquem-no…
E o
Fernando olhava para ele e dizia:
- Toma
lá Fonseca, e as bolas eram disparadas como “balas” para dentro da baliza do
Marinhas… Era a desforra prometida e uma grande tarde do Inheco, mais uma…
No final
do jogo, o “empresário” Solinho, que adorava o Esposende, levou o Fernando e a
equipa para a Havaneza e foi comer e beber “até ao bico” e, como é natural,
pagou tudo para gaúdio do senhor Franquelim.
O amigo Pastor, que admirava o Inheco, tinha-o
alertado, dias antes, ao seu amigo Capitão, construtor da Construção Civil e
dirigente do Marinhas:
-Em Esposende,
o Marinhas com as fintinhas leva “abada” do Esposende…
O Capitão, com a sua habitual altivez, tinha
respondido, ao amigo:
- Vamos
ganhar sem espinhas a Esposende e aposto contigo Pastor!
No final
do jogo, o Pastor foi ao encontro do Capitão, este com ar abatido e disse-lhe:
- Toma
Capitão, foram quatro eu bem te avisei!...Eu avisei-te que o Inheco ia dar cabo
de vocês e acertei! Toma Capitão!...
Num célebre Esposende-Vianense (Desidério,
Cané…) o Esposende, depois de estar a perder com o seu opositor, o Inheco, que
estava ausente do jogo, “acordou” e com
dois pontapés fulminantes, em livres, marcou os dois golos do Esposende,
empatando o jogo, num dia chuvoso, com o terreno lamacento e escorregadio.
Ainda hoje, me recordo deste excelente jogo, era eu ainda criança em que o
senhor Porfírio me deixava entrar no campo, mas acompanhado do meu tio Abilio
Curvão…
O Fernando era mesmo assim, bom rapaz,
solidário, humano, com uma sentido de humor impar, e com ele não havia
tristezas contudo, o que o “matava” eram as “borgas” e as noitadas o que o prejudicava como jogador e quando
estava inspirado, era imparável, com a
sua velocidade estonteante e remate forte e colocadíssimo.
Entrevistas com o
Fernando Loureiro (Inheco), João Muchacho, A. Pinto, Sotero, Santos Coutinho
e Miguel Gomes.
Carlos Manuel de Lima Barros-
Esposende Sport Club e as “Velhas Glórias”
05-10-2015