sábado, 6 de julho de 2013

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR: Romão, o ”esquiador”… Por CARLOS BARROS

Romão, o ”esquiador”…
Por CARLOS BARROS

 A motora  Filomena Antonieta,  com o mestre  João Careca ao leme, regressava  do mar depois de uma boa pescaria e no porão, reinava a boa disposição entre todos os seus tripulantes, sendo dos mais animadores o Romão Miquelino, Alfredo Muchacho e o “Morrossol”, sempre  vítima das brincadeiras do finado Muchacho.
  O sol “espreguiçava-se” e estava quase a desaparecer na linha do horizonte.
  Na motora reinava boa disposição  e as águas do mar estavam amansadas  e “abrilhantadas” por uma serenidade crepuscular.
  O Milo, o “Morrossol” e o Muchacho piscaram o Romão para “esquiar”.
  Anda homem, não és homem não és nada senão ”esquiares”…
  Então, disse o Romão, vai haver agora um espetáculo…
  Toda a tripulação ficou em silêncio e o Milo começou a arregalar os olhos para o amigo “Magnório”, esperando a surpresa!
   O Romão pegou num “paneiro”, cheio de escamas e “langanhos”, atou-o às cordas do arrasto, que estavam presas  à poupa da motora e eis o Romão montado na prancha  de “surf”.
  O “toda a carga”, gritaram os tripulantes para o mestre João Careca, que estava a “milhas” do que estava a suceder…
  Com o motor barulhento e ferrugento da  Filomena Antonieta, a “todo o gaz”, o Romão começou a deslizar sobre as águas do mar, feito turista, durante breves segundos.
  De repente, o motor da motora abrandou e o Romão mergulhou no oceano, até ao fundo, depois de bater com a “mona” na poupa da motora.
  - Morrossol, o Romão  desapareceu,  disse o Muchacho aflitinho…
  O homem está afogado gritou  o Chico! Ele não aparece à tona!...
  Na casa do leme, o João Careca ao ouvir tanto rebuliço perguntou:
  - O que se está a passar aí?
  Vai haver “verdoada” grossa!...
  - O  Romão não aparece e está no fundo do mar, responderam, em uníssono, os tripulantes que estavam a assistir à tragédia.
  - Num último ato de desespero , os pescadores puxaram pelas cordas que amarrava a  “tábua-surf” e lá veio o  Romão  agarrado ao paneiro, já branco e com a boca cheia de areia.
  Uma vez içado para o porão, com muito esforço do Milo e do finado Muchacho,  o Romão  levou uns murros no estômago,  deitou cá para fora uns bons litros de água e começou a abrir os olhos.
   Está salvo, gritou o  Milo “Rosas”, todo contente.!
  Depois  de uns largos minutos de reanimação, o Romão  apareceu ressuscitado e prometeu nunca mais andar de “sequi” com esta tripulação “meia maluca” que o ia matando.
   A motora Filomena Antonieta quando chegou ao cais para descarregar o camarão e  o Romão ainda recuperava as sua débeis forças anímicas.
    As peixeiras, embrulhadas nos seus grossos xailes negros,  no cais norte, perguntaram:
    - João Careca, o que fizeram ao Romão que está branco como a cal?
   - Calem-se “almas negras” que ia acontecendo uma tragédia por causa destes três malucos e só me apetecia pegar no  bicheiro e fisgá-los a todos,  respondeu nervosamente  o João Careca.
   O  Romão  foi “descarregado” no cais e, lentamente, dirigiu-me para  a rampa do cais, cheio de limo, e estava ainda meio atordoado.
   O Milo e o “Morrossol” levaram-no a casa depois de lhe tirarem a areia grossa da boca e dos ouvidos.
     Não digam nada ao meu pai, senão dá-me “cabo do corpo”,  choramingou  o Romão aos seus amigos.
     Podes estar descansado, disseram eles, nós não “abrimos o bico”.
     No dia seguinte, o nosso amigo  Romão, todo aperaltado, com a revista “O último desejo”, emprestada pelo Morrossol”  debaixo do braço, fazendo-se de “doutor”,  foi  passear pela ribeira, tentando-se livrar do grande susto do dia anterior.
    O Romão uma vez na ribeira, sentou-se perto dos juncais e varais, onde estava um polvo a secar, começou a folhear a revista do “Último desejo” que o “Morrossol” lhe tinha emprestado e adormeceu uma soneca, só acordando com o chilrear dos “charréus” que  comiam as amoras das silvas.
     Quando acordou, estava o Morrosssol junto dele e perguntou-lhe:
     Já leste a revista, “ó ranhoso”?
     O Romão olhou para o seu companheiro e respondeu:
     - Sabes qual  era  o “meu último desejo”?
     - Não, disse o “Morrossol” ao Romão  que estava  meio sonolento.
    Olha o meu último desejo, era não te ver mais, desabafou o Romão para o seu amigo… 

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