sábado, 14 de setembro de 2013

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR - CARLOS BARROS: Uma caçada atribulada.

Republicação 
Uma caçada atribulada.

 Por CARLOS BARROS



   Decorria o ano de mil novecentos e sessenta e três, pela tardinha, junto à igreja Matriz, e a garotada estava já nas suas  aventuras  com o Tonho, Melro e Hilário, este sempre medricas, em plena rua, a imaginarem estratégias para a malandrice.
   Nesse dia, o Tonho não tinha ido às solhas com a equipa dos costume, Carlos da Arranca, Miguéis e o pai, senhor João Calhandra, tudo em família e resolveu  “virar-se para a Natureza”, nas suas habituais aventuras.
   Junto à casa do Tonho existiam duas grandes e frondosas árvores e as flauzinhas, aves simpáticas e irrequietas, dançavam de ramo em ramo, preparando a dormida, uma vez que a noite estava prestes a chegar.
   O Tonho e o Melro, como sempre hábeis caçadores de pardais, pegaram nas suas “afungas” e começaram a atirar às flauzinhas, com aqueles godos redondinhos apanhados na praia ou junto aos materiais de construção.
   Tanto azar que estes rebeldes foram surpreendidos por um GNR que estava  no patrulhamento à caça  “das crianças”…  O agente, de “plainites “sebosos,  pediu a fisga ao Tonho, que estava prestes a entregá-la à autoridade, quando, de repente, o Melrinho,  gritou para não lha dar. O Tonho não teve com meias medidas e começou a fugir pela estrada fora, com o Melrinho num longo “sprint” ficando o GNR todo furioso pela inesperada fuga destas duas crianças sempre irrequietas e aventureiras.
  No dia seguinte, foram chamadas ao posto e quando entraram neste tenebroso e repressivo lugar, o guarda republicano pegou num cinturão para castigar estes infratores. Com um ar ameaçador, o GNR olhou furioso para estas duas “trutas” e mandou cada um deles dar uma chapada um ao outro e, com muito custo, estes dois garotos lá deram a bofetada da praxe. O  Melro, de mão pesada, deu um bofetão mais forte,  ao Tonho e este  ameaçou-o:
  -Lá fora “vais comer” forte e feio…
   Quando iam sair do Posto da GNR, o Cabo perguntou ao praça porque razão aqueles malandros não estavam presos?
  -O agente  respondeu que eles já tinham “levado no lombo…”
  Já na rua, o Hilário juntou-se a estes seus amigos e com a fisga ao pescoço lá foram eles para novas caçadas às flauzinhas, melros e charréus para os campos do Quim da Obra e por entre os silvados, com o Mouquinho a juntar-se  à `”quadrilha” porque tinham de ter caça para o jantar e a fritadeira estava à espera dos pássaros.-
   O “graem, graem…” caça aos melros…, gritava o Mouquinho!
    No regresso o Tonho viu umas “luras” de abelhas e começou a “chuscar” e de repente, o enxame atacou-o furiosamente e o Albano “Penico” que se encontrava escondido, atrás de uma figueira, foi picado várias vezes.
   Os nossos amigos, meteram-se entre os milheirais dos campos do Zão e puseram-se a salvo, depois de tropeçarem  numa grande abóbora.
    Quando todos chegaram a casa pela  noitinha, o “triunvirato” entrou, cada um nas suas casas, com as mãos na cabeça, premiados com “galos” e juraram nunca mais se meterem com as abelhas.
AGOSTO/CARLOS BARROS

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