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quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

Republicação

Um recreio atribulado…

 Já em pleno Julho de 1962, com o sol a suspirar a neblina matinal,  a Escola Primária de Esposende respirava  de entusiasmo e de alegria com os seus alunos fervilhando  a sua incontida energia,  nas suas correrias, jogo aos ladrões e  “aí vai peixe”, eram aqueles minutos muito saborosos, fora da sala de aula e longe das canas e da  repressiva palmatória que a “criançada” tanto se atemorizava..

 O professor Carlos M. estava a conversar com o seu amigo João Conde, deambulando pelo pátio interno da escola, era o momento certo para desfrutar da pouca liberdade que as crianças dispunham na escola e o recreio era o espaço ideal para abraçar essa mesma liberdade tão desejada!

 Com a mesa de “pingue pongue”, colocada ao fundo do corredor da escola, o Romão, o Fernando Quintino e o Torradinhas,na companhia de outros colegas, andavam à roda da mesa ao “apanhas”, com o professor Carlos M. junto ao portão da entrada, despedindo-se do deu amigo João Conde Evangelista. O Fernando, que andava com os seus socos,- calçava os sapatos apenas aos domingos para ir à missa-, não esteve com “meias medidas”, apontou a arma-soco- à cabeça do Torradinhas, que habilmente se esgueirou, e o “projéctil”atingiu um dos vidros da Escola e foi uma “estardalhaço” que alvoraçou toda a gente e, passados segundos, veio o professor Carlos M. , com o seu ar altivo e “caústico” e mandou os “beligerantes” para a sala, menos o Torradinhas que já tinha desaparecido a “sete léguas”no momento do incidente.Quando “cheirava a esturro”, o amigo Torradinhas, fugia a “sete ventos”…

Dentro da sala de aula, em pleno estrado, após uma breve conversa, o Fernando levou umas valentes palmatoadas, com a “santa luzia” e as suas mãos ficaram “queimadas” de tanto levar e o astuto Romão, que andava sempre na berlinda, fez-se “mula”e inocente e milagrosamente, não foi castigado.

 A D. Hortênsia, contínua da escola, lá animou o Fernando Quintino que não parava de chorar e valeu-lhe uma côdea de pão que a D. Júlia tinha no avental, para o acalmar, e olhando de soslaio para o Romão, disse-lhe:

- Seu vadio, fostes esperto mas, espera que para a próxima vez, quando fizeres alguma, vou fazer queixa ao professor Carlos M. e vais “comer até ao céu da boca”…

O Romão impávido e sereno apenas desabafou:

Hoje já “almoçaste” bem e essas “ninguém tas tira”…

 

“O BÓIAS”

13 de Outubro de 2016

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