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domingo, 24 de novembro de 2019

Município de Esposende


Município de Esposende reclama solução urgente e definitiva para a barra
Na sequência do agravamento das condições da barra de Esposende, que impede o desenvolvimento da atividade piscatória local, o Município de Esposende está a desenvolver esforços na busca de uma solução para este problema.

Neste sentido, e tal como tinha sido adiantado pelo Presidente da Câmara Municipal de Esposende, Benjamim Pereira, o Município aprovou hoje, em reunião do executivo e por unanimidade, uma proposta a solicitar a intervenção do Ministério do Ambiente, com vista a uma solução definitiva, e a solicitar o reconhecimento do interesse estratégico do rio Cávado para a região, bem como a urgência das intervenções solicitadas, por parte da Comunidade Intermunicipal do Cávado e Conselho Regional do Norte, órgão consultivo da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N). A proposta, que remetemos em anexo, será submetida à aprovação da Assembleia Municipal de Esposende, na sessão que decorrerá na próxima segunda-feira, dia 25 de novembro, às 21h00.


O objetivo é congregar forças de todas as partes interessadas, tanto a nível local, como regional e nacional, que permita a implementação urgente de uma intervenção que dê garantias de estabilidade e durabilidade, no sentido de assegurar a salvaguarda da atividade económica local, a segurança de pessoas e bens e a proteção dos valores paisagísticos e ambientais. Com efeito, além da atividade piscatória, está também em causa a segurança da própria cidade, pelo que o Município entendeu encomendar, por sua conta e no âmbito de uma candidatura ao POSEUR (Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos), um estudo/projeto que preconize a solução definitiva que se impõe.

No âmbito das diligências do Município, foi agendada para o próximo dia 13 de dezembro, às 10h00, a audiência solicitada ao Ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, reunião na qual participarão o Presidente da Câmara Municipal de Esposende, Benjamim Pereira, o Presidente da Associação dos Pescadores Profissionais do Concelho de Esposende, Augusto Silva, o Capitão do Porto de Viana do Castelo, Sameiro Matias, e o Vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Pimenta Machado.






PROPOSTA
Restinga e Barra do rio Cávado

A barra de Esposende é das mais perigosas do País tendo, por este facto, ocorrido nas últimas décadas inúmeras mortes de pescadores no nosso concelho, vítimas dos golpes do mar, causados pelo assoreamento da barra. 
A morte destes pescadores está inegavelmente associada às elevadas dificuldades de acesso ao mar, provocados pelos problemas da Barra. Problemas há muito identificados e reportados às autoridades competentes pela Câmara Municipal de Esposende.
É certo que ao longo dos anos têm vindo a ser elaborados estudos com vista à resolução deste problema tão grave, assim como também é verdade que, mesmo existindo estes estudos, o problema da Barra de Esposende continua por solucionar, colocando todos os dias em perigo a classe piscatória de Esposende bem como as embarcações de recreio, já para não falarmos do próprio perigo a que a cidade de Esposende se encontra exposta.
Como é, também, do conhecimento geral, o Município de Esposende alberga tradicionais comunidades piscatórias que são, desde sempre, uma das nossas principais atividades económicas, a par da agricultura, do turismo e de algum comércio e indústria.
São inúmeros os pescadores com atividade regular no nosso concelho, que se constituem como base laboral de imensos agregados familiares, e que fazem de uma pesca ainda com grandes índices de artesanalidade o respetivo sustento.
A atividade piscatória, especialmente a artesanal, é uma atividade largamente dependente das condições atmosféricas, da navegabilidade das barras e de outros fatores a que os pescadores são completamente alheios mas que condicionam fortemente a sua atividade e, por consequência, os rendimentos dela dependente.
As deficientes condições da Barra de Esposende, que sucessivos governos se comprometeram a resolver sem que nunca o tenham feito, dificulta  de sobremaneira  a atividade dos pescadores,  colocando-os numa situação de desespero e potencialmente dramática. Não trabalhando não auferem rendimentos, daí que muitas vezes arrisquem enfrentar o mar, com as consequências trágicas que se conhecem.
Apesar da resenha histórica evidenciar numerosos estudos e propostas de intervenção para a Barra do Cávado, grande parte de tais intervenções nunca foram concretizadas ou foram-no sem obtenção do sucesso almejado em termos de navegabilidade e condições de segurança.
A Câmara Municipal de Esposende está empenhada na manutenção das suas comunidades piscatórias vindo, por isso, há muito tempo a exigir a resolução do problema da barra e de outras dificuldades com que essa comunidade se confronta.
É uma atividade tradicional do concelho, uma saída profissional para muitos jovens em busca de emprego, uma diversificação possível e desejável numa região em que as atividades terciárias ganham cada vez maior preponderância em detrimento das primárias e secundárias.
Neste sentido, temos feito todos os esforços para minimizar tão grave problema.
Reunimos, com frequência, com os responsáveis da Associação de Pescadores Profissionais do Concelho de Esposende, sendo que nos vão dando nota da situação dramática que vivem, pois, já não bastando o estado em que se encontra a Barra de Esposende, a mesma é constantemente encerrada por parte do Comando do Porto de Viana do Castelo, devido às suas condições.
Assim, e em suma, o Município de Esposende entende ser seu dever solicitar junto da tutela, o reconhecimento da extrema relevância de se definir uma solução de caráter definitivo, técnica e cientificamente fundamentada, exequível sob o ponto de vista económico e ambiental, e que permita assegurar que os recorrentes problemas em presença, e que têm perdurado ao longo dos tempos, são solucionados.


Resenha histórica

Apesar da resenha histórica evidenciar numerosos estudos e propostas de intervenção para a Barra do Cávado, grande parte de tais intervenções nunca foram concretizadas ou foram-no sem obtenção do sucesso almejado em termos de navegabilidade e condições de segurança.

Em 2010 foi criado um Grupo de Trabalho para a Restinga do Cávado (Despachos nº 10198/2010-D.R. 2ª Série, 17 Junho 2010 dos Exmos. Senhores Secretário de Estado dos Transportes e Secretária de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades e nº 16022/2009 - D.R. 2ª Série, 14 Julho 2009), com a missão de “preparação de uma primeira abordagem a uma solução integrada que permita acautelar a sustentabilidade da restinga do Cávado, potenciando as condições de acesso às instalações portuárias existentes”. Este Grupo de Trabalho, coordenado pelo Prof. Doutor Veloso Gomes (FEUP), debateu e considerou existir a necessidade de intervenções como forma de minimizar os vários problemas que assolam esta área, tendo apresentado o relatório final à tutela em fevereiro de 2011.

Posteriormente, e segundo o relatório do Grupo de Trabalho para o Litoral, coordenado pelo Prof. Doutor Filipe Duarte Santos, publicado em 2014, o investimento no concelho de Esposende em obras de defesa costeira correspondia a apenas 1,7% do investimento total no país. A título de exemplo, refira-se que apenas no verão de 2014, numa intervenção com duração de cerca de 2 meses nas praias da Costa da Caparica, foi realizada a alimentação artificial de areias num volume total superior a 1 milhão de m3!
Segundo o programa da RTP “Horizontes da Memória”, do Prof. José Hermano Saraiva (2002), a primeira reclamação/reivindicação da população de Esposende relativa ao estado da Barra do Rio Cávado, e em particular ao seu assoreamento, é datada de 1795.

As intervenções efetuadas no estuário inferior do Cávado nas últimas décadas foram da responsabilidade do Ministério do Ambiente e datam de 1994, 1998, 2001 e 2006, à qual se junta a última intervenção da Sociedade Polis Litoral Norte, em 2015, através da solução de reforço da Restinga com base em geocilindros. Apesar de essenciais, revestiram-se de um carácter localizado e sem capacidade de mitigar a médio/longo prazo os problemas crónicos da Barra e Restinga do Cávado.

Tiveram como objetivo a recuperação do troço final da restinga do Cávado, não abrangendo uma extensão suficiente que favorecesse as cotas de operacionalidade da navegação de pesca e recreio, e nunca se concretizou qualquer intervenção que possibilitasse a melhoria das condições de navegabilidade do canal do rio Cávado, bem como no acesso às Docas de Recreio e de Pesca, excetuando-se a intervenção de dragagem da doca de Pesca, levada a cabo em 2015 pela Câmara Municipal.

As intervenções realizadas resultaram quase sempre de processos reativos de recuperação e reforço da restinga particularmente afetada por temporais mais intensos, como foram os casos dos invernos de 2005 e 2014, tendo originado as intervenções de 2006 e 2015. Estas operações destinaram-se a reforçar o frágil corpo da restinga mais próximo da sua extremidade, o qual constitui a “defesa” natural da marginal da cidade de Esposende em relação às ações da agitação marítima.

No Estudo de Impacte Ambiental (EIA) levado a cabo em 2003, foi considerada a avaliação ambiental comparativa da Alternativa Zero e das Alternativas 1, 2 e 3, sendo que a alternativa 3 foi desenvolvida no início dos trabalhos do EIA (quando se constatou ser necessário considerar nova alternativa de projeto que permitisse a compatibilização dos objetivos do projeto de melhoria da navegabilidade e transposição da barra, com a sensibilidade ambiental da área de estudo):
- Alternativa 1: Consistia na manutenção da configuração da embocadura e recurso a operações de dragagens periódicas para obtenção de fundos no canal de acesso e no passe da barra, sendo os materiais dragados para o robustecimento da restinga.
- Alternativa 2: Consistia na fixação da embocadura existente com dois molhes de taludes, um a Norte com cerca de 160 m de extensão e outro a Sul com cerca de 310m, definindo uma abertura de cerca de 100 m de largura. Contemplava ainda a dragagem de um canal entre o passe da barra e a zona do porto de pesca e núcleo de estaleiros, numa extensão total de 2400 m.
- Alternativa 3: Semelhante à Alternativa 2, mas com dois molhes de taludes mais curtos, um a Norte com cerca de 120 m de extensão e outro a Sul com cerca de 300m, definindo uma abertura de cerca de 100 m de largura.

Representação das Alternativas propostas no EIA para a Barra do Rio Cávado


O EIA concluiu pela Alternativa 3 como sendo a ambientalmente mais favorável, atendendo aos objetivos do projeto. Da sujeição do projeto e EIA a procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA), resultou uma Declaração de Impacte Ambiental favorável condicionada à Alternativa 1, com condicionantes em muitos casos desproporcionais ao projeto. Esta incongruência entre a fase de EIA e de AIA, levou a que muito provavelmente não tenha havido desfecho positivo para este processo.
A solução viabilizada pela Autoridade de AIA, corresponde praticamente à “alternativa zero” (dragagens equivalentes às de manutenção, com dragagem à cota -1,6 m (ZH) em vez de – 1,0 m (ZH)). Contudo, isto não resolve os problemas de acessibilidade e segurança ao porto de Esposende, dada a grande instabilidade da barra e mobilidade da restinga.

De acordo com as conclusões do Grupo de Trabalho para a Restinga do Cávado, torna-se necessário assumir a implementação efetiva do Plano Plurianual de Dragagens dos Portos do Norte, onde se integra o Porto de Esposende. As futuras intervenções de dragagem de manutenção no Cávado deveriam ser enquadradas num programa plurianual que envolvesse outras áreas portuárias e piscatórias, de forma a reduzir os custos de escala e de mobilização de equipamentos e a atender mais rapidamente a ocorrências graves e imprevisíveis de assoreamento.

A realização de dragagens de manutenção assume maior expressão nos portos do norte do país, sujeitos a condições de mar e de agitação marítima mais gravosas e com correntes de marés com maior capacidade de transporte sedimentar, promovendo, com frequência, o assoreamento das barras e canais de navegação. A situação da barra de Esposende e do canal de navegação do rio Cávado é particularmente mais crítica, face às características muito peculiares da restinga do Cávado.



A situação verificada com a deterioração da estrutura de geocilindros da restinga do Cávado, para além de deixar de assegurar a finalidade para a qual tinha sido implementada (retenção das areias e manutenção da estrutura da restinga), acarretou problemas ao nível da segurança e navegação que não podem ser menosprezados, considerando a deriva de grandes quantidades de materiais provenientes dos geocilindros.  

A estabilidade e resiliência da Restinga do Cávado é de fulcral importância para a cidade de Esposende, pois constitui uma barreira natural de defesa contra o avanço do mar, para além de ser um espaço de singular beleza natural e paisagística, que contempla habitats importantes do Parque Natural do Litoral Norte.

Importa garantir que os investimentos realizados são duradouros e com um período de vida útil o mais longo possível e que sejam asseguradas condições de navegabilidade e de acesso ao mar que permitam, por um lado a manutenção da atividade piscatória local, importante para a economia da cidade, e por outro lado, o desenvolvimento do turismo náutico enquanto vetor estratégico para o desenvolvimento sustentável do concelho de Esposende.

Mais recentemente a Câmara Municipal, dada a extrema relevância do problema e por força do agravamento das condições que se vem registando, apresentou uma candidatura ao POSEUR, denominada de Estudo de caracterização de riscos e programa de intervenção para a proteção da Restinga de Ofir e Barra do Cávado, o qual está em fase inicial de trabalhos.

De facto, a não implementação dos resultados deste estudo contribuirá para que continue a não existir soluções para a estabilização do sistema dunar que forma a restinga, assim como para a melhoria das condições de navegabilidade no rio e na barra em particular, que atualmente coloca em perigo todos aqueles que nele navegam. Por outro lado, as situações de risco poderão vir a aumentar colocando em causa a segurança de pessoas e bens.

Assim:

Considerando que o Rio Cávado não é apenas um problema de esposende mas sim um problema do distrito de braga e da própria região norte;

Considerando o valor ambiental e ecológico, o potencial económico de toda a região do cávado;

Considerando que a não resolução do problema da barra e da dragagem do rio cávado estão diretamente associados à não existência de soluções para a estabilização do sistema dunar que forma a restinga, assim como para a melhoria das condições de navegabilidade no rio e na barra em particular, que atualmente coloca em perigo todos aqueles que nele navegam e, por outro lado, as situações de risco poderão vir a aumentar colocando em causa a segurança de pessoas e bens e da própria cidade de esposende;

Considerando que se avizinha um novo quadro comunitário de apoio, com forte incidência sobre a problemática das alterações climáticas;

Propõe-se ao órgão executivo delibere submeter este documento à apreciação e deliberação da Assembleia Municipal para que este órgão delibere no sentido de que:

O Município de Esposende solicite junto da tutela, numa ótica de sensibilizar para a importância estratégica local, distrital e regional do rio cávado, o reconhecimento da extrema relevância de se definir uma solução de caráter definitivo, técnica e cientificamente fundamentada, exequível sob o ponto de vista económico e ambiental, e que permita assegurar que os recorrentes problemas em presença, e que têm perdurado ao longo dos tempos, são solucionados.

O Município de Esposende entende que se impõe, pois, uma séria e empenhada tentativa de encontrar uma solução, congregando forças de todas as partes interessadas, quer ao nível local, quer ao nível regional e nacional, que permita a implementação urgente de uma intervenção que dê garantias de estabilidade e durabilidade, no sentido de assegurar a salvaguarda da atividade económica local, a segurança de pessoas e bens e a proteção dos valores paisagísticos e ambientais;

O Município de Esposende solicite à Comunidade Intermunicipal do Cávado (CIM Cávado) e ao Conselho Regional do Norte, Órgão consultivo da CCDR-N, que reconheça o interesse estratégico do rio cávado para a região bem como a urgência das intervenções solicitadas;


Esposende, 15 de novembro de 2019


O Presidente da Câmara

___________________________________
(António Benjamim da Costa Pereira, Arqtº)

Quadro-resumo das principais intervenções/projetos na Restinga e Barra do Cávado
DATA
Intervenção / Projeto
1795
D. Maria I aprova por Alvará Régio as Obras de Encanamento do Rio Cávado, a cargo do Eng. Custódio José Vilas Boas
1860
Estudos para a navegabilidade do Cávado
1884
Projecto de melhoramento do Porto e Barra de Esposende e Encanamento do Rio Cávado
1935
Projecto de reconstrução do paredão da Barra do Porto de Esposende
1942
Estado Comparativo da Situação da Barra de Esposende
1994
Dragagem da barra e alimentação de areias na restinga (105.000 m3)
1998
Dragagem da barra e alimentação de areias na restinga (300 horas)
2001
Dragagem da barra e alimentação de areias na restinga (15.000 m3)
11/2003
IPTM/Nemus – Estudo de Impacte Ambiental do Projeto de Melhoria da Barra do Cávado;
2006
ICNB – Dragagem e alimentação de areias na Restinga (112.000 m3)
2010
Projeto do IPTM para dragagem da Barra, Canal de navegação e das Docas de Recreio e de Pesca (193.000 m3) – não executado
09/2010
Constituição do Grupo Trabalho para a Restinga do Cávado
02/2011
Apresentação do relatório do Grupo de Trabalho para a Restinga do Cávado
11/2014
Seminário Internacional “Gestão da Orla Costeira”
12/2014
Apresentação do relatório do Grupo de Trabalho do Litoral
04/2015
CME – Dragagem da Doca de Pesca de Esposende
2015
Polis Litoral Norte – Empreitada de reforço da restinga através da colocação de geocilindros (150.000 m3 areia)
2016/2017
Polis Litoral Norte – Empreitada de reconstrução do molhe norte da Barra do Cávado
2018
Polis Litoral Norte – Dragagem da Barra do rio Cávado e Alimentação artificial de praias adjacentes