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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Monumento ao Bombeiro




Fotos: Município de Esposende


Possíveis linhas de leitura

Poucas pessoas serão capazes de levar a solidariedade e o altruísmo até ao limite: chegar àquele ponto, sem retorno, onde a própria vida pode acabar para dar lugar ao “eternamente morto”. O Bombeiro é o paradigma dessa espécie de seres “fronteiriços” que abrem a coragem e o arrojo solidários aos âmbitos da transcendência. Como se estivessem animados de poderes demiúrgicos, próprios de super-homens, ou de seres que sabem habitar esse espaço fronteiriço entre a vida e a morte, entre o mundo e o mistério, ou sabem fazer a mediação entre os homens e os deuses. Por isso são tão especiais, povoando os sonhos de todas as crianças, cujas memórias nelas irão perdurar até que a vida se cumpra para sempre. E porque, seja qual for a situação de perigo ou de tragédia eminentes, lá aparece aquela mão amiga estendida, uma mão aparentemente vulgar, mas capaz de segurar o mundo inteiro para que a vida possa continuar a fluir, a ser a nossa vida. Por isso, quando ouvimos a sirene, ou vemos um rosto parecido com o nosso, perdido dentro daquele enorme capacete, sentimo-nos invadidos pelo assombro e pelo fascínio, porque vai ali um ser muito especial cujo sentido de vida se funda e se esgota em poder “segurar” a vida dos outros; mesmo que a própria vida seja o último preço a pagar.
Cabe, verdadeiramente, à arte interrogar sobre a condição humana: donde viemos, o que fazemos aqui, e qual será o nosso destino final. Embora se trate de três questões apenas, as perguntas e respostas parecem não ter fim: e cada resposta acaba sempre por se transformar em nova pergunta, centrada no que parece ser um único mas irresolúvel problema: “Afinal, o que somos nós?” E, chegados à problemática do “ser” e do “haver”, nos dias que correm, quase só a filosofia e a arte é que fazem do “ser” a questão maior, enquanto o «mundo pula e avança» narcotizado pelas referências materiais, em cenários de egoísmo generalizado, ou mesmo de horror.
Oxalá o bronze e a pedra possam suscitar emoções e sentidos multidirecionais em cada observador. E, porque o capacete pode não ser apenas um capacete, ou a pedra pode não ser apenas uma base de pedra, aqui fica o desafio para que todos possam e devam fazer as «suas» próprias leituras, porque há sempre uma porta por abrir. Basta, então, que cada um se deixe levar ao sabor das suas emoções, sem influências alheias, porque o encontro com a arte será sempre um encontro pessoal, íntimo e radicalmente singular. Oxalá o bronze e a pedra possam ser símbolos de eternidade para todos aqueles que, tanto no passado, como no presente ou no futuro, deixaram ou venham a deixar marcas indeléveis e exemplos superiores de nobreza, generosidade solidária, coragem e despojamento.
O nosso profundo agradecimento ao Sr. Presidente da Câmara por continuar a acreditar que a arte pode ser o símbolo maior de um povo. Só os símbolos podem apelar à transcendência e é através deles que as construções materiais, para além de serem essenciais, podem ser enobrecidas pela presença, o mais das vezes discreta, da obra de arte. Porque a obra de arte é o complemento essencial para que a humanidade se cumpra em plenitude. Bem-haja pelo seu empenho e testemunho.
Também vai o nosso agradecimento para a Ex.ma Direção dos Bombeiros, pela ajuda na definição das ideias que assistiram à cristalização deste projeto. E, naturalmente, de um modo muito especial para todo o corpo valente e generoso dos Bombeiros. Sentimo-nos honrados pelo desafio que nos foi proposto. Agora, só o futuro é que poderá dizer se estivemos à altura do momento. Um bem-haja a todos.

Os autores

Mendanha (pai)
Vânia Mendanha
Nuno Mendanha
(texto extraído do Facebook)