Na minha infância e adolescência, passeei e desfrutei de uma amizade
especial em casa do sr. Adelino Torres e da Srª Albertina e o meu centro
de amizade era o amigo Octávio- o "Tavo"-, meu
colega de carteira na Escola Primária de Esposende que trabalhou na relojoaria
do Carvalho , na Rua Direita-atual Rua 1º de Dezembro e, neste
espaço-oficina- consumi horas imensas fazendo companhia ao
"Tavo", conversando ou jogando damas.
Um dia, a Manuela Lopes,
jovial, esculturalmente atraente e simpática, entrou na relojoaria e o
"Tavo", olhou de soslaio para mim, piscando o olho e disse-me:
Carlos, o
relógio da Manuela Lopes vai demorar muito tempo a ser concertado e sabes muito
bem porquê!...
Aos fins de semana, ia para casa do
"Tavo" brincar tendo como companhia a Tina, sempre
simpática, disponível e divertida e quando ia à Mercearia do Abílio Coutinho,
meu tio, a Tina era atendida logo por mim, ultrapassando
outros fregueses porque nutria uma amizade especial por ela e pela família.
A Tina jogava cartas,
contava histórias, fazia-nos rir, fazia compras, cozinhava, era a mulher
da casa, embora adolescente e daí a consolidação da nossa amizade porque
era uma menina boa, humana e solidária.
Lá em casa, na Rua de S. João, a Tina andava
às escondidas comigo, com o Adriano, Manel e o Tavo. O Fernando e o
Adelino Torres, seus irmãos mais velhos," navegavam noutras águas
"porque a Ribeira chamava-os para a futebolada ou nos mergulhos nas
escadinhas, atacando os tremoços da Amália e da "Tiana"....
Crescemos, com o andar do
"relógio do tempo, e, cada um de nós, foi para o seu destino da vida
e a Tina emigrou para França onde constituiu família e
passados uns anos, regressou definitivamente a Esposende.
Quando nos cruzávamos na marginal de Esposende, parava e
cumprimentava a Tina que seguia o seu caminho, geralmente na
companhia da mana Ção.
Um dia, junto à Igreja Matriz, deparei-me com a Tina e
pedi-lhe um favor...
Tina arranja-me uma fotografia do
"Tavo", meu grande amigo de Escola!..
Pedido feito e missão cumprida: a Tina arranjou-me
mesmo a fotografia do Tavo e guardo-a religiosamente e
"saborosamente" no meu álbum, dos inúmeros que possuo.
No dia oito de dezembro do corrente ano, junto ao
"Salva-Vidas" o Noé e o Américo Miquelino comunicaram-se que a Tina
tinha falecido!
Não queria acreditar! Seria possível a Tininha deixar-nos?
Lancei um olhar longínquo para o
horizonte, por uns fugidios segundos, horizonte rasgado por inúmeras
gaivotas e um solitário corvo-marinho, ave esbelta no seu voar e funesta na cor
e parei no tempo!...
O Tone Fifas olhou para mim e disse-me:
Carlos, estás a dormir?
O José Carlos Varandas, encostadinho, ao granito frio, da
parede do Salva-vidas, olhava para mim, com ar de preocupação
e convidou-me para regressarmos às nossas casas porque o ar gélido
atormentava-nos. Tinha compreendido o meu sentimento de tristeza...
Despertei, olhei para o "Monte de
S. Lourenço" e serenei:
Tina, despeço-me com
profunda tristeza e nostálgica saudade mas, para mim, estás aqui vivinha no meu
coração....
Carlos M. Lima
Barros.
8 de dezembro de
2015