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sábado, 5 de abril de 2014

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

“A falsa goleada….”

 Em plena ribeira, num sábado solarengo, o Pezinho e o Geno depois de tirarem o pilado das redes no paredão, transportaram-no em gigas, para frente do Salva-vidas, para a secagem porque já estava vendido a uns lavradores de Palmeira do Faro, e com a tarefa finalizada, combinaram ir a Vila Chã, para assistirem ao Vila Chã-Esposende  para o Torneio Popular inter-freguesias.
  O Marrucho, velho amigo, com as suas sobrancelhas peludas e umas suíças a chegarem aos cantos da boca, tinha convidado estes velhos amigos para o referido jogo e prometeu-lhes umas malguinhas no bar, caso o Vila Chã ganhasse. E o Marrucho ainda foi mais longe: prometeu aos manos “Vilas Boas” uma malga por cada golo que o Vila Chã marcasse ao Esposende! 
 Os dois irmãos lá foram a pé até ao alto de Vila Chã, em direção ao campo do futebol para apoiarem o Esposende-E.S.C.  que, nessa altura estava, a participar no referido torneio popular, no qual  participavam várias freguesias do concelho: Apúlia, Góios, Marinhas, S. P. Antas, Palmeira de Faro…
  Por Esposende reinava a calmaria e a ribeira estava deserta, sem crianças, porque o domingo era para passear, ir à missa e à catequese e os sapatinhos novos, quem os tinha, não  eram para jogar à bola, para não se estragarem.
  Pelas treze horas, depois de um almoço apressado, os dois irmãos puseram-se a caminho de Vila Chã,  galgando a subida de S. Lourenço, num passo ritmado e acelerado porque a secura já estava a apertar a “goela”…
 Quando chegaram ao campo pelado do Vila Chã, lá estava o Marrucho à espera dos convidados que apareceram a suar por todos os poros da pele e valeu-lhes a boina preta do Pezinho para limpar o rosto  destes dois caminhantes.
  Vamos, para começar, beber uma malguinha ao bar, disse o Marrucho ao Pezinho e ao Geno porque com este calor, morremos  de secura…
   No balcão de madeira, decorado com casca de pinheiro e cheirando a resina, duas malgas deslizaram em direcção aos três amigos e num ápice, o vinho evaporou-se…
    Chegada a hora do jogo, o Pezinho, sempre estratega, propôs uma aposta ao Marrucho.
    Marrucho, vamos fazer uma aposta?
    Diz lá Pezinho qual é essa aposta, questionou o Marrucho com a sua  grossa e “arrastada”  voz!
    O Pezinho olhou para o Geno, coçou a cabeça e adiantou:
- Por cada golo que o Vila Chã marcar, pagarás uma tigela de vinho, aceitas ou não Marrucho, perguntou o Pezinho ao seu velho amigo.
  O Geno, no canto, do Bar, coçava o nariz e piscava o olho ao irmão porque antevia uma aposta, quase ganha…
  O Marrucho olhou desconfiado para o Pezinho e sem hesitação respondeu-lhe:
-Nem é tarde, nem é cedo, aceito a proposta…
  O jogo tinha começado e gritou-se golo!
  Golo de quem, perguntou o Marrucho!
  É do Vila Chã.!
O Marrucho  todo contente mandou vir uma rodada para a mesa que logo desapareceu…
Mais um golo! Mais outro golo! Um outro ainda!
São golos do Vila Chã, gritava o Geno que ia espreitando para o campo quando se gritava golo.
 Na realidade, foram marcados oito golos, mas os sete foram do Esposende e um do Vila Chã…
O Marrucho depois de pagar as sete rodadas do saboroso e carrascão vinho tinto, saltava de contente pela “vitória” do Vila Chã por sete a um, mal ele sabia que o resultado tinha sido ao contrário! O astuto e cúmplice  Geno, para conquistar as malguinhas, falseava o resultado !
 O Marrucho, já à saída do campo saltava de contentamento e de incontida alegria pela “vitória” do Vila Chã, um resultado histórico conseguido pela sua equipa perante o poderoso Esposende Sport Clube, filiado na Associação de F. de Braga.
 O Juca que observava a alegria do Marrucho, abeirou-se dele e perguntou-lhe:
- Porque estás tão contente Marrucho?
É que o nosso Vila Chã ganhou e logo por sete a um!...
O Juca surpreendido, chamou pelo Marrucho e disse-lhe, em voz alta:
O Vila Chã perdeu, mas foi por sete a um!
O que estás a dizer Juca!
  É verdade, eu vi o jogo acrescentou o Juca.
Claro, que sofremos uma grande “capilada” e podiam ser por muitos mais…
 Bandidos,  o Pezinho e o Geno enganaram-me e beberam sete rodadas de vinho à “minha conta”,  lamentou o Marrucho, com um ar furioso e ameaçador.
 Os dois irmãos já se tinha despedido rapidamente do Marrucho, antes que este descobrisse a “marosca”, e já “encharcadinhos”, desceram o S. Lourenço em marcha vertiginosa em direcção a Esposende e mal chegaram à Vila foram sentar-se no Largo dos Peixinhos, sobre as frondosas árvores para curtir a “piela”.
O Geraldo, o “De Gaulle” que estava  patrulhar  o Largo dos Peixinhos, abeirou-se dos manos e perguntou-lhes porque estavam tão vermelhinhos…
 Geraldo faz-nos um favor?
Claro que faço, se me derem duas croas para uma malguinha na Nazaré, faço o que vocês quiserem, respondeu prontamente o Geraldo,  vestido a rigor com o seu boné de “almirante”…
 Olha, se o Marrucho aparecer por cá, avisa-nos?
O Geraldo olhou de soslaio para estes seus dois amigos, coçou o pescoço e desconfiou que cheirava a esturro…
O Geno pôs a mão ao bolso do seu casaco de xadrez e deu, com muito custo, as duas croas ao Geraldo, que tinha ganho na venda de uma dose de isca a um turista de Barcelos, pescador desportivo, cliente assíduo na lontra, junto à foz do Cávado.
 Nessa tarde, o corpulento Geraldo patrulhou toda a zona limítrofe do Largo dos Peixinhos e felizmente, para os irmãos Vilas Boas, o Marrucho talvez já muito “entornado”, não apareceu na vila.
Pela noitinha, o Pezinho e o Geno, levantaram-se dos bancos ripados do Jardim, já recuperados da longa soneca,  dirigiram-se para as suas casas, no Bairro de S. Vicente Paulo, para comerem o caldinho e um naco de broa com umas fanecas fritas.
Pelo caminho de regresso a casa, o Geno disse ao seu irmão Pezinho que aquelas sete malguinhas, já “cá cantavam” mas que tão cedo não iria a Vila Chã….

 O Pezinho, olhou para o mano Geno e deu-lhe um abraço pela “vitória” conseguida, concluindo que tinha dado a “volta” ao espevitado Marrucho e ir a Vila Chã, tão cedo, nem pensar…

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