ESPOSENDE E O SEU CONCELHO


domingo, 19 de outubro de 2014

ESPOSENDE E AS SUAS VELHAS GUARDAS

  
Pelo Esposende Sport Clube-E.S.C. passaram inúmeros jogadores que envergaram as  camisolas do Clube, com empenho, luta e muito amor à camisola e muitos deles eram pescadores e no mar, dias dos jogos, pensavam mais no jogo em que iriam participar, que propriamente  na pesca- Passos,  Tião Saganito, entre outros-
  O Aníbal Mó foi uma "jóia da coroa" do ESC, como guarda-redes de imensos recursos e potencialidades, chegando a  disputar a baliza com o Delfim- Zé Pacóvio- e Quim Tripas, "o elástico". Chegou a treinar  no F. C. Porto, sendo aconselhado a assinar contrato mas,  tal não foi possível porque os tempos eram outros...
 (segue o texto)

Aníbal Mó-Antiga glória do E.S.C.

José Aníbal Loureiro Gonçalves Mó nasceu a 19-06-1948 e foi um excelente guarda-redes do ESC, começando a sua carreira futebolística nos juvenis do ESC e espraiou nos campos pelados, já que os relvados eram raros, toda a sua categoria como  “Keeper”.
Guarda-redes com excelente colocação dentro dos postes e era ágil como uma “raposa” a defender bolas chutadas “à queima roupa”, e tinha enormes reflexos, defendendo bolas  dificilmente defensáveis para outros guarda-redes.
Representou uma época o Apúlia e o Fão, neste clube já como agente  da Guarda –Fiscal,  durante uns escassos meses, mas com seguro, uma das suas exigências, quando a equipa fangueira, lutava para não descer de divisão e o Anibal Mó, Tonho e João Muchacho foram os reforços vindos do ESC que “salvaram” o Fão de uma despromoção iminente. No Apúlia jogou com o defesa central Pinho e com o Julinho e a direção Apuliense, na altura, pagava bons prémios. No Fão também jogou com o Né e o irmão  Bernardino, excelentes avançados, esquerdinos natos.
O Mó, deixou de jogar aos 28 anos mas,  prolongou a sua carreira no futebol de cinco no Fluvial  Vianense, em 1969, e cessou de jogar aos 41 anos, chegando a ser campeão Nacional nesta modalidade de futebol de salão. Nessas equipa jogava o Fernando Inheco e o Leonel Laguna. Para ver os jogos a Viana do Castelo, chegavam a ir dois e três autocarros do Linhares para ver jogar estes excelentes jogadores esposendenses  no Fluvial Vianense.
Num Apúlia-Esposende, que terminou com um empate de 2-2, o Anibal fez uma exibição portentosa e em Esposende foi muito criticado pelos esposendenses, sem razão que o justificasse, já que ele representava o Apúlia, o que não era bem aceite pelas gentes de Esposende…. Outros tempos….
Recorda-se de um Esposende-Fafe, esta equipa era extremamente forte e competitiva e tinha grandes jogadores (Portugal, Valença…) e o Aníbal fez a exibição da sua “vida” e o ESC ganhou, contra todas as expectativas por 1-0, sendo a única derrota sofrida pelo  Fafe,  com um golo do avançado Bino, de Vila Chã, irmão do Américo, defesa central que também representou o Esposende.
Nesse jogo, o Anibal saiu lesionado e foi substituído pelo Quim Tripas que conservou as suas redes incólumes mediante uma portentosa exibição. Ao Quim Tripas chamavam-lhe o “homem elástico” devido à sua “elasticidade física”, com “saltos mortais” e voos espectaculares na defesa na sua baliza.
O seu colega de equipa, Fernando Inheco, grande amigo, chegou a ir treinar ao Boavista, acompanhado do primo Leonel Laguna mas, a transferência não se concretizou. O Mó foi treinar ao Varzim e esteve iminente a sua  transferência contudo como pertencia ao Salva-Vidas, para evitar o serviço militar, teve que permanecer em Esposende. O Comandante do Delegação Marítima Tavares, controlava, sem piedade, os movimentos destes jovens esposendenses e chegava a mandar tocar a sineta do Salva-Vidas  para  “fazer a chamada” , o que revoltava o patrão do salva-vidas o “velho Laguna”.
O Mó foi treinar ao FC Porto, treinado por Artur Baeta e nos treinos comprovou a sua classe e só não foi transferido porque o seu pai, que era pescador, não o permitiu uma vez que o Aníbal era um dos sustentos da casa, como trabalhador dos serviços Municipalizados de Esposende e mesmo como pescador desportivo, cujo rendimento da pesca ao robalo, chegava  aos 120$00 diários e o seu pai, nesse tempo na motora, apurava, muitas vezes, 60$00 semanais. Eram treze pessoas em casa a sustentar e o Aníbal era o mais velho dos seus nove irmãos o que lhe trazia acrescidas responsabilidades no seio da sua família.
 O Varzim, treinado por Meirim, mandava olheiros aos jogos ver o Mó jogar e o senhor Porfírio, um exemplo de dedicação ao ESC, ao aperceber-se disso, nunca deixava o Aníbal Mó jogar, que se fazia de doente, para não sair do ESC. O Mó apreciava as qualidades do Manel Correia, irmão do Fernando Inheco, que passou ao lado de uma grande carreira de futebolista, sendo conhecido pelo alcunha de “Pé de Leque” e o Tio Laguna gostava muito deste jogador e augurava-lhe  um futuro risonho.
 O Anibal teve vários colegas, como guarda.-redes: - Avelino, Delfim (O Pacóvio), Graça, que jogou no Sporting Clube de Portugal e Setúbal, e o “elástico” Quim Tripas”, que reside actualmente, na Senhora-da-Hora/Matosinhos, e foi treinado por inúmeros  treinadores: Tio Laguna, Graça, Samuel, Romeu, Amâncio…
Esta “glória” do ESC foi colega de equipa de inúmeros jogadores, a maioria deles, naturais do concelho de Espodende: Tião Saganito, Carvalho, Passos, Pilar, Sotero, João Vilarinho, A. Pinto, Leonel Laguna, Fernando “Inheco”, Américo de Vila Chã, Bino,  Muchacho, Tonho, Basilio, Lázaro  e tantos outros.
O Aníbal não estava motivado para jogar no Gil Vicente, onde era muito apreciado e solicitado para jogar na equipa de Barcelos porque temia ter uma vida “desviada”, como teve o jogador Russo de Fão,  jogador esquerdino que não foi afortunado, na sua carreira de jogador.
Um dos seus últimos jogos, foi em Moura, em 1974, onde Esposende foi jogar para a Taça de Portugal, sendo eliminado.
O Aníbal aposentou-se, após longos anos de exercício como agente da guarda-fiscal e estabeleceu-se com um restaurante onde ainda se come e bebe-se bem e, atualmente, leva uma vida pacata, no seio da sua família, deleitando-se a pescar e a ver o seu rio Cávado e o seu Mar, na barra de Esposende, onde o “pesquei”, no dia 4 de dezembro, observando o oceano Atlântico, ao lado da sua pasteleira-bicicleta- e daí surgiu este trabalho escrito que amavelmente e com extrema simpatia, me atendeu.
Foi um diálogo muito informal, amistoso numa aventura ao passado onde o futebol foi o tema dominante, como não poderia deixar de ser…
                                     Carlos Manuel de Lima Barros
Esposende, 4 de dezembro de 2013